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50 dias

50 dias pascais iniciados naquele momento da mais bela noite anunciada no Precónio Pascal, pela primeira vez cantado, na nossa paróquia, por uma mulher, num gesto de memória pelas mulheres, primeiras testemunhas da Ressurreição a anunciar que Ele estava vivo!

50 dias pascais que terminam hoje, dia de Pentecostes, dia este em que os nossos mais pequenos paroquianos receberam Jesus, pela primeira vez, nos seus corações.

Pelo meio, cantamos a Eucaristia do Domingo de Páscoa, anunciando com os nossos cânticos, as nossas vozes e os nossos instrumentos, a alegria que nunca tem fim, aquela que nos é dada como garantia de uma eternidade feliz.

Tivemos também a graça de, neste tempo pascal, termos tido connosco um grupo de seis jovens peregrinos vindos do Reino Unido que, numa paragem do seu caminho até Compostela, abrilhantaram uma das nossas eucaristias paroquiais com as suas vozes luminosas.

Continuamos com os nossos Encontros de Formação Cristã e aproximamo-nos desse grande dia em que este grupo fará o seu grande compromisso de uma fé adulta, vivida e comunitária.

No nosso encontro mensal “Falar para CRER”, feito, desta vez, num molde mais intimista, refletimos, com muito humor (sempre!) e amor, acerca do mistério da pedra do sepulcro, aquela pedra que mudou toda a nossa história…

Neste tempo pascal, fomos também testemunhas da entrada de dez crianças na nossa família cristã. Poder testemunhar este momento feliz é viver a gratidão através da nossa vida em comunidade.

As nossas Estradas Partilhadas continuam a ser percorridas. Neste período pascal, partimos das músicas para descobrir acontecimentos e perceber como é que os instrumentos que escutamos falam da vida toda em nós.

Não existe Páscoa sem Maria. E no seu mês, numa iniciativa inédita da nossa paróquia, meditamos o terço numa das capelas marianas da nossa cidade.

E quase a terminar este tempo de festa, vivemos o nosso Lausperene Comunitário. Adoramos um Deus que se fez e faz sempre próximo, que quer fazer parte das nossas vidas e que é sempre sinal de eternidade.

50 dias vividos em comunidade e para a comunidade onde vivemos e onde nos tornamos, em cada dia, pessoas de Ressurreição!

O Filho de Deus é um verbo

O Filho de Deus é um verbo – ressuscitar. É Ele quem me faz acreditar que todos os meus dias podem ser manhã de Páscoa, uma oportunidade para ver de novo a vida em movimento. É Ele quem me diz que é sempre possível viver mais plenamente, mais completamente e que novas podem ser todas as nossas decisões que conduzem à Eternidade.

O Filho de Deus é um verbo – olhar. É Ele quem me mostra que há um caminho meu que é a minha escolha, a minha construção. É Ele quem me faz olhar a vida com amor, com alegria, com serenidade.

O Filho de Deus é um verbo – levantar. É Ele quem me ergue depois de cada queda, que me levanta quando o chão me chama, quem me impede de ser menos. É com Ele que eu sigo viagem e vou em caminho.

O Filho de Deus é um verbo – agradecer. É Ele quem me faz compreender o presente que é o presente de cada dia. É Ele quem faz ser grata pelos passos que me vão trazendo até ao meu hoje.

O Filho de Deus é um verbo – abraçar. É Ele quem me diz que, no abraço que dou, ofereço acolhimento, casa, empatia. Crio espaço para o amor poder ser salvação. Amplio os meus sentidos, ergo novas visões, curo tantas feridas.

O Filho de Deus é um verbo – agir. É Ele quem me leva a derrotar a apatia, a indiferença, o egoísmo e faz ir ao encontro dos meus irmãos e sempre a caminho da Terra Prometida, essa doce Páscoa eterna.

O Filho de Deus é um verbo – acreditar. É Ele quem me traz a luz que ilumina as minhas interrogações. É Ele quem me faz crer numa Páscoa eterna, aquela onde a palavra amor não tem mais fim.

O Filho de Deus é um verbo – viver. Porque hoje, vencendo a morte, Ele mostra-me que para sempre vive e que a vida é sempre mais poderosa, eterna e universal.

O Filho de Deus ressuscitou! Por mim, por ti, por nós. É hora de fazer da história da Ressurreição a nossa própria história de vida. É hora de nos levantarmos da inércia para anunciarmos ao mundo que o nosso Deus para sempre vive. É hora de agradecer o privilégio de podermos viver este acontecimento nos nossos dias. É hora de abraçar a vida que hoje começa, a disponibilidade de futuro que hoje nos é oferecida. É hora de acreditar que jamais o medo, a desesperança ou a morte terão a última palavra. Porque Ele vive. Porque Ele está vivo. O Filho de Deus. O Verbo das nossas ações. O Verbo que veio para nós para sermos nós filhos de um Deus sempre vivo. Aleluia! Ele está vivo.

Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara, Páscoa 2023

Hoje é Páscoa!

Hoje é Páscoa!

Hoje é Páscoa porque decido acreditar que aquele túmulo, onde tantas vezes teimo em colocar os meus projetos, está vazio, já não existe.

Hoje é Páscoa porque veio este novo dia claro e eu não quero mais deixar que a noite me domine, que os medos me revistam, que a morte tenha a palavra final.

Hoje é Páscoa porque escolho estar disponível para ouvir o que os meus irmãos têm para me contar acerca de um Homem Novo que das leis da morte se libertou e que para sempre vive em cada um de nós.

Hoje é Páscoa porque sei que quero viver a esperança de um dia novo, de um dia luminoso, de um dia inteiro, mesmo quando esse mesmo dia me parece, tantas vezes, impossível de viver.

Hoje é Páscoa porque vou correr juntamente com aquelas mulheres e com elas anunciar que há um mundo novo que começa quando a nossa vida é movimento, é ação, é caminho.

Hoje é Páscoa porque não quero mais estar indiferente à vida que me rodeia, à Luz que eu posso ser para os outros, ao serviço que eu posso prestar a quem precisa.

Hoje é Páscoa porque vou deixar para trás tudo aquilo que não faz de mim um Filho de um Deus maior e me impede de viver a minha dimensão divina.

Hoje é Páscoa porque quero usar todas as palavras criadas e inventadas para anunciar ao Mundo que há uma vida que não morre, que há um Amor que nos transcende, que há uma certeza eterna.

Hoje é Páscoa porque desejo sonhar, projetar, imaginar como posso fazer de cada um dos meus dias um lugar teu.

Hoje é Páscoa porque Tu me ofereces o dom da liberdade, a oportunidade de Te escolher e de fazer de Ti todo o meu coração.

Hoje é Páscoa porque quero abrir a janela alta dos recomeços, a porta ampla das possibilidades, a varanda longa das escolhas verdadeiras e profundas.

Hoje é Páscoa porque quero viver-Te em comunidade, em comunhão com os meus, em abraços apertados e demorados, em beijos e risos de aleluia eterna.

Hoje é Páscoa porque a minha voz só quer cantar para Ti, só quer anunciar a Tua Eternidade, só quer proclamar todas as tuas maravilhas.

Hoje é Páscoa porque quero gritar bem alto que Tu não morreste, que Tu não morrerás.

Hoje é Páscoa porque hoje, com a Tua Ressurreição, me dizes que há um lugar onde Tu, um dia, me esperas para juntos fazermos, para sempre, a Tua grande festa.

Hoje é Páscoa! Aleluia! Jesus ressuscitou!

Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara, Páscoa 2022

Cada dia da nossa vida é um dia de Pentecostes

Homilia do Cardeal José Tolentino Mendonça na Solenidade do Dia de Pentecostes (15.maio.2016)

Nesta festa do Pentecostes nós percebemos melhor como cada um de nós, e todos nós em conjunto, somos uma consequência do Espírito Santo. Cada dia da nossa vida é um dia de Pentecostes.

O dia de Pentecostes não foi apenas aquele dia, concreto, em que o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos reunidos no cenáculo. O Pentecostes passou a ser o tempo da Igreja, passou a ser o tempo do mundo, o tempo de cada crente. Porque, em cada dia, o Espírito Santo vem em nosso auxílio, o Espírito Santo desce sobre nós, o Espírito Santo está connosco, testemunha o amor de Deus no nosso coração. Diz ao nosso coração: “Podes acreditar em Deus, confia Nele, Deus é credível, podes amá-lo, podes confiar no Seu amor e na Sua Palavra.” O Espírito Santo vem até nós como defensor, não deixa que a voz da noite fale ao nosso coração, não deixa que a voz da sombra ou da violência ou do temor se sobreponham à voz, tantas vezes frágil, da própria esperança, da própria confiança.

O Espírito Santo vem até nós como laboratório da criatividade, da invenção de Deus no nosso coração. Porque o alfabeto com que Deus Se escreve é sempre novo, em cada pessoa, em cada crente, em cada tempo, em cada dia, em cada instante. O Espírito Santo é essa criatividade em ato que nos estimula a sermos diferentes, a sermos originais. E conspira para, na nossa diferença, na nossa singularidade irredutível nós nos conseguirmos entender, conseguirmos criar laços de fraternidade, conseguirmos ser um único pão partido e distribuído para a fome do mundo. Por isso, nós somos consequência do Espírito Santo, e precisamos rezar mais ao Espírito Santo na nossa vida, porque Deus é Pai. E nós sabemos como o Pai é essa arquitetura fundante daquilo que somos, o Pai está na origem da nossa própria vida. Este Pai foi-nos revelado pelo Filho e a experiência da filiação, a certeza de que somos filhos, a descoberta, como diz S. Paulo, de que: “Não somos escravos, mas somos filhos”, é uma descoberta que nos instaura como sujeitos crentes. De facto, nós não somos servos, somos filhos, não somos escravos somos herdeiros. Foi Jesus quem nos revelou isso e esta filiação vivida em cada um de nós.

E o que é a filiação? A filiação é a certeza de que a nossa vida está fundada num amor incondicional. A nossa vida é amada de uma forma ilimitada. Não é hipotético, não é se, se, se… A nossa relação com Deus não é se nos portamos bem, Deus gosta de nós. Ou, se nos comportarmos bem, vamos para o céu. Não, a nossa relação com Deus é a relação de um amor incondicional, a descoberta de que nada nem ninguém nos pode separar desse amor. E mesmo em relação aos pecados, na noite da Páscoa, nós cantamos: “Feliz pecado que te deu a conhecer tal Redentor.” Então, de facto, a experiência de filiação que Jesus nos vem revelar é a experiência de uma filiação infalível, indestrutível que nós descobrimos como código da esperança, tatuado no nosso coração e que já não se pode apagar mais.

Mas Jesus partiu. Ficou-nos a Sua palavra, a Sua presença eucarística. Como é que nós hoje descobrimos Deus vivo na história? Descobrimos através do Espírito Santo que é este Deus, é esta presença de Deus que o Pai e o Filho enviam a assistir aos crentes ao longo da história. E como é que o Espírito Santo se traduz na nossa vida? Traduz-se através da multiplicidade dos dons, desta confiança esparsa, espalhada, infundida, radicada em cada um de nós mas também através daquilo que nós descobrimos que é possível. Porque, se calhar, nós temos mais competências, mais capacidades, há mais potencialidades em nós do que nós pensamos. E, se calhar, ficamos a vida toda a achar que não somos capazes disto e daquilo, que os milagres não são para nós. E, se calhar, os milagres estão na ponta das nossas mãos, estão no interior das nossas palavras, estão nessa capacidade de revitalizar, de acordar a vida, de afirmar que a vida é maior do que a morte, de cuidar, de curar, de transformar a história. Isso é o Espírito em ação, o Espírito em atividade.

O Espírito Santo é dado a mulheres e homens que não têm uma vida isenta, não têm uma vida neutra. É muito duro e muito belo aquilo que nos é descrito por S. João, nesta cena que nós lemos para este dia de Pentecostes.

Os Apóstolos estão reunidos, com as portas fechadas, com medo dos judeus. Quer dizer, eles não estão numa atitude de confiança, leve de coração. Não, estão afundados no seu medo, na intranquilidade, no “ Ai, ai! O que é que vai ser agora?”, no “Não sabemos“, no “Não estamos a ver como é que vamos prosseguir o caminho.” Estava tudo fechado no medo. E Jesus vem, atravessa o medo deles, perfura o medo deles e diz: “ A paz esteja convosco.” E mostra-lhes as feridas, as próprias feridas e o lado. Quer dizer, nós não vamos receber o Espírito Santo para lá das nossas feridas. Se não tivermos feridas recebemos o Espírito Santo, não é isso.

É a mulheres e homens feridos, feridos pela vida, pelos lutos múltiplos, pelos sofrimentos, pela fragilidade, até pela própria imperfeição, pelo inacabamento que Jesus vem. É a mulheres e homens feridos que Jesus vem dizer: “A paz esteja contigo.” E é a estas vidas que se calhar não vêem bem como é que podem prosseguir: “E agora? Como é que vai ser? Não vemos claro como é que possa ser o passo seguinte, o dia seguinte, a estação seguinte da nossa vida.” É a esses, que somos nós, que Jesus vem e sopra, sopra. E esse sopro, faz uma citação do primeiro momento da criação em que Deus amassa o Homem da fadiga do barro, da fragilidade da terra, e sopra nas narinas e o Homem vive. E agora Jesus também na fadiga da nossa existência, na sua interminável fragilidade.

Jesus vem e não diz: “Acabou a fragilidade, acabaram as lágrimas, acabou o medo.” Não diz nada, mas sopra sobre nós. E este sopro que cada um de nós recebe é que nos dá a capacidade de entender, de compreender de uma outra forma. Se calhar a grande mudança, a grande transformação é também um exercício de compreensão, uma abertura do nosso olhar, uma capacidade de entender. É interessante que os Atos dos Apóstolos contam o Pentecostes como uma capacidade de tradução. O Espírito Santo é o grande tradutor dos acontecimentos, cada um fala numa língua diferente mas eu sou capaz de entender a diversidade das línguas com que a vida me fala e essa capacidade hermenêutica é um dom que o Espírito Santo nos dá, é o Espírito Santo em ato, em nós.

Queridos irmãs e irmãos, recebamos o Espírito Santo. Este Espírito que é múltiplo, múltiplo. Um cristão tem de ser singular. Cada um de nós tem de viver a fé na sua criatividade, a fé também é fantasia de acreditar. A fé também é um exercício de imaginação. Nós temos de ser diferentes. Temos de receber o Espírito Santo e fazer com Ele a nossa viagem, o nosso caminho.

O Espírito Santo é o contrário do cinzentismo, é o contrário da formatação, é o contrário do tudo igual, da diluição no mesmo que tantas vezes é uma tentação. Não, o Espírito Santo é esta unicidade, é esta diversidade, é esta polifonia. E, ao mesmo tempo, é percebermos que a diferença não é um obstáculo ao encontro. Mas é nas nossas diferenças, na nossa diversidade que podemos criar um corpo, que podemos criar uma orquestra. Que é uma imagem que S. Paulo também usa, no capítulo 14 da carta aos Coríntios: podemos ser uma flauta, um címbalo, uma harpa e todos juntos nos encontrarmos para tocarmos a seu tempo, com as linguagens aproprias de cada um, tocarmos a mesma peça. E assim, enchermos o mundo de esperança, mostrando que é possível.

Aleluia!

Aleluia! Cristo Ressuscitou!

Jesus Cristo ressuscitou!

Celebramos a Páscoa, a festa da Vida.

Celebramos Jesus que está vivo no meio de nós.

Celebramos a ressurreição, a eternidade e o cosmos.

Celebramos a esperança, a fé e a alegria.

Celebramos a primavera, o sol e os passeios.

Celebramos a contemplação, a criação e o pão.

Celebramos os dias, o encontro e a claridade.

Celebramos a poesia, os rios e os olhares.

Celebramos o canto, as nuvens e os desafios.

Celebramos o horizonte, o riso e a aventura.

Celebramos a luz, o eco e a liberdade.

Celebramos as manhãs, o mar e a auto-estrada.

Celebramos a animação, o encanto e as estrelas.

Celebramos a partilha, as viagens e os gelados.

Celebramos a música, a água e o pôr-do-sol.

Celebramos a descoberta, a alfazema e as escaladas.

Celebramos o acreditar, a beleza e o entusiasmo.

Celebramos as cores, a saúde e a amizade.

Celebramos as nascentes, a brisa e as aldeias.

Celebramos o azul, a terra e a dança.

Celebramos a passagem, a juventude e os aniversários.

Celebramos as montanhas, o movimento e o amanhã.

Celebramos o tempo, os pais e os irmãos.

Celebramos as decisões, as alturas e a mudança.

Celebramos a coragem, os sonhos e as casas.

Celebramos as portas, as janelas e os sótãos.

Celebramos os grupos, a conquista e a criatividade.

Celebramos a originalidade, o equilíbrio e a comunidade.

Celebramos as horas, a diversidade e a confiança.

Celebramos a educação, a sensibilidade e a palavra.

Celebramos os objetivos, a qualidade e a elevação.

Celebramos o trabalho, a organização e a responsabilidade.

Celebramos os livros, o pensamento e a comunicação.

Celebramos o compromisso, a atualização e o crescimento.

Celebramos o silêncio, a maturidade e a renovação.

Celebramos a reflexão, a força e a serenidade.

Celebramos a comunhão, a simplicidade e a oração.

Celebramos o caminho, a verdade e a vida.

Celebramos o amor.

Celebramos a paz.

Celebramos o Homem.

Celebramos Jesus.

Celebramos para sempre.

Aleluia! Aleluia! Aleluia!

Jorge, Páscoa de 2010