Permanecer em pé graças a Deus
Génesis 15,1-6
O Senhor disse a Abrão numa visão: «Nada temas, Abrão! Eu sou o teu escudo, a tua recompensa será muito grande.» Abrão respondeu, «Que me dareis, Senhor Deus? Vou-me sem filhos e o herdeiro da minha casa é Eliézer de Damasco.» Acrescentou: «Não me concedeste descendência e é um escravo, nascido na minha casa, que será o meu herdeiro.» Então a palavra do Senhor foi-lhe dirigida, nos seguintes termos: «Não é ele que será o teu herdeiro, mas aquele que sairá das tuas entranhas.» E, conduzindo-o para fora, disse-lhe: «Levanta os olhos para o céu e conta as estrelas, se fores capaz de as contar.» E acrescentou: «Pois bem, será assim a tua descendência.» Abrão confiou no Senhor e Ele considerou-lhe isso como mérito.
Abraão era um migrante. Com o seu pai, ele deixou Ur, a sua cidade natal no sul da Mesopotâmia, para ir a Haran, no norte. Depois retomou o caminho, com a sua esposa Sara e o seu sobrinho Lot, e chegou à Terra Santa. Mas também teve que sair de lá. Fugindo da fome, foi para o exílio no Egipto. Regressou mais tarde à Terra Santa, mas nunca mais voltou à sua terra natal.
Abraão viveu na instabilidade. Nunca construiu uma casa, viveu sempre em tendas. E teve uma experiência de desânimo, quando não via nenhum futuro possível. Como todos nós, ele precisava de uma esperança para viver. Não se pode viver fora da corrente de vida que nos faz avançar. Abraão desejou um filho e que os seus descendentes lhe assegurassem uma reputação e um futuro.
Ao ler o texto bíblico, ouvimos a sua reclamação. Numa visão, Deus promete-lhe proteção e grandes posses. Mas ele queixa-se: «Que me dareis? Vou-me sem filhos…» Deus é lento a responder. E Abraão retoma a sua queixa: «Não me concedeste descendência…». Abraão poderia ter desaparecido no esquecimento como tantos outros antes e depois dele. Mas nós, cristãos, lembramo-nos dele, e antes de nós os judeus e depois também os muçulmanos, que o chamam Ibrahim. Por que será que este homem, cujos traços se perdem na noite dos séculos, nos toca assim?
A Bíblia divulga o seu segredo: Abraão acreditou no Senhor. Mas o que significa esta frase? O significado não pode ser que Abraão começou a acreditar que Deus existe. Naquele tempo todos acreditavam que os deuses existiam.
Há 35 anos, um senhor já de idade avançada, que passou a vida a estudar a Bíblia e as línguas bíblicas, chegou a Taizé. Ele disse-nos que acreditar em Deus significa tornar-se estável em Deus. «Abraão tornou-se estável em Deus». Acreditar é manter-se firme. Acreditar em Deus é ficar de pé graças a Deus. Abraão, indo de um país a outro sem nunca se instalar definitivamente em qualquer lugar, estabeleceu-se em Deus. Descobriu que mesmo com uma vida em que faltam os apoios habituais, é possível permanecer firmes. Ele encontrou em Deus uma estabilidade inesperada.
Será que ele procurou a fé e a esperança? Em vez disso, foram elas que vieram ter com ele: «A palavra do Senhor foi-lhe dirigida», diz o texto. E Abraão confiou nessa palavra. A promessa de Deus de lhe dar filhos como as estrelas do firmamento era inacreditável. Ele poderia tê-la esquecido imediatamente. Mas ele deixou a palavra de Deus colocá-lo de pé.
O apóstolo Paulo diz: «Esperando contra toda a esperança, Abraão acreditou e tornou-se pai de muitos povos.» Um pai para todos nós. Ao tornar-se estável em Deus, Abraão encontrou o lugar certo: «Confiou no Senhor e Ele considerou-lhe isso como mérito». A Bíblia chama pessoas «com mérito» ou «justos» aqueles que são amigos fiéis de Deus e dos homens e sinais vivos de um futuro. «Os justos florescerão como a palmeira e crescerão como os cedros do Líbano», canta um salmo.
É preciso pouco para sermos como aqueles que, seguindo Abraão, abrem caminhos de esperança. Antes de tudo, temos de saber reclamar sobre o que está errado, como fez Abraão. Depois é preciso perseverança para aguardar uma resposta, mesmo quando Deus permanece em silêncio. A fé é a surpresa de ficar de pé apesar de tudo, de viver, de seguir em frente. Deus não existe porque confiamos nele, e não desaparece quando não o fazemos. É ao contrário: é Deus que é a fonte da nossa firmeza, a nossa garantia. A fé é o acesso à estabilidade que está sempre em Deus, mesmo que falte em nós.
- Entre as pessoas que conheço ou de quem ouvi falar, há quem seja como Abraão? Em que sentido se parecem?
- De que me quero queixar a Deus?
- Onde e quando vi abrirem-se caminhos para o futuro? Quem os abriu: pessoas sozinhas ou em grupo, muitas ou poucas?
- O que me faz permanecer de pé e seguir em frente?
Textos bíblicos com comentário, de Taizé, fevereiro