Em 2002, foi este o nome com o qual batizamos o primeiro fim de semana dedicado aos jovens e por nós organizado na nossa paróquia. Um dia de partilha, de música, de grupos, de conversas, de canções, de movimento, de musicais. Dia dos jovens, da juventude, de Jesus! Foi a primeira de muitas atividades totalmente pensadas pelo Jorge para oferecer aos jovens da altura. Com a sua exigência tão característica, com a sua vontade de fazer bem o bem, com o seu desejo de a todos acolher e anunciar aquele Jesus que foi sempre toda a sua vida.
Volto hoje a esse primeiro Dia J porque é preciso voltar a rebatizar esse dia e assumir memória do que continua a ser. E hoje volta a ser o Dia J. Porque é o dia do aniversário do Jorge. O dia todo da sua vida connosco. O dia que Deus escolheu para que ele viesse habitar no meio de nós.
Dia J. Dia do Jorge. Dia de agradecer a sua vida toda que foi toda ela serviço, canções, palavras e ação.
Dia J. Dia do Jorge. Dia de lembrar as suas palavras que ecoam nos nossos corações e nos impelem a sermos sempre mais pessoas em comunidade.
Dia J. Dia do Jorge. Dia de assumir as suas inquietações que agora trazemos em nós e que nos lembram que a vida em amor é sempre um salto de confiança.
Dia J. Dia do Jorge. Dia de azul, de livros falados, de bolos XXL, de ataques de riso, de passeios e de voltas às rotundas.
Dia J. Dia do Jorge. Dia de nascer para ser vida e ser vida com um significado tão profundo que vence qualquer separação.
Dia J. Dia do Jorge. Dia da atenção plena aos outros, do cuidado com todos os detalhes, do amor ao campo e à arte do descanso.
Dia J. Dia do Jorge. Dia de viagens longas de autocarro, de paragens em estações de serviço pela madrugada, de acantonamentos cheios de sol e de estrelas.
Dia J. Dia do Jorge. Dia dos silêncios fecundos, das conversas noturnas e das folhas amarelas nos temas partilhados.
Dia J. Dia do Jorge. Dia da festa maior embrulhada em saudade e enfeitada em abraços cheios daquela irmandade que nos continua a salvar todos os dias.
Com imensa alegria e, sobretudo, com o coração cheio de gratidão, preparamo-nos, em comunidade, para fazer uma festa! Amanhã, os nossos dez formandos do terceiro grupo da Formação Cristã de Adultos receberão o Sacramento da Confirmação. Destes dez, um deles será também batizado. De outubro de 2023 a junho de 2024, às sextas-feiras, das 21h30 às 23h, este grupo fez o seu percurso na descoberta de um Deus que é sempre Amor e presença em cada um de nós, construindo assim o início de uma fé adulta, pensada, concreta, vivida em ações, participada no quotidiano e celebrada em comunidade. Ao longo dos 25 encontros, procuramos dar a conhecer o que significa, nos dias de hoje e no contexto social, ser-se cristão comprometido, esclarecido, com um propósito de vida consciente e com a experiência sempre fundamental da dimensão comunitária.
Por isso, amanhã faremos festa! Celebraremos o percurso cristão 𝗱𝗮 𝗔𝗱𝗲𝗹𝗶𝗻𝗮, 𝗱𝗮 𝗗𝗮𝗻𝗶𝗲𝗹𝗮, 𝗱𝗮 𝗟𝗶𝗹𝗶𝗮𝗻𝗮, 𝗱𝗮 𝗟𝗼𝘂𝗿𝗱𝗲𝘀, 𝗱𝗼 𝗠𝘂𝗿𝗶𝗹𝗼, 𝗱𝗼 𝗣𝗲𝗱𝗿𝗼, 𝗱𝗮 𝗥𝗮𝗾𝘂𝗲𝗹, 𝗱𝗼 𝗥𝗶𝗰𝗮𝗿𝗱𝗼, 𝗱𝗼 𝗥𝘂𝗶 𝗲 𝗱𝗮 𝗧𝗮𝘁𝗶𝗮𝗻𝗮. Agradecemos todas as escolhas que eles fizeram desde o momento em que se decidiram inscrever nesta formação até ao dia de amanhã que marcará, não o fim de uma etapa, mas o início de uma vida mais comprometida e partilhada na Igreja que somos todos nós. Destacamos a disponibilidade, a humildade, a persistência, a motivação e o carinho que estes formandos sempre nos transmitiram em todos os encontros. E somos infinitamente gratas pela possibilidade que nos deram a nós de partilhar com eles a nossa vida enquanto elementos de uma comunidade orante e pensante.
Desejamos que cada um destes nossos queridos formandos continue a sua descoberta e construção como cristãos que são. E, sobretudo, que caminhem em confiança e na confiança deste Deus que está sempre connosco. Eu, a Beatriz e a Sofia, como comunidade e irmandade que somos e onde somos, estaremos sempre onde vocês nos encontraram pela primeira vez – a abrir-vos as portas de uma Igreja que é para todos, todos, todos. Sempre!
50 dias pascais iniciados naquele momento da mais bela noite anunciada no Precónio Pascal, pela primeira vez cantado, na nossa paróquia, por uma mulher, num gesto de memória pelas mulheres, primeiras testemunhas da Ressurreição a anunciar que Ele estava vivo!
50 dias pascais que terminam hoje, dia de Pentecostes, dia este em que os nossos mais pequenos paroquianos receberam Jesus, pela primeira vez, nos seus corações.
Pelo meio, cantamos a Eucaristia do Domingo de Páscoa, anunciando com os nossos cânticos, as nossas vozes e os nossos instrumentos, a alegria que nunca tem fim, aquela que nos é dada como garantia de uma eternidade feliz.
Tivemos também a graça de, neste tempo pascal, termos tido connosco um grupo de seis jovens peregrinos vindos do Reino Unido que, numa paragem do seu caminho até Compostela, abrilhantaram uma das nossas eucaristias paroquiais com as suas vozes luminosas.
Continuamos com os nossos Encontros de Formação Cristã e aproximamo-nos desse grande dia em que este grupo fará o seu grande compromisso de uma fé adulta, vivida e comunitária.
No nosso encontro mensal “Falar para CRER”, feito, desta vez, num molde mais intimista, refletimos, com muito humor (sempre!) e amor, acerca do mistério da pedra do sepulcro, aquela pedra que mudou toda a nossa história…
Neste tempo pascal, fomos também testemunhas da entrada de dez crianças na nossa família cristã. Poder testemunhar este momento feliz é viver a gratidão através da nossa vida em comunidade.
As nossas Estradas Partilhadas continuam a ser percorridas. Neste período pascal, partimos das músicas para descobrir acontecimentos e perceber como é que os instrumentos que escutamos falam da vida toda em nós.
Não existe Páscoa sem Maria. E no seu mês, numa iniciativa inédita da nossa paróquia, meditamos o terço numa das capelas marianas da nossa cidade.
E quase a terminar este tempo de festa, vivemos o nosso Lausperene Comunitário. Adoramos um Deus que se fez e faz sempre próximo, que quer fazer parte das nossas vidas e que é sempre sinal de eternidade.
50 dias vividos em comunidade e para a comunidade onde vivemos e onde nos tornamos, em cada dia, pessoas de Ressurreição!
Amélia. Deolinda. Dulce. Ermelinda. Fernanda. Margarida. Maria de Lurdes. Melinha. Odete. Paula. Rosa
Os nomes das nossas mães. Os nomes que só de lembrá-los ou dizê-los nos trazem o mundo inteiro de quem somos.
Hoje é Dia da Mãe, aquela que foi, desde o nosso início, a nossa primeira casa, o nosso primeiro abrigo, a nossa primeira fortaleza de amor.
Hoje é dia de agradecer a vida das nossas mães nas nossas vidas. As suas escolhas e as suas dúvidas. As suas alegrias e as suas dores. Os seus abraços e as suas exigências. As suas entregas e as suas dificuldades.
Hoje é dia de celebrar a nossa história de amor vivida com as nossas mães em cada dia que nos foi e que nos continua a ser dado para sempre, mesmo quando a separação física se impõe. Somos quem somos porque as nossas mães construíram os nossos alicerces, cuidaram das nossas raízes, fazendo sempre o melhor que os seus corações lhes diziam para fazer por nós, tendo como único guião o do amor imenso por nós. Sempre.
Neste mês de maio, a Igreja lembra diariamente a figura de Maria. Uma mãe como tantas outras mães. Com dúvidas cobertas de amor. Com medos vencidos pela coragem. Com sofrimentos apaziguados com confiança. A maior lição que as mães e os filhos podem aprender de Maria é a do amor que acontece apesar de tudo o que acontece e quando tudo acontece.
Mãe. A palavra maior que canta amor. A palavra que anuncia beijos e abraços apertadinhos. A palavra que faz bater com intensidade o amor que trazemos no coração. A palavra que é um hino ao infinito.
Feliz Dia da Mãe a todos os que são filhos e mães, porque este dia só pode existir porque existe a maior de todas as relações – a do Amor!
Hoje iniciamos o mês mariano por excelência. O mês dedicado a Maria que, com o seu Sim, modificou o rumo da História e fez história nas nossas histórias pessoais e coletivas. É um mês em que nos dispomos a estar mais atentos à figura de Maria, mais em sintonia com os seus movimentos, mais perto de uma vida que soube dar vida às nossas vidas.
Na nossa paróquia, este mês de Maio é vivido de forma sempre especial. Hoje à noite teremos a procissão de velas, uma caminhada orante iluminada pela luz que trazemos em nós e que queremos oferecer a quem connosco caminha. Durante o mês de Maio, ainda influenciados pela Senhora da Visitação das JMJ de Lisboa, iremos, em comunidade e na comunidade, percorrer as igrejas que fazem parte da nossa paróquia e aí os diversos grupos farão, todas as noites da semana, a sua oração mariana.
Assim, a Comunidade Estrada Clara celebra este mês de Maria na sua paróquia, desta vez na Igreja de Nossa Senhora das Dores. Com cânticos, meditações, silêncio e recitação do terço dedicaremos o nosso tempo a acolher este Sim de Maria. Seguem os horários das celebrações marianas orientadas pela Comunidade Estrada Clara:
– 2 de maio (5.ª feira), às 21h30, na Igreja de Nossa Senhora das Dores
– 9 de maio (5.ª feira), às 21h30, na Igreja de Nossa Senhora das Dores
“Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro:¬ viu e acreditou.” (do Evangelho de São João)
𝗦𝗲𝗻𝗵𝗼𝗿, 𝗲𝘂 𝘃𝗶 𝗲 𝗮𝗰𝗿𝗲𝗱𝗶𝘁𝗲𝗶!
As ruas enchem-se de festa. Todos partilham sorrisos, estendem-se as mãos e os olhares são de esperança. Senhor, eu vi e acreditei!
A tristeza cobriu-se de alegria, o desespero deu lugar à certeza, o fim é o início. Senhor, eu vi e acreditei!
A vida multiplica-se em gestos, os abraços são lugares de acolhimento permanente, a nossa história completa-se na irmandade. Senhor, eu vi e acreditei!
A morte deu lugar à vida, os caminhos encontraram-se, foram cantados os mais belos hinos. Senhor, eu vi e acreditei!
A história fez história, a cruz tem os teus braços sempre abertos para nós, as tuas palavras guiam-nos e libertam-nos dos medos passados. Senhor, eu vi e acreditei!
As quedas deram-nos a oportunidade de nos reerguermos, as feridas curaram-se com o Amor, sempre e só o Amor. Senhor, eu vi e acreditei!
As perguntas transformam-se em respostas, a dor fica coberta com outro significado, o aleluia é a palavra-chave que nos abre todas as portas. Senhor, eu vi e acreditei!
O silêncio preparou a alegria, o choro antecipou os risos, a noite trouxe a luz que precisamos para compreender e sentir a tua presença em nós. Senhor, eu vi e acreditei!
Hoje é Páscoa. Não é uma mera data num calendário, um feriado onde não se trabalha. Hoje é Páscoa. Ele está vivo! E nós estamos vivos porque Ele está vivo! Senhor, eu vi e acreditei. És tu! Foste sempre tu! Que a minha vida seja sempre reflexo da tua morte e ressurreição, das tuas quedas mas sempre da tua vitória sobre a morte! Senhor, eu vi e acreditei!
Uma Feliz e Luminosa Páscoa para todos vós neste caminho sempre pascal em que, juntos, fazemos e somos comunidade!
“Bendito o que vem em nome do Senhor!” (do Evangelho de São Mateus)
Uma reflexão para o Domingo de Ramos
Ele vem! E nós, alegres e cheios de sol, deixamos que Ele entre. Abrimos as janelas da alma, escondemos as tristezas, vestimos as roupas mais bonitas, damos os nossos melhores sorrisos.
Ele vem! Trazemos risos, batemos palmas e levantamos os braços. Vamos juntos, caminhamos com a velocidade que o coração nos pede e com a certeza que Ele nos dá de que estarmos no lugar que nos espera.
Ele vem! Ouvem-se vozes cheias de alegria, estendem-se os braços que embalam confiança. Nada nos perturba, nada nos incomoda, nada nos esmorece.
Ele vem! Temos os nossos corações preparados para este Amor, para esta entrega, para esta Luz. Nada mais importa a não ser a agitação de quem se prepara para fazer uma grande festa!
Ele vem! E a história d’Ele podia ter terminado aqui. Com aclamações e juras de amor. Com festa e muitas palmas. Com abraços e promessas.
Mas Ele quis que fosse de outra forma, para mostrar que o caminho teria de ser outro, que os desafios e os obstáculos existem para serem abraçados. E que a vida d’Ele em tudo se assemelha à nossa. Com quedas e levantamentos, com alegria e apatias, com gargalhadas e nós na garganta.
Por isso, Ele atravessa esta Semana Maior. E muitos dos que O seguiram, já não fizeram o resto do caminho com Ele. Não era bem este Rei que desejavam… Mas nós, hoje, temos sempre a outra opção. A de ir. Com Ele. De seguirmos por esta Semana com Ele. Então, o que esperamos? Vamos!
Os nomes dos nossos pais. Nomes carregados de histórias, de vidas, de risos e de lágrimas, de férias e de trabalho, de certezas e de perguntas, de abraços e partidas, de tempo e de espaço. Somos o que somos porque estes são os nossos pais. No dia do nosso nascimento não fomos só nós que nascemos. Nesse dia, os nossos pais nasceram connosco, com cada filho. Por isso, a nossa base está nestes homens. Fizeram por nós o melhor que sabiam num tempo em que muito pouco sabiam. O resto será sempre da nossa responsabilidade, daquilo que escolhemos fazer com o que nos foi dado. A vida vai se encarregando de nos dar a possibilidade de amarmos cada vez mais os nossos pais, de os olharmos com carinho e compreensão, de lhes sermos gratos, de perspetivarmos memórias guardadas.
Por isso, hoje é dia de celebrar e de agradecer. Aqueles que nos amaram primeiro mesmo antes de nos conhecerem. Aqueles que nos sonharam e que nos deram o primeiro colo. Aqueles que hoje podemos abraçar ou lembrar. Aqueles que são imortais nos nossos corações. Aqueles que nos deram o seu coração. Os nossos pais.
A Igreja lembra hoje também a figura paternal de São José, muitas vezes relegado para um plano mais secundário. José foi educador, sonhador, acolhedor. Numa sociedade patriarcal, foi chamado a amar a escolha de Maria, prova de amor irrefutável para com a sua mulher amada e o seu filho. José foi um desafiador de normas para que o bem se instalasse entre nós. Mesmo não compreendendo tudo, ele tudo fez para que os planos de Deus se concretizassem. Que possamos nós também olhar para este Pai e desejar atravessar com serenidade os desafios que a vida nos propõe.
Feliz Dia do Pai a todos os que são filhos e pais, porque este dia só pode existir porque existe a maior de todas as relações – a do Amor!
Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara
“Se conhecesses o Amor de Deus, tu correrias até o encontrar.» (a partir do Evangelho segundo São João 4, 1-29)
“Se conhecesses o amor de Deus, tu correrias até o encontrar” cantamos no refrão de uma das músicas mais bonitas que o Jorge compôs. Nesta simples frase condicional está toda a condição de vida do Cristão, está toda a razão do movimento humano – o Amor. Mas não um amor qualquer, não um sentimento passageiro, não uma mera emocionalidade. O Amor de Deus é aquela força maior que ultrapassa todo o entendimento humano, que nos torna fortes nas nossas fragilidades, que nos faz capazes de ver o que é invisível. Por isso, ter a possibilidade de poder viver este Amor maior é o maior dos presentes que podemos receber. Ou como gostava de dizer o Jorge, é uma “riqueza”. Quando escolhemos viver cada dia nosso guiados por este Amor de Deus, a vida torna-se muito maior porque o nosso coração está mais disponível para acolher, para se doar, para compreender. E quando encontramos este Amor, não há outro querer a não ser o de corrermos para ir ao encontro de quem nos ama tal como somos.
Deus sonhou-nos para a felicidade. Há dentro de cada um de nós um grito de vida que nasce connosco e que é esta vontade de nos sentirmos plenos. E esta plenitude, buscada em tantos lugares, procurada em tantos espaços, só é vivível quando nos deixamos levar pelo amor de Deus, ou seja, quando escolhemos viver com a nossa vida a vida que Deus criou para nós. Uma vida que não está isenta de sofrimento, mas que é acompanhada amorosamente nesse sofrimento. Uma vida que nem sempre é aquilo que nós esperávamos que fosse, mas que se enche da presença divina nas novidades que vão surgindo.
“Se conhecesses o amor de Deus, tu correrias até o encontrar”. O verbo correr é, sem dúvida, uma das palavras ilustrativas da geração a que pertencemos. “Andas sempre a correr”, “Já vais embora a correr”, “Andei o dia todo a correr de um lado para o outro”, são alguns exemplares inseridos nos diálogos que atualmente vamos mantendo uns com os outros durante as nossas maratonas diárias. E, tantas vezes, nos acomodamos e até nos alegramos com estas correrias desenfreadas, que nos roubam tempo e espaço para podermos simplesmente ser… Os dias esmagam-nos, a agitação diária corrompe-nos, leva-nos tantas vezes a alma e, se não estivermos atentos e preparados, deixa-nos mesmo na lama. Vivemos como se tudo dependesse só de nós, como se tudo fosse sempre de possível controle, como se conseguíssemos eliminar todos os imprevistos da vida. Envaidecemo-nos com os dias cheios de compromissos e obrigações, onde tudo nos parece importante e insubstituível. Colocamos todo o nosso esforço e dedicação em tantas coisas efémeras e passageiras. Adjetivamos as horas do dia como rentáveis e descartamos a quietude e o prazer que advém daquilo que é tão simples. No nosso íntimo, sabemos que há algo de errado nesta forma de viver e até desejamos mudar, mas nem sempre conseguimos. Há sempre motivos e razões válidas que nos mantêm nesta corrida. Investimos nos troféus errados, gastamo-nos em tarefas que se esgotam a si próprias e passamos a ser só um mero instrumento de trabalho sujeito à erosão dos dias. E as vidas enchem-se de frustração, de expectativas não superadas, de desilusões dolorosas.
É então precisa coragem para sabermos dizer não a esta lógica mercantil que domina a vida humana. É precisa assertividade para não nos deixarmos deslumbrar pela vaidade de sermos reconhecidos. É precisa determinação para não nos transformarmos em números e percentagens. É preciso ser diferente para não nos deixarmos paralisar pelas exigências mundanas. É preciso querer seguir uma vida simples sem desistir quando chega o primeiro obstáculo. A perseverança não é um caminho de facilidade, mas leva-nos à essencialidade daquilo para o qual fomos chamados. Há que viver com atrevimento e ousadia numa sociedade que nos quer impor um pensamento exclusivamente racional e, por isso, limitador.
Há um imperativo da aceleração que devemos combater. Devemos parar. Para pensar. Para refletir. Para nos encontrarmos. Para nos questionarmos. Para onde corremos nós? O que nos move? O que nos motiva a fazer caminho? O que preenche o meu coração? O que levo nas minhas mãos? O que me faz dizer sim? O que dou de mim à vida que me foi dada? Corro para quem? Onde e a quem entrego o meu coração?
“Abdica e serás rei” é um dos versos mais iluminados de Ricardo Reis. Foi precisamente esta a escolha de Jesus e a dos muitos homens e mulheres de boa vontade que lhe seguiram. Abdicar não implica perder. Abdicar não é ficar com o prémio de consolação. Abdicar é sinónimo de dar oportunidade a que a minha vida e a pessoa que eu sou ganhem mais espaço para ser. Abdicar do que é negativo, do que me aprisiona, do que me faz sucumbir às minhas fragilidades, do que me afasta da minha verdade. Abdicar do ter tudo para poder ser tudo. Abdicar das máscaras que me escondem para abraçar a verdade do que sou. Aquilo que vou sendo depende muito mais daquilo que abdico do que daquilo que conquisto.
O Cristianismo é altamente desafiador porque quem quer viver no concreto a ideologia cristã tem de aceitar viver num mundo às avessas. O Cristão é aquele que dá sem troca, que ama contra o ódio, que acolhe o que é desprezado. O Cristão é aquele que assume a lógica da salvação gratuita num mundo em que tudo é comercializado e comercializável.
Por isso, o Cristianismo salva-nos na medida em que a mensagem cristã nos garante que podemos ser apenas quem somos, sem necessidade de títulos ou papéis, carreiras ou prémios. Aos olhos de Deus, somos únicos e irrepetíveis e o que verdadeiramente importa (e efetivamente salva!) é aquilo que trazemos no nosso coração e o que fazemos pelo bem comum. Por meio de seu filho, Deus deixa-nos a maior das promessas: ele estará sempre connosco até ao fim do nosso tempo. É esta promessa que nos salva e nos leva a viver cada dia ancorados na confiança e na persistência deste amor.
Gosto muito da fotografia que escolhi para acompanhar este meu texto. Nela vejo a Clarinha e o Tomás – os meus amados sobrinhos do coração – quando eram mais pequeninos. Não lhes vejo as expressões, mas adivinho-lhes a alegria gigante e a felicidade plena que sentem por poderem estar no meio da natureza. Sinto-lhes a liberdade de poderem ser quem são sem preconceitos nem medos paralisantes. Decifro-lhes o entusiasmo maior de seguirem caminho acompanhados na irmandade. Eles sabem para que(m) correm. Eles sabem bem porque correm. Correm com o coração pequenino mas cheio de uma vida grande. Correm pelo coração maior a transbordar de vontade de encontrar o Infinito. Corramos também junto com eles! Não nos detenhamos, não nos boicotemos. Não tenhamos medo de escolher o que realmente importa! Não tenhamos receio de nos darmos, de fazermos comunidade, de participarmos sem reservas no dom gratuito que é a maravilha de viver. Quem compreende o Amor de Deus, compreende que a vida quer viver, que é sempre mais forte, mais soberana. Que esta alegria tão pura e doce nos contagie e nos faça também correr, sempre com vontade e decisão, ao encontro da nossa Terra Prometida.
Quarenta dias. De oportunidades, de recomeços, de mudanças. De decisões a serem tomadas a cada dia que nos é dado com a certeza única de que fazemos e somos sempre caminho.
Quarenta dias. Para me deixar cair no colo de Deus e para me permitir que o seu Amor me erga bem alto, bem naquele lugar onde os sonhos se cruzam com a realidade, onde a vida é sempre maior, onde o coração voa até ao infinito.
Quarenta dias. Para acolher medos e inseguranças e para transformá-los em força e ação, instrumentos de peregrinação para a Terra nossa Prometida.
Quarenta dias. Para perceber que o sofrimento e a dor caminham de mãos dadas com um Deus que só me quer bem e nunca me deixa sozinha.
Quarenta dias. Para preparar, com serenidade e alegria, aquela manhã gloriosa em que a Vida vence todas as minhas mortes e as feridas são saradas com compaixão e amor.
Quarenta dias. De silêncios e de ruídos que falam e silenciam tudo que se vê e só se compreende com um coração que escolheu amar à medida de Deus.
Quarenta dias. De luzes e de sombras, nessa mistura que a vida faz todos os dias e que me pede que seja um peregrino que observa, que contempla, que avança mas também recua.
Quarentas dias. De espera e de expectativa. De acolhimento a este Jesus que me transforma, me inquieta, me mostra que na loucura de uma entrega na cruz está toda a minha salvação.
Quarenta dias. De solidão e de deserto, esse espaço onde me recolho para escutar quem sou e onde preparo a minha escolha de viver mais o dom de cada dia.
Quarenta dias. Não para viver em penitência, mas para acolher o que também me faz sofrer. Não para viver o desespero, mas para seguir a via da esperança que também existe numa cruz. Não para me culpabilizar, mas para descobrir um novo entendimento do que significa falhar.
Quarentas dias que nos levam ao Dia Maior dos nossos dias, ao Dia da Vida prometida, luminosa e erguida. Quarenta dias que nada valem se não forem vividos com a certeza que há aquele Dia de Páscoa Eterna que espera por mim, por ti, por cada um de nós.