«Houve um tempo – conta a história – em que, se uma pessoa perdesse uma diligência, não havia problema. Esperava pela próxima, que chegaria seis meses depois. Mas, no nosso tempo (diz a piada), as pessoas têm um colapso se perdem a entrada numa secção duma porta giratória.» Esta história merece ser tomada em consideração. O problema é que, devido à aceleração da nossa sociedade, muitas vezes, não nos apercebemos que a vida é muito mais do que velocidade – especialmente a vida espiritual.
A vida espiritual é um processo de crescimento para a maturidade, com um erro, um esforço mal sucedido de cada vez, até que, finalmente, nos damos conta que um erro espiritual é coisa que não existe. Basta que aprendamos com os erros para os transformar a todos em ganho.
A oração e um espírito orante ajudam-nos a compreender que o processo é tão importante, para a qualidade de vida, quanto a produtividade. A maneira como encaramos a vida é tão importante para o seu resultado final como aquilo que fazemos enquanto vivemos. O facto é que muito poucas coisas podem, realmente, ser forçadas antes do seu tempo. O amor não pode ser forçado. O crescimento não pode ser forçado. A compreensão não pode ser forçada. A aceitação não pode ser forçada. Tal como o nascimento, essas coisas germinam na escuridão até chegarem ao amadurecimento – quer delas, quer nosso.
Conseguir apreciar a diferença entre o nosso tempo e o tempo de Deus é essencial para nos tornarmos pessoas espirituais. O tempo de Deus é o que nos prepara para funcionarmos bem no nosso tempo.
É fácil, por exemplo, ser-se «espiritual», quando nada nos desencoraja nem testa o nosso ânimo, nem põe à prova os nossos corações. Mas é precisamente a experiência do desencorajamento, nos nossos esforços, que nos pode fortalecer o suficiente para lidarmos bem com aquilo que esperamos, seja o que for. Testar os nossos espíritos – ter que verificar os nossos impulsos, uma e outra vez – ensina-nos, finalmente, a controlar a nossa ira ou a abafar a nossa inveja. É a dor da perda que nos ensina que nada se perde realmente; simplesmente, tem de ser encontrado de outras formas.
Viver a vida de Deus significa aprender a «forrar-nos de paciência», como diziam os antigos. Significa aprender a esperar que todas as nossas necessidades sejam respondidas no tempo de Deus – e, de certa forma, que todos os nossos desejos sejam satisfeitos; de certa forma, que todas as nossas esperanças sejam preenchidas; de certa forma, embora não necessariamente da maneira como nós próprios teríamos feito.
Preparem-se, preparem-se, preparem-se. E depois esperem. No tempo de Deus, a sua vontade será feita.
Joan Chittister
In O sopro da vida interior, ed. Paulinas
Joan Chittister (26.abril.1936) é uma freira beneditina norte-americana, teóloga e oradora e um nome incontornável no campo da espiritualidade cristã. https://www.joanchittister.org/