a 13 de maio na Cova da Iria…
Arquivo mensal: Abril 2017
Jovens
Daniel Sampaio, entrevista de Joana Pereira Bastos, Expresso Diário 10.abril.2017
Os estragos causados pelos jovens portugueses num Hotel em Torremolinos refletem uma crise de valores em casa e na escola ou são apenas o resultado previsível de uma viagem que junta no mesmo espaço 1000 adolescentes, com muito álcool à mistura?
As regras não foram bem definidas à partida e o resultado era completamente previsível. Quando se junta um grande número de jovens, o regime nunca deveria ser de bar aberto, porque isso evidentemente leva a um consumo exagerado de álcool. Isto são fenómenos de grupo que vêm acontecendo há muitos anos, em vários sítios.
Todos os anos há relatos de problemas neste tipo de viagens. Faz sentido continuar a promover estes programas?
Não podemos impedir que os jovens se organizem para ir, até porque muitos deles já são maiores de idade. Mas pelo menos as viagens que envolvem jovens abaixo dos 18 anos devem ter algumas limitações em termos de organização. Deve-se limitar o consumo de álcool e ter regras muito bem definidas sobre o que podem ou não fazer. Essas regras não podem ser só programadas pelo agente de viagens e pelo hotel. Têm de ser discutidas com os próprios adolescentes, no dia da chegada. Os proprietários dos hotéis devem reunir-se com eles e definir as horas em que podem consumir álcool, o que é que se pode passar nos quartos, tanto quanto é possível prever, etc. Estabelecer este tipo de regras não vai fazer ultrapassar em definitivo os problemas, mas pode minorar, tanto quanto possível, as consequências desta situação.
O que é que os pais destes jovens lhes devem dizer?
É evidente que estes comportamentos devem ser fortemente censurados. Não há qualquer justificação, mesmo sob o efeito do álcool, para que os jovens tenham danificado o material e causado estragos no hotel. Se os pais tiverem autoridade para os castigar, é bom que o façam. O problema é que, muito provavelmente, os pais de quase todos eles não têm autoridade porque não a conquistaram durante a adolescência, o que faz com que agora tenham muito pouca margem de manobra para poderem impor um castigo. Nós assistimos claramente a um défice de autoridade dos pais. Há uma cultura de lazer e de diversão ao máximo por parte dos adolescentes e os pais têm muita dificuldade de impor limites.
Daquilo que tem visto, acha que tem havido uma certa desculpabilização destes jovens por parte dos pais?
Completamente e isso faz-me imensa confusão. Tem havido uma desresponsabilização dos jovens, atribuindo-se culpas ao hotel ou ao agente de viagens, o que é completamente errado do ponto de vista educativo. Primeiro os pais e depois a sociedade devem responsabilizar os adolescentes pelos seus atos em Torremolinos.
Se fosse pai de um destes adolescentes e o seu filho chegasse a casa a dizer que não tinha feito nada, que tinham sido outros a fazer, o que lhe diria?
Eu nunca aceito esse tipo de argumentação. Num grupo todos somos responsáveis. É evidente que há sempre forças positivas e forças negativas. Nós temos que apelar para as forças positivas, mas devemos censurar o comportamento do grupo. Eu penso que não se deve sequer procurar ver quem foi o mais ativo e quem é que bebeu mais. É preciso é ver o que é que se passou com as forças positivas, que não conseguiram controlar o processo.
Que tipo de castigos acha que se deveriam aplicar?
O castigo só se pode aplicar se os pais o conseguirem levar a cabo. É muito importante passar essa mensagem porque há muitos castigos que os pais enunciam mas que depois não conseguem fazer cumprir, o que ainda é pior. Para mim, fazia todo o sentido que no próximo fim de semana estes jovens tivessem de ficar em casa e não pudessem sair à noite. O problema é que em muitas famílias com que eu lido todos os dias esses castigos são enunciados e depois o adolescente abre a porta e vai-se embora e volta às horas que quiser, porque a família perdeu autoridade sobre o adolescente. Os jovens hoje em dia têm muito poucos limites; desde que tenham boas notas os pais deixam fazer tudo.
Mas faz parte da adolescência uma certa transgressão e um quebrar de regras. Onde se deve traçar a fronteira?
Claro que faz parte, mas com limites. As fronteiras têm a ver com a liberdade dos outros. É perfeitamente admissível que possam fazer algum barulho, que possam beber um pouco a mais ou ter uma aventura sexual. Tudo isso está perfeitamente dentro do que é habitual nos grupos juvenis. Mas obviamente não pode ser permitido que destruam material e que façam roubos, como por vezes fazem.
Dantes as viagens de finalistas ocorriam no final da faculdade, depois passaram a realizar-se também no final do ensino secundário e agora até já se organizam no 4º ano. Faz sentido?
Para jovens tão novos acho que não. Para mim pode fazer algum sentido na adolescência, a partir dos 15 anos, no 9º ano, quando se muda de escola. Mas já se organizam também no 4º e no 6º ano de escolaridade, o que não faz sentido. É um excessivo protagonismo da liberdade juvenil, que acho que não é bom.
Jovens
Jovens
pe. Duarte da Cunha, Secretário-Geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa
O acompanhamento dos jovens foi o tema do Simpósio organizado pelo CCEE – Conselho das Conferências Episcopais da Europa –, em Barcelona, de 28 a 31 de Março, onde estiveram presentes responsáveis da pastoral juvenil de 37 países. Apesar de estar previsto desde há dois anos e de ter envolvido muita gente na sua preparação, o facto de o Papa em Outubro ter anunciado para 2018 um Sínodo dos bispos sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional, tornou este Simpósio particularmente interessante. Podemos dizer que se tornou uma etapa de preparação para o Sínodo. Uma etapa europeia, mas que irá dinamizar, certamente, outros continentes e irá reforçar o que já se está a fazer em cada país em vista do Sínodo.
Preparar um Sínodo quer dizer tomar consciência dos desafios que a Igreja está a enfrentar a propósito do tema escolhido e que é considerado como uma prioridade para a vida da Igreja. Neste caso os jovens. Com o Simpósio o debate começou. Partilho três aspectos deste debate que deverão ser ainda desenvolvidos:
1. Parece-me ultrapassada a ideia de se sectorizar muito a vida pastoral – como se os jovens fossem um sector estanque ao lado de outros como a família, a cultura, a liturgia, etc.. Cada vez é mais claro que na vida pastoral tudo tem a ver com tudo. Como numa família. Pode haver questões dos filhos, ou dos pais, ou de saúde ou de trabalho, mas todos os temas interessam a cada um dos membros da família. Assim, na Igreja, será bom olhar para os jovens tendo presente todos os laços que existem na vida, ligando, portanto, por exemplo, a pastoral juvenil à pastoral familiar.
2. No Simpósio o tema da vocação, tal como é previsto que se venha a falar no Sínodo de 2018, apareceu muito ligado à pastoral juvenil. Duas são as ideias fortes a este propósito. Primeiro que quem acompanha um jovem – seja uma pessoa seja um grupo ou uma comunidade – tem como missão ajudá-lo a descobrir os sinais do que Deus o chama a ser na Igreja e no mundo, e ajudar a não ter medo de abraçar essa vocação (sacerdócio, vida consagrada, casamento, consagração laical…); segunda ideia forte é que toda a vida cristã, desde o baptismo, tem uma dinâmica vocacional. Ter fé é ter encontrado Jesus Cristo. E, por isso, crescer na fé é seguir os apelos de Jesus que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Uma boa pastoral conduz a pessoa a discernir continuamente a vontade de Deus, e procurar pô-la em prática. Como fazer? Que tipo de vida cristã propor e que tipo de pastoral para que seja possível educar nesta dinâmica vocacional os jovens? É preciso formar bem a consciência do jovem. Isso implica ensinar a doutrina, mas também mostrar através de exemplos evidentes que o que Deus pede é sempre o caminho para a verdadeira felicidade. A pastoral, por isso, deve levar cada um a sentir-se responsável e feliz por descobrir a sua missão. A resposta aos apelos de Deus deve ser dada por cada um. Mas como se faz para acompanhar um jovem a fim de que a sua resposta seja decidida e livre, mas também seja justa e fecunda?
3. Um terceiro ponto, que dará origem a intensos debates, tem a ver com o encontro entre a fé e a cultura actual. Podemos, e devemos, sem dúvida, ver tantas coisas boas a acontecer. Saber valorizar é próprio dos cristãos. Mas também é próprio de quem tem fé saber distinguir o bem do mal. Alguns aspectos da nossa cultura, como o secularismo – que afasta Deus da vida – ou o individualismo – que divide a pessoa dos outros e a coloca sozinha a ter de enfrentar a vida, sem critérios morais objectivos – são desafios que os cristãos devem enfrentar e batalhas que devem travar. A vida cristã nunca se pode conformar com uma cultura adversa. Para se desenvolver uma boa pastoral neste contexto, julgo ser necessário investir tempo e energia quer na vida de oração quer na vida de comunidade. Estes dois aspectos devem estar presentes como método e como objectivos para enfrentar o secularismo e o individualismo.
Eis algumas ideias. Há muito mais a pensar, e sobretudo a descobrir a partir do que Deus já está a fazer em tantas óptimas experiências de pastoral juvenil, para que a Igreja continue a acompanhar os jovens e o Sínodo se torne um momento de anúncio de esperança.
JMJ
MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA A XXXII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE 2017
Domingo de Ramos, 9 de abril de 2017
«O Todo-poderoso fez em Mim maravilhas» Lc 1, 49
Eis-nos de novo em caminho, depois do nosso encontro maravilhoso em Cracóvia, onde celebramos juntos a XXXI Jornada Mundial da Juventude e o Jubileu dos Jovens, no contexto do Ano Santo da Misericórdia. Deixamo-nos guiar por São João Paulo II e Santa Faustina Kowalska, apóstolos da misericórdia divina, para dar uma resposta concreta aos desafios do nosso tempo. Vivemos uma intensa experiência de fraternidade e alegria, e demos ao mundo um sinal de esperança; as bandeiras e as línguas diferentes não eram motivo de discórdia e divisão, mas ocasião para abrir as portas dos corações, para construir pontes.
No final da JMJ de Cracóvia, indiquei o próximo destino da nossa peregrinação que, com a ajuda de Deus, nos levará ao Panamá em 2019. Neste caminho, acompanhar-nos-á a Virgem Maria, Aquela que todas as gerações chamam bem-aventurada (cf. Lc 1, 48). O novo trecho do nosso itinerário liga-se ao anterior, que estava centrado nas Bem-aventuranças, mas impele-nos a avançar. Na realidade, tenho a peito que vós, jovens, possais caminhar, não só fazendo memória do passado, mas tendo também coragem no presente e esperança no futuro. Estas atitudes, sempre vivas na jovem Mulher de Nazaré, aparecem claramente expressas nos temas escolhidos para as próximas três JMJ. Neste ano (2017), refletiremos sobre a fé de Maria, quando disse no Magnificat: «O Todo-poderoso fez em Mim maravilhas» (Lc 1, 49). O tema do próximo ano (2018) – «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus» (Lc 1, 30) – far-nos-á meditar sobre a caridade, cheia de coragem, com que a Virgem acolheu o anúncio do anjo. A JMJ de 2019 inspirar-se-á nas palavras «Eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38), a resposta de Maria ao anjo, cheia de esperança.
Em outubro de 2018, a Igreja celebrará o Sínodo dos Bispos sobre o tema: Os jovens, a fé e o discernimento vocacional. Interrogar-nos-emos sobre o modo como vós, jovens, viveis a experiência da fé no meio dos desafios do nosso tempo. E abordaremos também a questão das possibilidades que tendes de maturar um projeto de vida, discernindo a vossa vocação – entendida em toda a sua amplitude de destinação – ao matrimónio, no âmbito laical e profissional, ou então à vida consagrada e ao sacerdócio. Desejo que haja uma grande sintonia entre o percurso para a JMJ do Panamá e o caminho sinodal. Continuar a ler JMJ