Reflexão para o mês de abril de 2022
“Pusemos a nossa esperança no Deus Vivo” (da 1.ª Carta a Timóteo 4,10)
Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara
A primeira carta que São Paulo escreve a Timóteo é dirigida a este jovem pastor que, apesar da sua idade e da sua pouca experiência, está como responsável da comunidade em Éfeso. Ao longo da carta, Paulo pede a Timóteo que se mantenha firme na fé e que desempenhe sempre com coragem, fidelidade e determinação a tarefa para a qual foi escolhido. Paulo, ao aconselhar o jovem Timóteo, traça um perfil interessante daquele que se diz ser seguidor de Jesus Cristo, acabando por definir tudo aquilo que pode ser considerado relevante para um cristão autêntico. Paulo entende que aquele que professa a vida cristã deve ser modelo para os outros na fé, no amor e na esperança. Se bem que outra atitude não deveríamos esperar de verdadeiros cristãos, por vezes parece que nem sempre é assim tão fácil encontramos a personificação destes modelos e esses valores em cada um de nós. Paulo aconselha Timóteo a ser perseverante e firme, a não desistir nem desanimar, pois só assim poderá ultrapassar os seus limites e conhecer novas forças e novos alentos. Assim, o verdadeiro seguidor de Cristo será sempre aquele que conhecendo as suas capacidades, os seus talentos e o seu carisma os põe a render e a dar fruto, indo ao encontro dos outros. Paulo também pede a Timóteo para que este se dedique à leitura e ao ensino e que cuide dele próprio para assim poder ser luz para os outros e caminho de salvação. Por último, Paulo pede a Timóteo para este ter esperança e acreditar no Deus vivo.
As palavras de Paulo a Timóteo atravessam os séculos e chegam até nós. É uma ideia interessante esta, a de colocarmos a nossa esperança num Deus…vivo! Parece ser uma afirmação redundante e pouco propositada, mas… Por vezes, dizemos acreditar neste Deus, mas parece que nos esquecemos que Ele continua vivo hoje, na nossa realidade, nas nossas casas, nos livros que lemos, nas escolas e nos empregos, nos passeios e nas conversas, nos caminhos que percorremos. Este Deus – vivo! – não é apenas um Deus que um dia veio até nós e fez coisas maravilhosas e extraordinárias e depois morreu, deixando como herança as suas palavras e as suas ideias e tendo depois sido proclamado herói e assim adquirido uma legião de seguidores. É muito mais que isso! É um Deus que continua vivo hoje! E a nossa esperança deve ser sempre colocada naquilo que não morre, no que não tem fim, naquilo que perdura.
A esperança deve ser uma palavra querida e obrigatória para todos aqueles que se dizem cristãos. É impossível dizermo-nos cristãos e não sermos capazes de verdadeiramente sentir e concretizar no dia-a-dia a existência dessa força, dessa esperança maior que nós próprios e que nos faz acreditar profundamente na imensidão e na eternidade das nossas vidas. Os primeiros cristãos souberam viver esta e nesta esperança. Num ambiente marcado por perseguições, medos e injustiças, a esperança daqueles homens foi sempre tão forte, tão firme e tão persistente que foram capazes de manter vivo aquele Deus no qual acreditavam. Depois de terem experimentado a novidade da mensagem de Jesus, era-lhes impossível não falar dela e não podiam deixar de anunciar que este seu Deus continuava vivo e era para todo o sempre imortal. Naquele contexto, era-lhes pedido que manifestassem a sua fé através das suas vidas, indo muitas vezes até ao limite. Na nossa sociedade ocidental atual, somos chamados a viver esta nossa fé de uma forma exigente e adequada à nossa própria realidade e ao nosso tempo. Como cristãos do mundo de hoje, de uma sociedade ultra e mega tecnológica, de um tempo moderno e universal, devemos ousar e anunciar este Deus vivo! Não nos devemos deixar contagiar por aqueles para quem Deus só aparece nos maus momentos, para quem a crise fala mais alto que a esperança, para quem Deus não pode nunca ser motivo de uma infinita alegria. Somos responsáveis por manter vivo este Deus através de vidas verdadeiramente vivas e cheias de significado. Devemos ser sempre os primeiros a acreditar e a confiar e a saber falar de esperança. Como cristãos autênticos, não podemos proclamar um Deus morto, sofrido, apenas e só quaresmal. Nem podemos apenas limitar Deus a um mero protetor naquelas horas mais tristes. Devemos procurar sempre que as nossas atitudes e ações sejam um reflexo do nosso acreditar num Deus que vence a morte. Sempre. Todos os dias. Ao depositarmos a nossa esperança num Deus infinito, estamos a enraizar a nossa vida na certeza profunda da absoluta imortalidade. Confiar totalmente num Deus vivo leva-nos a acreditar que não podemos deixar que o medo, o desânimo e o desespero nos dominem. E este acreditar e esta confiança dependem de nós próprios, da nossa vontade e do nosso desejo. São as escolhas que escolhemos fazer.
António Alçada Baptista, um homem que soube compreender como a imortalidade vive no coração de cada homem, dizia que “Deus deve ter em nós uma presença permanente. Ter Cristo em nós, sempre acordado, é uma presença vital.” Acreditar num Deus vivo é isto mesmo, é fazer com que Ele esteja sempre acordado dentro de nós. Só assim a mensagem de Jesus continua a ser atual e transformadora, só assim poderemos ser cristãos autênticos, com vidas acordadas e ativas, capazes de mudar e de fazer crescer o nosso pequeno mundo e tornar mais despertos os mundos daqueles que estão perto de nós. Só assim podermos celebrar a Páscoa todos os dias. Só assim é Páscoa todos os dias. Acreditar num Deus vivo desafia-nos constantemente a evitar tudo aquilo que é terreno, superficial e desnecessário e a crescer e a evoluir, a descobrir forças em nós, a estarmos atentos aos outros e a sermos mais criativos. A sermos Luz. Sempre Luz! A sermos Páscoa!