textos biblicos com comentário, de Taizé
Apocalipse 3,14-16.19-20: Cristo à porta das nossas vidas Cristo ressuscitado diz: «Ao anjo da igreja de Laodiceia, escreve: ‘Isto diz o Ámen, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da Criação de Deus: Conheço as tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente. Assim, porque és morno – e não és frio nem quente – vou vomitar-te da minha boca. (…) Aos que amo, eu os repreendo e castigo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te. Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo.’» (Apocalipse 3,14-16.19-20)
Estas palavras vêm do livro do Apocalipse, no final da Bíblia. São destinadas a uma igreja de uma cidade chamada Laodiceia. Pode-se ter a impressão que os cristãos desta cidade estão a passar ao lado das suas vidas. Não estão frios nem quentes, diz o texto. Não estão a favor nem contra algo. Estão tépidos.
Será que tinham perdido o sentido da sua vida? Não acreditavam que aí pudesse haver algo a buscar ou a fazer. Tornaram-se satisfeitos, indiferentes e desligados. O decurso das coisas é-lhes igual. Pensam que não têm necessidade de nada, nem de ninguém. Contentam-se com o que consideram ser as suas riquezas, as suas possibilidades, o seu conhecimento. Tudo isso os torna inaptos a permanecer numa comunhão com Cristo.
Através deste texto do Apocalipse, Jesus convida-os – e, com eles, a nós – a reconhecer o que lhes falta, a procurar a sua riqueza em Deus, a fazer escolhas, a comprometer-se. Numa palavra: a viver. É este apelo à vida que nos dirige Cristo quando bate à nossa porta. É como se dissesse a cada um e a cada uma: não tens tudo na tua existência, há uma dimensão de profundidade que podes ainda descobrir. Faz, então, prova de zelo, podes viver de outro modo!
Com Cristo, é a vida, a vida verdadeira, que bate à nossa porta para que aí reconheçamos Deus. Não em manifestações incomuns ou em acontecimentos extraordinários, mas no humilde quotidiano das nossas existências. O profeta Elias já tinha feito a experiência: Deus raramente derruba as nossas portas com um sismo, fogo ou tempestades. Mais frequentemente, aproxima-se de nós discretamente e convida-nos a discernir a sua presença (cf. 1 Reis 19).
Tudo na nossa vida nos pode aproximar dele. Os acontecimentos felizes e os infelizes são ocasiões para nos virarmos para Deus para lhe expressar o nosso louvor ou a nossa queixa. Poderíamos ver relevo de uma paisagem ou no voo de uma ave o traço da mão do Criador. Poderíamos discernir no rosto da pessoa à nossa frente os traços de Cristo. Poderíamos descobrir numa intuição inesperada o sopro do Espírito. Tudo pode tornar-se local da presença de Deus. Porém, mesmo quando estamos atentos, isso não se faz automaticamente. É possível que Deus bata à nossa porta e nós não o escutemos.
É por isso que no início do texto do Apocalipse se repete: «Quem tem ouvidos, ouça…». Não existe nenhum automatismo. Porém, existe esta promessa: «Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo». É Deus que opera aqui, é Cristo que vem a nós: e quando escutamos a sua palavra, estabelece-se uma comunhão. O texto exprime com esta imagem a intimidade de uma refeição partilhada.
Quando não o escutamos, resta uma atitude. É desta forma que termina o livro do Apocalipse, onde se lê: «‘Vem!’ Diga também o que escuta: Vem!’» (Apocalipse 22,17). Quando nada sentimos da presença de Deus nas nossas vidas, também nós podemos dizer: «Vem!»
- O que significa não se ser frio nem quente? Até que ponto este retrato dos crentes da Laodiceia descreve o nosso mundo actual, as nossas comunidades cristãs? Podemos fazer algo a esse respeito?
- Como está Cristo a bater à nossa porta hoje? Como podemos ouvir essa chamada? Como lhe podemos abrir a porta?