“Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro:¬ viu e acreditou.” (do Evangelho de São João)
𝗦𝗲𝗻𝗵𝗼𝗿, 𝗲𝘂 𝘃𝗶 𝗲 𝗮𝗰𝗿𝗲𝗱𝗶𝘁𝗲𝗶!
As ruas enchem-se de festa. Todos partilham sorrisos, estendem-se as mãos e os olhares são de esperança. Senhor, eu vi e acreditei!
A tristeza cobriu-se de alegria, o desespero deu lugar à certeza, o fim é o início. Senhor, eu vi e acreditei!
A vida multiplica-se em gestos, os abraços são lugares de acolhimento permanente, a nossa história completa-se na irmandade. Senhor, eu vi e acreditei!
A morte deu lugar à vida, os caminhos encontraram-se, foram cantados os mais belos hinos. Senhor, eu vi e acreditei!
A história fez história, a cruz tem os teus braços sempre abertos para nós, as tuas palavras guiam-nos e libertam-nos dos medos passados. Senhor, eu vi e acreditei!
As quedas deram-nos a oportunidade de nos reerguermos, as feridas curaram-se com o Amor, sempre e só o Amor. Senhor, eu vi e acreditei!
As perguntas transformam-se em respostas, a dor fica coberta com outro significado, o aleluia é a palavra-chave que nos abre todas as portas. Senhor, eu vi e acreditei!
O silêncio preparou a alegria, o choro antecipou os risos, a noite trouxe a luz que precisamos para compreender e sentir a tua presença em nós. Senhor, eu vi e acreditei!
Hoje é Páscoa. Não é uma mera data num calendário, um feriado onde não se trabalha. Hoje é Páscoa. Ele está vivo! E nós estamos vivos porque Ele está vivo! Senhor, eu vi e acreditei. És tu! Foste sempre tu! Que a minha vida seja sempre reflexo da tua morte e ressurreição, das tuas quedas mas sempre da tua vitória sobre a morte! Senhor, eu vi e acreditei!
Uma Feliz e Luminosa Páscoa para todos vós neste caminho sempre pascal em que, juntos, fazemos e somos comunidade!
“Bendito o que vem em nome do Senhor!” (do Evangelho de São Mateus)
Uma reflexão para o Domingo de Ramos
Ele vem! E nós, alegres e cheios de sol, deixamos que Ele entre. Abrimos as janelas da alma, escondemos as tristezas, vestimos as roupas mais bonitas, damos os nossos melhores sorrisos.
Ele vem! Trazemos risos, batemos palmas e levantamos os braços. Vamos juntos, caminhamos com a velocidade que o coração nos pede e com a certeza que Ele nos dá de que estarmos no lugar que nos espera.
Ele vem! Ouvem-se vozes cheias de alegria, estendem-se os braços que embalam confiança. Nada nos perturba, nada nos incomoda, nada nos esmorece.
Ele vem! Temos os nossos corações preparados para este Amor, para esta entrega, para esta Luz. Nada mais importa a não ser a agitação de quem se prepara para fazer uma grande festa!
Ele vem! E a história d’Ele podia ter terminado aqui. Com aclamações e juras de amor. Com festa e muitas palmas. Com abraços e promessas.
Mas Ele quis que fosse de outra forma, para mostrar que o caminho teria de ser outro, que os desafios e os obstáculos existem para serem abraçados. E que a vida d’Ele em tudo se assemelha à nossa. Com quedas e levantamentos, com alegria e apatias, com gargalhadas e nós na garganta.
Por isso, Ele atravessa esta Semana Maior. E muitos dos que O seguiram, já não fizeram o resto do caminho com Ele. Não era bem este Rei que desejavam… Mas nós, hoje, temos sempre a outra opção. A de ir. Com Ele. De seguirmos por esta Semana com Ele. Então, o que esperamos? Vamos!
Os nomes dos nossos pais. Nomes carregados de histórias, de vidas, de risos e de lágrimas, de férias e de trabalho, de certezas e de perguntas, de abraços e partidas, de tempo e de espaço. Somos o que somos porque estes são os nossos pais. No dia do nosso nascimento não fomos só nós que nascemos. Nesse dia, os nossos pais nasceram connosco, com cada filho. Por isso, a nossa base está nestes homens. Fizeram por nós o melhor que sabiam num tempo em que muito pouco sabiam. O resto será sempre da nossa responsabilidade, daquilo que escolhemos fazer com o que nos foi dado. A vida vai se encarregando de nos dar a possibilidade de amarmos cada vez mais os nossos pais, de os olharmos com carinho e compreensão, de lhes sermos gratos, de perspetivarmos memórias guardadas.
Por isso, hoje é dia de celebrar e de agradecer. Aqueles que nos amaram primeiro mesmo antes de nos conhecerem. Aqueles que nos sonharam e que nos deram o primeiro colo. Aqueles que hoje podemos abraçar ou lembrar. Aqueles que são imortais nos nossos corações. Aqueles que nos deram o seu coração. Os nossos pais.
A Igreja lembra hoje também a figura paternal de São José, muitas vezes relegado para um plano mais secundário. José foi educador, sonhador, acolhedor. Numa sociedade patriarcal, foi chamado a amar a escolha de Maria, prova de amor irrefutável para com a sua mulher amada e o seu filho. José foi um desafiador de normas para que o bem se instalasse entre nós. Mesmo não compreendendo tudo, ele tudo fez para que os planos de Deus se concretizassem. Que possamos nós também olhar para este Pai e desejar atravessar com serenidade os desafios que a vida nos propõe.
Feliz Dia do Pai a todos os que são filhos e pais, porque este dia só pode existir porque existe a maior de todas as relações – a do Amor!
Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara
“Se conhecesses o Amor de Deus, tu correrias até o encontrar.» (a partir do Evangelho segundo São João 4, 1-29)
“Se conhecesses o amor de Deus, tu correrias até o encontrar” cantamos no refrão de uma das músicas mais bonitas que o Jorge compôs. Nesta simples frase condicional está toda a condição de vida do Cristão, está toda a razão do movimento humano – o Amor. Mas não um amor qualquer, não um sentimento passageiro, não uma mera emocionalidade. O Amor de Deus é aquela força maior que ultrapassa todo o entendimento humano, que nos torna fortes nas nossas fragilidades, que nos faz capazes de ver o que é invisível. Por isso, ter a possibilidade de poder viver este Amor maior é o maior dos presentes que podemos receber. Ou como gostava de dizer o Jorge, é uma “riqueza”. Quando escolhemos viver cada dia nosso guiados por este Amor de Deus, a vida torna-se muito maior porque o nosso coração está mais disponível para acolher, para se doar, para compreender. E quando encontramos este Amor, não há outro querer a não ser o de corrermos para ir ao encontro de quem nos ama tal como somos.
Deus sonhou-nos para a felicidade. Há dentro de cada um de nós um grito de vida que nasce connosco e que é esta vontade de nos sentirmos plenos. E esta plenitude, buscada em tantos lugares, procurada em tantos espaços, só é vivível quando nos deixamos levar pelo amor de Deus, ou seja, quando escolhemos viver com a nossa vida a vida que Deus criou para nós. Uma vida que não está isenta de sofrimento, mas que é acompanhada amorosamente nesse sofrimento. Uma vida que nem sempre é aquilo que nós esperávamos que fosse, mas que se enche da presença divina nas novidades que vão surgindo.
“Se conhecesses o amor de Deus, tu correrias até o encontrar”. O verbo correr é, sem dúvida, uma das palavras ilustrativas da geração a que pertencemos. “Andas sempre a correr”, “Já vais embora a correr”, “Andei o dia todo a correr de um lado para o outro”, são alguns exemplares inseridos nos diálogos que atualmente vamos mantendo uns com os outros durante as nossas maratonas diárias. E, tantas vezes, nos acomodamos e até nos alegramos com estas correrias desenfreadas, que nos roubam tempo e espaço para podermos simplesmente ser… Os dias esmagam-nos, a agitação diária corrompe-nos, leva-nos tantas vezes a alma e, se não estivermos atentos e preparados, deixa-nos mesmo na lama. Vivemos como se tudo dependesse só de nós, como se tudo fosse sempre de possível controle, como se conseguíssemos eliminar todos os imprevistos da vida. Envaidecemo-nos com os dias cheios de compromissos e obrigações, onde tudo nos parece importante e insubstituível. Colocamos todo o nosso esforço e dedicação em tantas coisas efémeras e passageiras. Adjetivamos as horas do dia como rentáveis e descartamos a quietude e o prazer que advém daquilo que é tão simples. No nosso íntimo, sabemos que há algo de errado nesta forma de viver e até desejamos mudar, mas nem sempre conseguimos. Há sempre motivos e razões válidas que nos mantêm nesta corrida. Investimos nos troféus errados, gastamo-nos em tarefas que se esgotam a si próprias e passamos a ser só um mero instrumento de trabalho sujeito à erosão dos dias. E as vidas enchem-se de frustração, de expectativas não superadas, de desilusões dolorosas.
É então precisa coragem para sabermos dizer não a esta lógica mercantil que domina a vida humana. É precisa assertividade para não nos deixarmos deslumbrar pela vaidade de sermos reconhecidos. É precisa determinação para não nos transformarmos em números e percentagens. É preciso ser diferente para não nos deixarmos paralisar pelas exigências mundanas. É preciso querer seguir uma vida simples sem desistir quando chega o primeiro obstáculo. A perseverança não é um caminho de facilidade, mas leva-nos à essencialidade daquilo para o qual fomos chamados. Há que viver com atrevimento e ousadia numa sociedade que nos quer impor um pensamento exclusivamente racional e, por isso, limitador.
Há um imperativo da aceleração que devemos combater. Devemos parar. Para pensar. Para refletir. Para nos encontrarmos. Para nos questionarmos. Para onde corremos nós? O que nos move? O que nos motiva a fazer caminho? O que preenche o meu coração? O que levo nas minhas mãos? O que me faz dizer sim? O que dou de mim à vida que me foi dada? Corro para quem? Onde e a quem entrego o meu coração?
“Abdica e serás rei” é um dos versos mais iluminados de Ricardo Reis. Foi precisamente esta a escolha de Jesus e a dos muitos homens e mulheres de boa vontade que lhe seguiram. Abdicar não implica perder. Abdicar não é ficar com o prémio de consolação. Abdicar é sinónimo de dar oportunidade a que a minha vida e a pessoa que eu sou ganhem mais espaço para ser. Abdicar do que é negativo, do que me aprisiona, do que me faz sucumbir às minhas fragilidades, do que me afasta da minha verdade. Abdicar do ter tudo para poder ser tudo. Abdicar das máscaras que me escondem para abraçar a verdade do que sou. Aquilo que vou sendo depende muito mais daquilo que abdico do que daquilo que conquisto.
O Cristianismo é altamente desafiador porque quem quer viver no concreto a ideologia cristã tem de aceitar viver num mundo às avessas. O Cristão é aquele que dá sem troca, que ama contra o ódio, que acolhe o que é desprezado. O Cristão é aquele que assume a lógica da salvação gratuita num mundo em que tudo é comercializado e comercializável.
Por isso, o Cristianismo salva-nos na medida em que a mensagem cristã nos garante que podemos ser apenas quem somos, sem necessidade de títulos ou papéis, carreiras ou prémios. Aos olhos de Deus, somos únicos e irrepetíveis e o que verdadeiramente importa (e efetivamente salva!) é aquilo que trazemos no nosso coração e o que fazemos pelo bem comum. Por meio de seu filho, Deus deixa-nos a maior das promessas: ele estará sempre connosco até ao fim do nosso tempo. É esta promessa que nos salva e nos leva a viver cada dia ancorados na confiança e na persistência deste amor.
Gosto muito da fotografia que escolhi para acompanhar este meu texto. Nela vejo a Clarinha e o Tomás – os meus amados sobrinhos do coração – quando eram mais pequeninos. Não lhes vejo as expressões, mas adivinho-lhes a alegria gigante e a felicidade plena que sentem por poderem estar no meio da natureza. Sinto-lhes a liberdade de poderem ser quem são sem preconceitos nem medos paralisantes. Decifro-lhes o entusiasmo maior de seguirem caminho acompanhados na irmandade. Eles sabem para que(m) correm. Eles sabem bem porque correm. Correm com o coração pequenino mas cheio de uma vida grande. Correm pelo coração maior a transbordar de vontade de encontrar o Infinito. Corramos também junto com eles! Não nos detenhamos, não nos boicotemos. Não tenhamos medo de escolher o que realmente importa! Não tenhamos receio de nos darmos, de fazermos comunidade, de participarmos sem reservas no dom gratuito que é a maravilha de viver. Quem compreende o Amor de Deus, compreende que a vida quer viver, que é sempre mais forte, mais soberana. Que esta alegria tão pura e doce nos contagie e nos faça também correr, sempre com vontade e decisão, ao encontro da nossa Terra Prometida.