Arquivo mensal: Abril 2023

Falar para CRER – 2.º Encontro

O segundo encontro “Falar para CRER”, organizado pela paróquia da Matriz em colaboração com a Comunidade Estrada Clara, aconteceu no dia 8 de março. O tema abordado foi a Eucaristia enquanto sacramento da caridade. Como habitualmente é feito na dinâmica destes encontros, partiu-se da leitura de algumas catequeses do Papa Francisco a propósito da Eucaristia. Em seguida, em pequenos grupos, os participantes do encontro foram convidados a refletir acerca dos motivos pelos quais participamos na Eucaristia dominical, acerca do modo como cada um de nós se sente participante dessa mesma Eucaristia e como poderemos nós comunicar, com a nossa vida, o Amor que celebramos em comunidade em cada Eucaristia. Por fim, em grande grupo, todos partilharam as suas reflexões. Na semana seguinte, seguiu-se um “workshop” de três dias, orientado pelo Padre Avelino Castro, onde foi possível compreender, passando da teoria à prática, o significado litúrgico e pastoral da Eucaristia, o seu impacto na vida cristã e o que simboliza enquanto momento comunitário.


Os encontros “Falar para CRER” têm como objetivo ser um espaço de partilha e de reflexão acerca da vida comunitária. Partindo das vivências de cada cristão, é fundamental refletir acerca da atualidade da mensagem cristã e pensá-la na vida concreta do dia-a-dia, fazendo-a acontecer em atitudes, em ações, em projetos. E em comunidade, em partilha, as ideias fluem de um modo mais construtivo e comum e vamos crescendo em conjunto, alicerçados numa fé trabalhada, adulta, esclarecida e, assim, mais próxima de um Deus que nos quer pessoas inteiras e sempre Ressuscitadas! O próximo encontro “Falar para CRER” acontecerá já esta 4.ª feira, dia 26 de abril. Na véspera de entramos no mês mariano por excelência, refletiremos acerca do papel de Maria enquanto Mãe desta Igreja à qual todos pertencemos. Este encontro está aberto a todos os agentes da Pastoral (Catequistas, Jovens, Conselho Pastoral Paroquial, Leitores, Grupos Corais, Confrarias) das comunidades paroquiais. Contamos com todos!

3.º Encontro “Falar para CRER” – 26 de abril de 2023 (4.ª feira), das 21h às 22h30, no Salão Paroquial da Matriz (Póvoa de Varzim)

O Filho de Deus é um verbo

O Filho de Deus é um verbo – ressuscitar. É Ele quem me faz acreditar que todos os meus dias podem ser manhã de Páscoa, uma oportunidade para ver de novo a vida em movimento. É Ele quem me diz que é sempre possível viver mais plenamente, mais completamente e que novas podem ser todas as nossas decisões que conduzem à Eternidade.

O Filho de Deus é um verbo – olhar. É Ele quem me mostra que há um caminho meu que é a minha escolha, a minha construção. É Ele quem me faz olhar a vida com amor, com alegria, com serenidade.

O Filho de Deus é um verbo – levantar. É Ele quem me ergue depois de cada queda, que me levanta quando o chão me chama, quem me impede de ser menos. É com Ele que eu sigo viagem e vou em caminho.

O Filho de Deus é um verbo – agradecer. É Ele quem me faz compreender o presente que é o presente de cada dia. É Ele quem faz ser grata pelos passos que me vão trazendo até ao meu hoje.

O Filho de Deus é um verbo – abraçar. É Ele quem me diz que, no abraço que dou, ofereço acolhimento, casa, empatia. Crio espaço para o amor poder ser salvação. Amplio os meus sentidos, ergo novas visões, curo tantas feridas.

O Filho de Deus é um verbo – agir. É Ele quem me leva a derrotar a apatia, a indiferença, o egoísmo e faz ir ao encontro dos meus irmãos e sempre a caminho da Terra Prometida, essa doce Páscoa eterna.

O Filho de Deus é um verbo – acreditar. É Ele quem me traz a luz que ilumina as minhas interrogações. É Ele quem me faz crer numa Páscoa eterna, aquela onde a palavra amor não tem mais fim.

O Filho de Deus é um verbo – viver. Porque hoje, vencendo a morte, Ele mostra-me que para sempre vive e que a vida é sempre mais poderosa, eterna e universal.

O Filho de Deus ressuscitou! Por mim, por ti, por nós. É hora de fazer da história da Ressurreição a nossa própria história de vida. É hora de nos levantarmos da inércia para anunciarmos ao mundo que o nosso Deus para sempre vive. É hora de agradecer o privilégio de podermos viver este acontecimento nos nossos dias. É hora de abraçar a vida que hoje começa, a disponibilidade de futuro que hoje nos é oferecida. É hora de acreditar que jamais o medo, a desesperança ou a morte terão a última palavra. Porque Ele vive. Porque Ele está vivo. O Filho de Deus. O Verbo das nossas ações. O Verbo que veio para nós para sermos nós filhos de um Deus sempre vivo. Aleluia! Ele está vivo.

Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara, Páscoa 2023

Reflexão para o mês de abril de 2023

Quero é viver!

Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara

Nós sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos. Quem não ama, permanece na morte.” (da 1.ª Carta de João – 1 Jo 3, 14)

As cartas de João são textos belíssimos que exaltam a identidade do ser humano enquanto filho de Deus. João aborda, em muitos destes seus escritos, o tema do amor ao próximo, anunciando a ideia de um Amor que nos torna divinos e nos salva da morte. Para João, o amor fraterno está no centro da oposição entre vida e morte. João parte da lei do Amor, proclamada por Jesus, e que é a maior loucura por Ele anunciada. Amar os inimigos, perdoar quem nos fez mal, dar uma nova oportunidade, vencer a morte com a vida. Tudo isto foi, na altura, – e ainda hoje o é! – visto como loucura, incompreensão. Traz dúvidas e incertezas. Muitas perguntas. E sempre muito espanto. Mas, sobretudo, traz consigo a chave da identidade cristã.

Só em Deus é possível aceder a esta compreensão de Amor maior. Só assumindo este amor ao jeito de Deus é possível ver e viver de um modo diferente, louco aos olhos do mundo, mas verdadeiro no coração da Eternidade. Enquanto não optarmos por viver esta dimensão divina, muito do que nos acontece permanecerá inaceitável, inatingível. É fundamental olharmos a vida, o mundo, os outros com os olhos de Deus para podermos passar a viver de um modo mais completo, mais íntegro, mais dimensional. Mais perto de Deus. Em Deus. Só assim avançaremos para a outra margem. Só assim subiremos à montanha. Só assim caminharemos pelas águas. Só assim passaremos da morte para a vida.

O Amor de Deus vai além do que nos é pedido. É feito sem cálculos, sem algoritmos, sem contratos. Sem dúvidas, sem trocas, sem imposições. É um Amor que acolhe, aceita, espera, acredita. Não é oportunista, mas oferece oportunidades; não impõe condições, mas é sempre incondicional; não é desconfiado, mas só vive da e na confiança. O Amor de Deus ultrapassa a simples esfera sentimental, romântica. O Amor de Deus é concreto, deriva em ação, é universal. Por isso, quando amamos verdadeira e genuinamente, estamos unidos a Deus e somos seus instrumentos. E nunca poderemos dizer que somos cristãos se não praticarmos (ou, pelo menos, tentarmos praticar!) este Amor fraterno.

O Amor cura-nos. Salva-nos. Liberta-nos. Afasta-nos do mal. Eleva-nos. Faz-nos sair do que é limitado, rasteiro, mortal. É no Amor que curamos as feridas abertas pela vida que nos acontece. É no Amor que somos salvos dos nossos abismos. É no Amor que recebemos a eternidade daquilo que seremos. É no Amor que compreendemos que a vida é sempre poderosa, sempre mais, sempre vencedora. E é no Amor que, tal como cantava Camões, nos vamos da “lei da morte libertando”.

Sabemos que somos mais quando amamos. Sabemos que crescemos mais quando ampliamos o espaço da nossa tenda para acolher aquele irmão que precisa de um abraço amigo. Sabemos que somos mais felizes quando retiramos de nós o peso do mal, da ofensa, da ingratidão. Sabemos que para sempre viveremos quando escolhemos amar. Jesus escolheu amar até ao fim. Escolheu morrer para nos mostrar que está connosco nos nossos sofrimentos, nas nossas dores, nos nossos abismos. Está ao nosso lado e diz-nos que com Ele, um dia, estaremos plenamente na manhã eterna da vida sem fim. A grande força do Cristianismo é esta aparente fraqueza humana, ou seja, a de escolher o Amor, a opção pela disponibilidade para amar, esta vontade de amar até ao fim.

Aceitar esta essencialidade do Amor de Deus implica escolher abrir-me a Deus e às possibilidades que Ele me oferece. Pede-me que, muitas vezes, assuma uma boa dose de loucura em relação àquilo que o mundo e a sociedade esperam de mim. Faz com que, tantas vezes, tenha de ir por outro caminho, aquele que só quem vive em Deus e por Deus conhece bem. Esta loucura de ser cristão está prevista naquela que Santo Agostinho considerou ser a página das páginas do Evangelho – as Bem-aventuranças, o programa, por excelência, da existência cristã. Jesus revela-nos que viver à moda de Deus é incompatível com a lógica dos vencedores e vencidos que o mundo nos oferece. Numa sociedade marcadamente baseada no egoísmo, nos interesses individuais, todos aqueles que vivem ao estilo de Jesus são incompreendidos. Se o mundo vive em função do poder e da ostentação, do lucro e dos juros, quem mostra que a vida pode ser vivida no dom e no serviço aos outros torna-se uma voz incómoda para o desenvolvimento do sistema capitalista.

Por isso, permanecemos na morte quando escolhemos a via do facilitismo, quando vivemos para o que é terreno, quando nos comprometemos com o que é finito. Permanecemos na morte quando não somos como aquele Pai misericordioso que prepara a festa para o filho que ele jugava perdido. Permanecemos na morte quando não somos como Zaqueu que tudo mudou em si para hospedar Jesus no seu coração. Permanecemos na morte quando não somos como aquele samaritano que tratou das feridas de quem tanto sofreu. Permanecemos na morte quando não somos como aquele bom Pastor que não descansou enquanto não encontrou a sua ovelha.

Vivemos por estes dias o final da Quaresma e o início do tempo Pascal. A morte e a ressurreição de Jesus trazem-nos uma mensagem clara: a vida eterna não é uma condição a que acedemos quando morrermos. Pelo contrário, a vida eterna pode ser vivida no presente, quando escolhemos existir numa comunhão constante com o nosso Deus e, consequentemente, com os nossos irmãos. A vida eterna é uma vontade nossa à qual podemos aceder através da escolha que fazemos – amar. O amor mais forte do que a morte é aquele que foi vivido por Jesus. E é a este nível de Amor que cada um de nós cristãos deve aspirar e, consequentemente, anunciar. É este Amor que nos ressuscita, que nos levanta, que nos faz sair dos túmulos onde tantas vezes nos encerramos.

A Fé não nos livra de uma morte física, mas para quem crê, a morte não é a última e definitiva realidade. A ressurreição de Jesus é a resposta de Deus à vida por Ele vivida, ao seu modo de viver no Amor até ao extremo. O Amor ensinado por Jesus é profecia e antecipação para todos nós, seus amigos, destinados, com Ele e por Ele, a esta mesma ressurreição. Que a Páscoa que celebramos a cada ano faça de nós, em cada dia, uma pessoa de passagem, em caminho, em andamento ao encontro da Terra Prometida. Que saibamos escolher sempre a via do Amor para a vida em Amor. E assim jamais morreremos. E assim para sempre viveremos.