Arquivo mensal: Dezembro 2023

Naquele Presépio nascemos nós

“Àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.” (Jo 1, 12)

Há dois mil anos, não foi só um menino que nasceu em Belém, fomos nós que com Ele também nascemos. Há dois mil anos, não foi só Deus quem se tornou humano, fomos nós que, com Ele, nos tornamos divinos. Há dois mil anos, não foram só os anjos que o anunciaram, somos nós também que o fazemos com as nossas vidas. Há dois mil anos, não foram só os pastores que o visitaram, fomos nós também que somos visitados pela Sua graça e bondade. Há dois mil anos, não foram só os Magos que se puseram a caminho, somos nós também que decidimos seguir aquela Luz estrelada lá no Alto, onde todos os sonhos, projetos, dias e vidas se edificam e nos elevam a olhar para a Eternidade da Terra para nós prometida.

Todos nós nascemos naquele presépio, naquele lugar em que a vida vence a morte, naquele lugar em que o calor aniquila o frio, naquele lugar em que a força toma conta da fragilidade. Todos nós somos frutos daquele primeiro Natal, um acontecimento acontecido contra todas as contingências, contra todas as expectativas, contra todas as condições.

Naquele presépio, nascemos também nós. Cada um de nós. Os que escolhem nascer a cada dia. Os que desejam dizer sim. Os que seguem, com dúvidas e certezas, com dores e alegrias. Os que desconhecem o caminho, mas conhecem Aquele Menino Deus que com eles caminha. Os que procuram o interior muito mais do que o exterior. Os que celebram mais com o coração do que com a decoração. Os que vivem no silêncio todo o ruído das festas. Os que acolhem tudo apesar de tudo e por causa de tudo.

Naquele presépio nascemos todos nós. Envoltos em abraços, cobertos por palavras partilhadas, aquecidos pela confiança que a vida em comum nos oferece. Naquele presépio, onde Maria e José recebem o seu Menino, este Menino recebe-nos a todos nós. E oferece-nos o maior dos presentes: a vida vivida com Ele, por Ele e para Ele.

Um Santo e Feliz Natal para todos vós! Um abraço sempre amigo e natalício!

Ana

📸@tulippainter

Nasce mais uma vez – Encontro de Natal 2023

Obrigada a todos e a todas pela presença, pelos abraços, pela cumplicidade, pela alegria, pela música, pelo encontro, pelas mãos estendidas e pelas partilhas.

Que felizes somos por sermos felizes uns com os outros! Que gratos somos por podermos ser presépio onde deixamos que o Menino nasça, sempre, mais uma vez, em cada ano! Que alegria pura e simples vive em cada um de nós de cada vez que nos deixamos guiar por aquela Luz que brilha bem lá no Alto, no sítio onde se fabricam os projetos, os caminhos, os sonhos! Que ricos somos porque encontramos e escolhemos viver o verdadeiro tesouro – o do tempo com o(s) Outro(s), o da vida em comunidade, o da alegria que brota entre corações que se sentem iguais, o da confiança que nos faz acreditar sempre e para sempre naquilo que é para sempre!

“Natal. Só pelo facto de o ser. Natal. E, só pelo facto de o ser, o mundo parece outro. Auroreal e mágico. O homem necessita cada vez mais destas datas sagradas. Para reencontrar a santidade da vida, deixar vir à tona impulsos religiosos profundos, comer e beber ritualmente, dar e receber presentes, sentir que tem família e amigos, e se ver transfigurado nas ruas por onde habitualmente caminha rasteiro. São dias em que estamos em graça, contentes de corpo e lavados de alma, ricos de todos os dons que podem advir de uma comunhão íntima e simultânea com as forças benéficas da terra e do céu. Dons capazes de fazer nascer num estábulo, miraculosamente, um Deus de amor e perdão, contra os mais pertinentes argumentos da razão.”

(Miguel Torga in Diário)

Falar para CRER – 7.º Encontro

Ficam aqui os registos do 7.º encontro “Falar para CRER”, organizado pela paróquia da Matriz em colaboração com a Comunidade Estrada Clara. Este encontro aconteceu no dia 8 de novembro e o tema foi “Uma conversa a caminho de Emaús”, um texto do frei dominicano Timothy Radcliffe, responsável pelas meditações do retiro dos participantes na XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. Esta meditação de Timothy Radcliffe focou-se, essencialmente, na ideia do Cristão que é encontrado e vai ao encontro, num caminho marcado por avanços e recuos, mas sempre em construção e revelação. Neste encontro, assumimos o risco das relações, mas também a alegria e a gratidão que nascem nos corações de quem faz um caminho comum, apesar das diferenças. Neste encontro com os outros nossos irmãos, não pode faltar o ingrediente principal – a confiança. A confiança no amor que me é dado, a confiança no caminho que percorremos juntos, a confiança nas palavras que nos são dadas. Depois de trabalharmos este texto em grande grupo, foi em grande grupo que continuamos a refletir, a partir de duas questões: como posso ir eu ao encontro dos meus irmãos/minhas irmãs na comunidade paroquial e fazer um caminho de diálogo com a minha comunidade; que dinâmicas podem ser concretizadas no grupo a que pertenço para que todos se sintam mais escutados. Uma vez mais, estas partilhas, desta vez num ambiente mais íntimo, foram muito ricas, mesmo que se tenham apresentado perspetivas diferentes. Isto é a grandeza da vida sinodal que a Igreja experimenta: a procura incessante de um caminho onde possamos seguir juntos, levando os nossos contextos, as nossas histórias, os nossos projetos.

Recordamos que estes encontros “Falar para CRER” estão sempre abertos a todos os agentes da Pastoral (Catequistas, Jovens, Conselho Paroquial, Leitores, Grupos Corais, etc.) das comunidades paroquiais. Não é necessária inscrição, basta aparecer.

𝐏𝐫ó𝐱𝐢𝐦𝐨 𝐄𝐧𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨 “𝐅𝐚𝐥𝐚𝐫 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐂𝐑𝐄𝐑 – 𝐄𝐝𝐢çã𝐨 𝐄𝐬𝐩𝐞𝐜𝐢𝐚𝐥 𝐍𝐚𝐭𝐚𝐥” – 𝟐𝟎 𝐝𝐞 𝐝𝐞𝐳𝐞𝐦𝐛𝐫𝐨 𝐝𝐞 𝟐𝟎𝟐𝟑 (𝟒.ª 𝐟𝐞𝐢𝐫𝐚), à𝐬 𝟐𝟏𝐡𝟑𝟎, 𝐧𝐨 𝐒𝐚𝐥ã𝐨 𝐏𝐚𝐫𝐨𝐪𝐮𝐢𝐚𝐥 𝐝𝐚 𝐌𝐚𝐭𝐫𝐢𝐳 -𝐏ó𝐯𝐨𝐚 𝐝𝐞 𝐕𝐚𝐫𝐳𝐢𝐦

Um peregrino da Esperança

Em vésperas do seu aniversário, José Tolentino Mendonça é reconhecido com o Prémio Pessoa, distinção notável atribuída por ilustres figuras da contemporaneidade cultural nacional. Alegramo-nos com esta atribuição não porque o padre Tolentino necessitasse deste prémio, mas sim porque a visibilidade deste galardão permitirá que tantos que ainda não o conhecem o possam agora visitar nos seus livros, discursos, orações e descobrir este “tesouro escondido”.

Embora não o saiba, o padre Tolentino é, para a Comunidade Estrada Clara, um dos nossos melhores amigos. Temos a certeza que, tal como nós, muitos também o têm assim guardado no coração. A sua vida cruza-se com as nossas estradas como sempre se cruzam aqueles que partilham o mesmo sentido de vida. Foi graças a um professor meu de Literatura que conheci este “jovem poeta madeirense” que, na altura, publicara as suas primeiras composições. Comecei por ler intensamente o poeta, só descobrindo mais tarde que ele também era padre, precisamente quando andávamos em busca do tal material temático para explorar nos nossos grupos de adolescentes e jovens. Que epifania foi para nós! Que graça encontrarmos alguém que dá Vida à Palavra e faz da Palavra Vida!

E, depois, há aquilo que para nós são sinais de Luz. Em 1998, ano em que entrei na universidade, o padre Tolentino venceu o seu primeiro prémio de poesia. A sua ordenação episcopal foi a 28 de julho, dia do aniversário da nossa mana Lara e do nosso companheiro musical, o Rochinha. O Papa Francisco fez do bispo Tolentino cardeal a 5 de outubro de 2019, uma data especial para nós, pois foi a última vez que cantamos e tocamos com o Jorge na nossa igreja, na celebração das bodas de ouro dos seus pais.

Quem mergulha nas palavras do padre Tolentino nunca mais deseja voltar ao superficial. Quem se deixa envolver pelo seu modo simples e profundo de ler a vida como dom, nunca mais se deixa contaminar pela ingratidão e pela futilidade. Quem faz dos seus livros guias de peregrinação, nunca mais deixa de ver a vida como uma estrada clara.

Obrigada, padre Tolentino.

Gratidão também à página @comodissetolentino por trazer às redes sociais as palavras de vida deste padre poeta!

Ana

Estradas Partilhadas – Encontro 2

“Estradas Partilhadas”, os nossos encontros mensais de formação, de partilha, de relação.

No passado dia 12 de novembro, alguns elementos da nossa Comunidade juntaram-se para refletirmos juntos desta vez a partir de um pequeno texto do Cardeal José Tolentino Mendonça, intitulado “A rotina não basta ao coração do Homem”. Este texto foi escolhido e posto em comum pela nossa querida Diana e durante cerca de duas horas fizemos partilha de vida, de experiências, de dúvidas, de certezas, de projetos. Através de quem somos e do que nos estamos a construir a cada instante, fomos redescobrindo os desafios que a vida com as suas rotinas e imprevisibilidades nos vai colocando e o modo como cada um de nós é chamado a lidar e a trabalhar com esses mesmos desafios. Não encontramos respostas científicas para o tema em questão, mas com as vivências partilhadas por cada um encontramos propostas de olhar a vida com mais entusiasmo, mais respeito, mais abertura ao que vai acontecendo. Foi mais um encontro cheio de palavras, de risos, de seriedade entre pessoas que escolheram dedicar uma simples tarde de domingo a estarem umas com as outras num diálogo fraterno, numa rede de confiança, numa busca pela luz que todos nós trazemos cá dentro e que ilumina as nossas também presentes fragilidades e escuridões.

“Estradas Partilhadas”, o nosso espaço para termos espaço para vivermos com tempo o tempo que trazemos em nós, para como comunidade fortalecermos em nós uma dimensão orante e pensante e assim promovermos a atenção e a escuta ao(s) Outro(s).

“Estradas Partilhadas”, os nossos domingos de gratidão, os nossos primeiros dias da semana, os nossos caminhos para chegar a casa, à Terra Prometida.

Este mês, já em breve, voltaremos a estar juntos para falar e partilhar VIDA. Sempre!

Obrigada, Irmão Alois!

Na véspera do início do Advento, durante a oração da noite em Taizé, o irmão Alois vai transmitir a sua responsabilidade de prior ao irmão Matthew. Durante 18 anos, o irmão Alois assumiu a orientação da Comunidade de Taizé, tendo-o feito num contexto particularmente difícil após a trágica morte do irmão Roger. Como ele afirmou numa entrevista recente, os primeiros tempos enquanto prior foram uma grande aventura, uma vez que ninguém sabia como iria continuar a ser a Comunidade após a morte do seu fundador. Esses tempos, nas suas palavras, foram de grande unidade entre todos, o que permitiu que a construção comunitária continuasse a ser o que é, um espaço de espiritualidade, de descoberta interior, de oração.

Ao longo destes 18 anos, o irmão Alois soube por em prática as palavras do Evangelho. Todos os anos, nas já habituais cartas que servem de reflexão para os encontros de verão em Taizé, o irmão Alois colocou a tónica sempre na confiança que nos permite avançar, caminhar, seguir ao encontro e à descoberta de um Deus que é amor, é casa, é abraço. Ao longo destes 18 anos, pudemos partilhar alguns encontros com o irmão Alois: em Taizé estivemos em 2006, 2009, 2014, 2017; participamos na Peregrinação de Confiança sobre a Terra em 2005, em Milão, e em 2012, em Roma. Neste último encontro, no final de uma das orações, alguns de nós tiveram o privilégio de ser abençoados pelo irmão Alois, naquele seu gesto sempre doce e sereno. Vejam as fotografias 😊

Obrigada, irmão Alois, não só por estes 18 anos, mas por uma vida inteira de entrega, de partilha, de comunidade. Pelas palavras e pela simplicidade. Pela comunidade. Pela vida. Continuaremos a rezar juntos!

“Nas circunstâncias atuais, também nós podemos escolher a confiança. Somos livres para discernir, no nosso mundo, uma luz com origem noutro lugar. Mesmo quando estamos a passar por uma provação, mesmo quando Deus parece não responder ao nosso clamor, essa luz já está a nascer como a estrela da manhã nos nossos corações.”

“Sozinhos não podemos acreditar, é inimaginável. Mas juntos podemos ouvir o inacreditável, que Maria e depois os apóstolos anunciaram no dia de Páscoa: Cristo está vivo!

Alegrai-vos!

Reflexão para o mês de dezembro de 2023

Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara

“Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos!” (Carta aos Filipenses 4,4)

Estas palavras de São Paulo pertencem às chamadas cartas do cativeiro, isto é, cartas por ele escritas quando foi prisioneiro em Roma. A realidade vivida por São Paulo quando escreve à comunidade em Filipos não seria aparentemente compatível com a alegria que ele tantas vezes repete ao longo da missiva. Preso e torturado no cárcere romano, Paulo escreve as que foram consideradas as suas mais esperançosas e profundas cartas. Como é isto possível? Como se encontra tamanha alegria em contextos como estes tão difíceis e obscuros? Que radicalidade é esta que nos indica uma alegria maior? Para quê nos devemos nós alegrar?

Nunca em tantos lugares e tempos se falou tanto de alegria. A alegria surge como uma exigência a viver, é destaque nas redes sociais, é um imperativo sinónimo de sucesso. Vemo-nos a chegar à época natalícia e a palavra alegria não só redobra o seu uso como também a sua necessidade de exigência. Que alegria é esta com que nos deparamos? Ao refletirmos nela, concluímos que esta alegria que o mundo nos apresenta é um sentimento que faz depender totalmente a sua existência das circunstâncias e do estado de espírito de cada um. Por isso, é efémera, é volátil, é frágil. Porém, também faz parte de nós e também a devemos viver, claro! Quem, por exemplo, não vibrou de alegria que se multiplicou por um país inteiro quando todos nos vimos a ganhar a Eurovisão? Esta alegria existe e é humana. Mas Jesus apresenta-nos uma outra forma de existir em alegria. A questão reside em como podemos viver uma alegria sem prazo, sem data de validade, sem dependências externa. E a resposta só a encontramos – se abrirmos o nosso coração e o nosso entendimento – à mensagem de Jesus Cristo, ao seu modo de viver e de nos fazer viver. A alegria constitutiva da experiência cristã é única. Não é uma alegria que dependa de êxitos e sucessos financeiros e sociais nem de conquistas profissionais. É uma alegria assente na certeza de uma eternidade, de uma mensagem libertadora, de uma presença de amor. Não está sujeita à satisfação de uma sensação imediata ou à busca de um prazer nem é comparável.

“Aos cristãos é pedida a arte de fazer a alegria”, interpela-nos o Cardeal José Tolentino Mendonça. Esta arte da alegria é processo, é decisão, é caminho. Buscar a alegria, procurá-la, cultivá-la é uma tarefa árdua a ser cumprida todos os dias. É exigente e, tantas vezes, hercúlea e nem sempre a encontramos com facilidade. Obviamente todos nós estamos sujeitos a mudanças de humor, a irritações, a fúrias e desentendimentos. Todos nós somos atingidos por problemas e dores. Todos nós temos o direito de chorar, de nos sentirmos tristes, de nos questionarmos. Por isso, é também importante criarmos em nós esse espaço de sentir para deixar fluir o que dolorosamente experimentamos. Só assim possibilitamos, também, a abertura à alegria, que é a base firme que está em nós, apesar de todas as circunstâncias. A alegria não se vive da mesma maneira em todas as etapas da vida, por vezes tão duras. Adapta-se e transforma-se, mas permanece sempre pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados por um Deus que nos espera. Esta é a maior riqueza de quem se diz cristão. A de sabermos e confiarmos que fomos criados para esta alegria. Mesmo quando é difícil vivê-la e assumi-la por inteiro. A alegria de um cristão não provém da ingenuidade ou da incapacidade para ver e assumir aquilo que é trágico. Esta alegria cristã que nos é dada é aquela alegria que se vive “apesar de tudo” e também “a partir de tudo”, inclusive do que lhe seria, normalmente, contrário. A penúltima palavra pode ser a da experiência da dor, mas a última palavra é sempre a da alegria que nos resgata. Por isso, é possível no meio do caos experimentar a bênção da alegria, pois é ela que nos salva de sucumbir à desgraça, à dor, à desolação. É possível encontrar a alegria mesmo nas circunstâncias mais cruéis e difíceis, precisamente porque essa mesma alegria salvadora vem de Deus, de um Deus que é tudo em nós e que é promessa de Terra Prometida.

“A alegria é a coisa mais séria do mundo”, disse-nos Almada Negreiros com toda a razão. Ser alegre é viver em profundidade, é escolher a luz que nasce do escuro, a certeza que vem das dúvidas. Ser alegre implica a gestão das nossas expectativas, necessidades, idealizações. A alegria é dom, mas também é tarefa, investimento, escolha. A alegria é simplicidade, é atenção, é leveza, é gratidão. A alegria é artesanal porque é construção, é processo de corta e cose e volta a cortar e a coser. A alegria multiplica-se quando é vivida em comunidade, quando se partilha, quando se testemunha. A alegria faz-nos maiores porque nos faz ser com os outros. Não pode haver alegria sem o(s) Outro(s). A nossa vida é um oceano de emoções, de paisagens tranquilas e de acontecimentos tumultuosos. O fundamental é viajarmos nesse oceano acompanhados pelas pessoas certas, aquelas que nos acrescentam, que nos elevam, que nos constroem. Há uma alegria serena que se vive entre quem é irmão, entre quem fala a mesma linguagem, entre quem cresce em comunidade. Uma alegria que se experimenta a partir da confiança no outro que me acolhe, sem preconceitos, sem julgamentos, sem ataques. Uma alegria profunda porque partilha vivências que só são possíveis quando os corações se decidem encontrar e fazer caminho. Uma alegria que nos salva da morte porque nos permite olhar para a vida de outra forma, olhar para o que somos e com quem somos com um coração agradecido. Por isso, em relação à grandiosidade da vida, nós temos de nos deixar invadir por uma alegria eterna, uma alegria plena, mesmo quando a pequenez das pequenas coisas dessa mesma vida nos parece derrubar.

“Não se trata de levar uma alegria passageira, uma alegria do momento, trata-se de levar uma alegria que crie raízes.” (Papa Francisco, discurso na vigília JMJ Lisboa 2023) Uma alegria que crie raízes é aquela que nos sustem, que nos mantém erguidos mesmo quando tudo nos parece derrubar. Uma alegria enraizada na certeza de que se escolhermos o caminho do Amor, tudo suportaremos. Uma alegria que nos fixa ao que realmente importa, que transforma a dor em luz, que nos faz viver e ser de outra forma. Uma alegria que não é algo que nos acontece, mas que somos nós a acontecer porque, na nossa profundidade, está aquela semente de amor que Deus nos dá.

“Alegrai-vos” deve ser o nosso mantra para todos os dias. A alegria é um ato de resistência e, consequentemente, de fé, pois nos leva a acreditar na eternidade para a qual todos somos chamados. Que saibamos continuar a fazer caminho com esta alegria que nos vem da confiança num Deus que vive sempre connosco. Que as nossas palavras, os nossos gestos, as nossas escolhas reflitam sempre esta alegria que vem de Deus e de nos sabermos escolhidos para uma Vida sempre maior que nós próprios.

P.S. A acompanhar este texto está uma das fotografias mais reveladoras desta alegria que brota entre corações que se amam e se doam profundamente ao(s) Outro(s). Meu irmão, minha irmã! Que benção a nossa!