Arquivo mensal: Agosto 2024

Testemunhos 2023/2024

Deixamos aqui registados os testemunhos do Pedro, da Liliana, da Adelina e da Raquel, que fizeram connosco este percurso de educação e de partilha na fé. De outubro de 2023 a junho de 2024, às sextas-feiras, das 21h30 às 23h, na paróquia da Matriz (Póvoa de Varzim), estes quatro adultos fizeram parte de um grupo de dez elementos que foi fazendo o seu percurso na descoberta de um Deus que está sempre disponível para quem o quer acolher, construindo assim o início de uma fé adulta, pensada e experimentada, concreta, vivida em ações, participada no quotidiano e celebrada sempre em comunidade.

Um bem-haja a todo este grupo por tudo o que podemos partilhar, viver, descobrir em conjunto.

A formação para o Crisma/Confirmação foram momentos de conhecimento, partilha e companheirismo.

As formadoras foram uma fonte inesgotável de entrega e sabedoria e de surpresas. Para mim esta formação serviu para sentir a missão da Igreja e refletir que todos precisamos de todos. Saber o que a eucaristia nos transmite e que cada vez mais os escritos da Bíblia estão mais atuais do que nunca.

O Padre Avelino é um padre atual e uma fonte de humildade e de bem receber com um sentido de humor cativante. Ao nosso grupo foi excelente ter-vos conhecido e ficam para a vida. O meu interior ficou mais rico. Bem hajam.

Foi muito bom fazer caminho neste grupo. Com conhecimento e testemunho das maravilhosas catequistas, Ana Luísa, Beatriz, Sofia, Elsa, ganhei muito, um maior e melhor entendimento sobre os Evangelhos que aprofundamos nos nossos encontros.

Enriquecedores foram os momentos de partilha com os colegas e que bons colegas de todas as 6ª feiras. É maravilhoso termos oportunidades de fazer formações cristãs, de podermos aprofundar a nossa fé e dar testemunho da Boa Nova de Jesus.

Um agradecimento muito especial a todos os que fizeram possível receber meu tão esperado sacramento da confirmação: ao Sr. Padre Avelino, às catequistas, aos colegas confirmados. A todos bem-haja, beijinhos e que Deus esteja sempre convosco para que possamos levar Jesus a todos.

Desde o primeiro encontro que senti um acolhimento caloroso por parte de todos, formadores e participantes. Esta formação não foi só uma aprendizagem superficial da Bíblia e dos Sacramentos, mas sim uma jornada de aprofundamento da minha fé e do meu comportamento enquanto cristã na comunidade. Cada sessão foi cuidadosamente preparada da melhor forma, incluindo momentos de partilha, reflexão e discussão dos temas abordados. No final desta formação, senti-me uma pessoa renovada e pronta para assumir com responsabilidade e alegria o compromisso de ser uma cristã crismada.

Foi uma experiência transformadora, de crescimento espiritual e humano. Criei amizades que levo para a vida, e acredito que nos vamos reunir mais vezes para continuar a conviver e a debater sobre os temas da vida. Agradeço muito à Ana Luísa, à Beatriz e à Sofia por todo o carinho e disponibilidade para connosco.

O Sacramento do Crisma foi uma promessa que me comprometi cumprir há muitos anos atrás (quando julgasse ter tempo!). Ora agora, na azáfama dos dias de hoje, onde o tempo é escasso e precioso, por impulso, aquando da renovação da inscrição da catequese do meu filho, decidi inscrever-me na Formação Cristã para adultos!

Foi, sem dúvida, uma decisão acertada! Adorei este ano e confesso que agora que terminou já me deixa tantas saudades! Cada 6ª feira foi especial! Cada encontro foi uma animação! Cada partilha foi única e autêntica! Mas todas estas 6ª feiras encheram-me de fé, alegria e amor. Amadureceram-me e enriqueceram-me a nível pessoal e até profissional! Cresci como enfermeira, como pessoa e como cristã!

Surpreendida e maravilhada, foi assim que me senti ao longo destes meses de descoberta! Uma perspectiva atual, dinâmica e interativa que apelou à capacidade introspetiva e lançou o desafio de transpor a vida cristã para o nosso dia a dia.

Se recomendo? Eu afirmo convictamente, sem hesitar, que se me permitissem eu compareceria novamente nas 6ªas feiras… Por isso, a todos os que ainda não o fizeram, agarrem e aproveitem esta oportunidade, que seguramente vão ver que vale a pena…

A todos os que se cruzaram comigo nesta jornada, em particular às formadoras, aos colegas de grupo, ao Sr. Padre Avelino e aos demais, dedico um abraço e um eterno agradecimento por me terem acompanhado e caminhado nesta viagem de fé!

Inauguração e Benção da Casa da Memória

Deixamos aqui alguns registos do dia em que, em comunidade, tivemos o privilégio de participar na inauguração e bênção da Casa da Memória, um projeto há muito sonhado e desejado pela Paróquia da Matriz. Foi o culminar de muitos anos de trabalho, de projetos, de avanços e recuos, de decisões e dúvidas, de alegrias e obstáculos. Por tudo isto, o dia em que as portas da Casa da Memória se abriram foi sinónimo de reconhecimento pleno e sentido por todos nós, ficando gravado na nossa história paroquial. Como comunidade, tivemos ainda o privilégio particular de, com os nossos cânticos, vozes e instrumentos, animarmos a Eucaristia de ação de graças que antecedeu a cerimónia de bênção e inauguração da Casa da Memória. O dia foi todo ele de gratidão e de celebração de todo o caminho percorrido em comunidade na construção daquela que é a nossa Casa da Memória, o lugar privilegiado onde lembraremos e tornaremos eterno o testemunho de quem partilhou vida com cada um de nós.

No dia escolhido para a inauguração da Casa da Memória, a Igreja celebrou também o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, aqueles que são, por excelência, os guardiões das histórias, das tradições e das lembranças, ou seja, aqueles que são autênticas “Casas de Memórias”.

E ainda nesse mesmo dia, celebramos os aniversários natalícios da Lara e do Rochinha, os nossos dois guardiões e mestres na arte de cantar e tocar, dois colecionadores de memórias passadas e futuras, dois monumentos de amizade e de irmandade nesta nossa Estrada Clara.

Celebração do Crisma – 23 de junho de 2024

O terceiro grupo deste terceiro ano de Formação Cristã de Adultos, promovida pela Paróquia Nossa Senhora da Conceição (Matriz) em parceria com a Comunidade Estrada Clara, culminou com a celebração do Crisma pelo Bispo Auxiliar de Braga, Dom Delfim Gomes, no dia 23 de junho de 2024, na Igreja Matriz. Recordamos, com imensa alegria e muita gratidão, esse dia festivo em que os nossos onze crismandos (a Adelina, a Daniela, o Denis, a Liliana, a Lourdes, o Murilo, o Pedro, a Raquel, o Rui e a Tatiana) receberam o Espírito Santo e foram fortalecidos com os seus dons. Lembramos também o percurso particular do Murilo que, escolhendo, numa idade adulta, assumir uma vida cristã, recebeu os sacramentos do Batismo e da Eucaristia. A Lourdes também recebeu, pela primeira vez, a Eucaristia, um momento de imensa alegria para ela.

Nesta Eucaristia festiva, os jovens do grupo do 10.º ano e alguns escuteiros do Agrupamento 38 da nossa Paróquia receberam também o sacramento do Crisma. Foi uma celebração comunitária de fé, de ação de graças e de louvor por este caminho percorrido e pela descoberta de um Deus que nos ama e que nos quer sempre a caminho com Ele e com os nossos irmãos. Que este tenha sido o dia primeiro de um percurso numa fé adulta, consciente, pensada e experimentada, questionada e trabalhada sempre numa dimensão comunitária.

Um bem-haja a todo este grupo pelos momentos de partilha, de reflexão e de conhecimento e pela certeza que nos dão de que viver em Deus é, essencialmente, um viver com e para os outros.

O Reino Maravilhoso de Torga

Celebra-se hoje, 12 de agosto, o aniversário natalício de Miguel Torga. Um grande poeta português e, sem ele o ter sabido, uma forte influência sempre presente na nossa Comunidade. Torga era o poeta do Jorge. Tantas e tantas vezes, ele aproveitou-se das suas palavras para se fazer ouvir e para nos mostrar aquela beleza que ele tão bem sabia que nos salva. Em mensagens trocadas, em telefonemas, em papéis espalhados pela nossa casa, em folhas de rascunho, em pautas, em contas do supermercado ou da luz, lá aparecia um ou outro verso do Torga do qual o Jorge se lembrava e escrevia.

Na parte em que no nosso Musical “Jesus é VIDA!” se abordava a paixão e morte de Cristo, este relato era feito recorrendo a 12 poemas torguianos declamados, com solenidade e expressão, pelos nossos jovens “atores e atrizes” da época. Os poemas “Estrela do Ocidente”, “Nasce mais uma vez” e “Venha” foram musicados pelo Jorge e cantámo-los sempre nas nossas missas no tempo do Natal. Não exagero se disser que o Jorge sabia praticamente de cor as palavras da “Antologia Poética” do Torga. Durante ano e meio de preparação do musical, este foi o seu livro de cabeceira. Nunca o emprestou a ninguém – algo muito raro nele! A este livro recorria sempre que precisava do monumental silêncio das palavras, da inquietude das interrogações, do apaziguamento dos vocábulos trabalhados. Era o seu livro de oração e acompanhou-o, literalmente, até ao fim, tendo-o levado consigo…

E porque Deus sabe sempre colocar-nos nos seus caminhos (se assim nos dispormos a isso) e faz-nos viver os acontecimentos que precisamos na altura certa e entrega-nos as pessoas que nos amam, tivemos, por estes dias, a felicidade de visitarmos, pela primeira vez, o espaço “Miguel Torga” e a sua casa de férias, em São Martinho de Anta, sua terra natal. Um espaço de liberdade, de palavras, de silêncios, de terra cultivada, de perguntas, de horizontes. De presença e na Presença. Do abraço e no Abraço. E vivido numa perfeita trindade comunitária.

Celebremos a Vida! Sempre!

“A gente entra e já está no Reino Maravilhoso.” (Miguel Torga, 1950)

Vinde a mim

Reflexão para o mês de agosto de 2024

Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara

“Vinde a mim, vós todos que estais cansados e oprimidos, e Eu hei-de aliviar-vos.” (Evangelho de Mateus, 11, 28)

Soube há dias, por um mero acaso (dirão alguns, mas eu sou descrente em relação a coincidências…), que um amigo estava a passar por uma situação de perda recente. Uma dor que ele não quis partilhar com ninguém. Uma tristeza que ele desejou esconder. Um acontecimento sofrido que ele guardou só para si. Invadiu-me, em primeiro lugar, uma sensação de um certo espanto pelo facto de ele não ter procurado ajuda, não pedir um ombro onde descansar do sofrimento. E não foi por falta de amigos, pois ele está rodeado de gente de bem e que lhe quer bem. Isto incomodou-me bastante e deixou-me a pensar neste tema que sobrevoa a nossa existência quotidiana, que anda sempre de braço dado com a vida corrida, frenética, avassaladora – a dor da perda. Como é que cada um de nós lida com o que lhe desaparece? Como é que cada um de nós enfrenta o fim de um projeto, o cancelamento de uma perspetiva nova? Como é que cada um de nós atravessa esse deserto árido da perda?

Atualmente, a banalização do sofrimento é algo generalizado na medida em que perante situações adversas é-nos pedido que sejamos perfeitos, que continuemos a sorrir, que encaremos a dor como um desafio a vencer. Nestes imperativos, as emoções confundem-se e os sentimentos precipitam-se. Obrigamo-nos a colocar a máscara da fortaleza para que não encontrem as nossas fragilidades, as nossas inquietações, as nossas perdas. Ora, ir por este caminho solitário não nos vai levar à paz e à serenidade que tanto precisamos para conseguir lidar com os desafios que a vida nos oferece. Precisamos de companhia. Precisamos de quem nos dê a mão, de quem nos ajude a olhar a situação de uma outra perspetiva, de quem nos carregue ao colo quando as nossas forças adormecem.

Não é segredo para ninguém o facto de me assumir como uma pessoa abençoada pela diversidade de almas que me acompanham nesta estrada da vida. Digo e não me canso de repetir muitas vezes que o meu Euromilhões já me saiu na sorte que tenho de viver acompanhada com tanta gente irmã. Não seria eu a pessoa que sou hoje se em momentos duríssimos da minha vida não me tivesse deixado cuidar pela minha família e pela minha comunidade, se não tivesse partilhado com elas as minhas lutas, as minhas mortes, os meus fracassos. Algumas destas pessoas são muito diferentes de mim, nem sempre estamos de acordo, mas coincidimos em muitos pontos que nos unem nos caminhos partilhados. E chegamos sempre à mesma conclusão: esta nossa irmandade salva-nos todos os dias. Salva-nos de nos sentirmos sozinhos. Salva-nos de vivermos em piloto automático. Salva-nos de nos tornarmos meros funcionários humanos a cumprir um qualquer plano terreno. Salva-nos, tantas vezes, de nós próprios. Das nossas fragilidades. Das vozes pessimistas que povoam o nosso interior. Dos nossos medos paralisadores e paralisantes. Dos julgamentos a que nós próprios nos submetemos e onde não há espaço para a compaixão.

Precisamos de viver um sofrimento acompanhado. Um sofrimento acompanhado não é um sofrimento lamechas, não é um estado de “curtir” a fossa, não é uma adoração às lágrimas. Um sofrimento acompanhado é uma partilha de vida que nos ajuda a encontrar a alegria na tristeza, o amparo no desamparo, a companhia na solidão. É ter a certeza de que não estamos sozinhos na dor que nos invade. É saber que podemos descansar naqueles que nos querem dar descanso e apaziguar o nosso sofrimento. É ter uns braços abertos para nos abraçar em forma de colo e de casa. Muitas vezes, quem nós deixamos que nos acompanhe, não nos traz a solução para o que nos magoa, não nos cura da doença que nos aflige. Mas traz-nos alento, paz, consolo.

Há dois mil anos, já Jesus nos dizia isto mesmo, oferecendo-se a Ele próprio para nos acompanhar em todas as adversidades da vida: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei” (Mateus 11, 28). Jesus faz-nos um convite não à fuga no sentido de fingirmos que está tudo bem e nos distrairmos do mal, mas um convite à relação. À relação com Ele, fonte de vida, lugar de descanso, homem de paz. Jesus reforça nesta frase tão simples o poder da relação, a salvação que encontramos quando nos sentimos vazios, ocos, incapazes de avançar. Jesus reconhece que a nossa vida está, tantas vezes, pautada pela falta de forças, pela incapacidade de estarmos presentes na vida, pelo cansaço que a apatia nos traz. Por isso, Ele mesmo nos consola e apresenta-nos a sua proposta: vinde comigo e trazei todos os vossos problemas, sem necessidade de ocultar, disfarçar ou esconder; vinde comigo tal como estais e eu vos consolarei e vos farei ver a vida à  minha maneira. Jesus nunca promete receitas mágicas. Jesus promete uma nova visão da vida.

Há dias, quando falava para um grupo de jovens acerca da Parábola dos Talentos, dizia-lhes que a maior graça que podemos ter é a possibilidade de crescermos acompanhados por quem nos quer bem. A nossa maior missão é procurarmos viver rodeados de pessoas que nos interroguem quando andamos à procura, que nos amparem quando caíamos, que se riam connosco quando as lágrimas teimam em cair e que nos abracem no conforto pleno da amizade. Há dois mil anos, Jesus prometeu este acompanhamento a todos os homens e mulheres de boa vontade. Hoje, nós podemos e temos de ser, uns para os outros, este acompanhamento na dor, este consolo na tristeza, este lugar que acolhe e ama. Que saibamos cuidar e também deixarmo-nos cuidar. Que ofereçamos não as respostas mas o caminho acompanhado para as encontrar. Que os nossos braços estejam sempre abertos e o nosso coração disponível.