Domingo de Pentecostes
Cada dia da nossa vida é um dia de Pentecostes
Nesta festa do Pentecostes nós percebemos melhor como cada um de nós, e todos nós em conjunto, somos uma consequência do Espírito Santo. Cada dia da nossa vida é um dia de Pentecostes. O dia de Pentecostes não foi apenas aquele dia, concreto, em que o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos reunidos no cenáculo. O Pentecostes passou a ser o tempo da Igreja, passou a ser o tempo do mundo, o tempo de cada crente. Porque, em cada dia, o Espírito Santo vem em nosso auxílio, o Espírito Santo desce sobre nós, o Espírito Santo está connosco, testemunha o amor de Deus no nosso coração. Diz ao nosso coração: “Podes acreditar em Deus, confia Nele, Deus é credível, podes amá-lo, podes confiar no Seu amor e na Sua Palavra.” O Espírito Santo vem até nós como defensor, não deixa que a voz da noite fale ao nosso coração, não deixa que a voz da sombra ou da violência ou do temor se sobreponham à voz, tantas vezes frágil, da própria esperança, da própria confiança.
O Espírito Santo vem até nós como laboratório da criatividade, da invenção de Deus no nosso coração. Porque o alfabeto com que Deus Se escreve é sempre novo, em cada pessoa, em cada crente, em cada tempo, em cada dia, em cada instante. O Espírito Santo é essa criatividade em ato que nos estimula a sermos diferentes, a sermos originais. E conspira para, na nossa diferença, na nossa singularidade irredutível, nós nos conseguirmos entender, conseguirmos criar laços de fraternidade, conseguirmos ser um único pão partido e distribuído para a fome do mundo. Por isso, nós somos consequência do Espírito Santo,
Queridos irmãs e irmãos, recebamos o Espírito Santo. Este Espírito que é múltiplo. Um cristão tem de ser singular. Cada um de nós tem de viver a fé na sua criatividade, a fé também é fantasia de acreditar. A fé também é um exercício de imaginação. Nós temos de ser diferentes. Temos de receber o Espírito Santo e fazer com Ele a nossa viagem, o nosso caminho.
José Tolentino Mendonça in Homilia na Solenidade de Pentecostes (2016)
Segunda-feira
Espírito Santo: apoio e consolação
Se Cristo não tivesse ressuscitado e não tivesse enviado o seu Espírito Santo, não estaria presente no meio de nós. Ficaria como uma personagem notável entre tantas outras na história da humanidade. Não seria possível comunicar com ele. Não ousaríamos dizer-lhe: “Jesus Cristo, é em ti que me apoio em cada momento; e mesmo quando não consigo rezar, tu és a minha oração.”
Antes de deixar os seus discípulos, Cristo assegurou-lhes que lhes enviaria o Espírito Santo como apoio e consolação. Por isso, podemos fazer esta descoberta: tal como Cristo esteve presenta na terra junto dos seus, hoje, pelo Espírito Santo, ele continua a estar presente para todos nós.
Mais percetível para uns, mais encoberto para outros, ele está misteriosamente presente. Esta presença misteriosa é invisível aos nossos olhos. A fé permanece sempre, para todos, uma humilde confiança em Cristo e no Espírito Santo.
Irmão Roger de Taizé in “Deus só pode amar”
Terça-feira
Esperança da Ressurreição
O Pentecostes é a irrupção da novidade, do inesperado. Pelo Espírito Santo, é o próprio Deus que vem habitar em nós. Sem intermediários, coloca-se ao nosso lado. É para nos fazer entrar numa relação pessoal com Deus que o Espírito Santo nos é dado.
Deixemos crescer nas nossas vidas os frutos do Espírito: “Amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio.” (Gálatas 5, 22-23). O Espírito leva-nos a caminhar em direção aos outros e, em primeiro lugar, em direção aos mais abandonados. Numa solidariedade concreta com os pobres, a luz do Espírito Santo pode inundar a nossa vida.
O Espírito Santo está hoje a agir. Ele repete incessantemente, no nosso coração, o amor de Deus. Felizes os que não se abandonam ao medo, mas se deixam conduzir pelo sopro do Espírito. Ele é também a água viva, o Espírito de paz que pode irrigar o nosso coração e, através de nós, comunicar-se ao mundo.
Espírito Santo, Tu estás sempre connosco. Mesmo se temos dificuldade em compreender a tua presença, através de Cristo, sabemos que habitas os nossos corações. És o consolador e põe-nos a caminho em direção aos outros para que a esperança da ressurreição renove a face da terra.
Irmão Alois de Taizé in “Ousar acreditar – a celebração da fé em Taizé”
Quarta-feira
Portas abertas
Ao Espírito que sopra como o vento leve e imprevisível dos anoiteceres de primavera, peço que não deixe que eu me engane ao viver o passado ou o futuro sem viver o hoje.
Peço ao Espírito para ser como o fogo que me aquece nos dias de inverno, esse fogo que me impele a ser forte comigo e com a vida, de me fazer violência quando o desejo não se torna vontade, e quando não forço o sonho a tornar-se realidade.
Peço ao Espírito que me faça falar com amor, com aquela única linguagem que todos compreendem, amigos e não amigos, crianças e idosos, crentes e não.
Peço ao Espírito Santo a unidade nas nossas diversidades, porque só se estivermos unidos o mundo se desarmará; um Espírito que desça sobre todos e seja para todos, que congregue as pequenas labaredas espalhadas neste mundo.
Peço ao Espírito a coragem de romper as nossas atitudes de defesa, o nosso estar atrás dos muros, o nosso medo que escondemos por trás das leis e das normas.
As portas do cenáculo, abertas para o mundo, continuam a dizer-nos que o Espírito sopra onde quer e quando quer, e que é preciso muita atenção, para lhe colher a sua leve presença. Aquela porta aberta diz-nos também que não podemos contê-lo, mas só segui-lo e dar-lhe espaço.
Luigi Verdi in “Avvenire”
Quinta-feira
Espírito Santo: ensinar, recordar, falar
Falando aos apóstolos na Última Ceia, Jesus disse que, após a sua partida deste mundo, enviar-lhes-ia o dom do Pai, isto é, o Espírito Santo. Esta promessa realiza-se poderosamente no dia do Pentecostes, quando o Espírito Santo desce sobre os discípulos reunidos no Cenáculo. Aquela efusão, ainda que extraordinária, não foi a única nem limitada àquele momento, mas foi um acontecimento que se renovou e continua a renovar-se. Cristo glorificado à direita do Pai continua a realizar a sua promessa, enviando sobre a Igreja o Espírito vivificante, que nos ensina, nos recorda e nos faz falar.
O Espírito Santo ensina-nos: é o Mestre interior. Guia-nos pelo caminho certo, através das situações da vida. Ele ensina-nos a estrada, a via. O Espírito Santo ensina-nos a seguir Jesus, a caminhar seguindo os seus passos. Mais do que um mestre de doutrina, o Espírito Santo é um mestre de vida.
O Espírito Santo recorda-nos tudo o que Jesus disse. É a memória viva da Igreja. E ao mesmo tempo que nos recorda, faz-nos compreender as palavras do Senhor. Com a ajuda do Espírito Santo, podemos interpretar as inspirações interiores e os acontecimento da vida à luz das palavras de Jesus. E assim cresce em nós a sabedoria da memória, a sabedoria do coração, que é um dom do Espírito Santo.
E o Espírito faz-nos falar com os homens no diálogo fraterno. Ajuda-nos a falar com os outros, reconhecendo-os como irmãos e irmãs; a falar com amizade, com ternura, com suavidade, compreendendo as angústias e as esperanças, as tristezas e as alegrias dos outros.
Papa Francisco in Homilia na Solenidade de Pentecostes (2014)
Sexta-feira
Pentecostes
Espírito Santo, sopro de nova criação,
Tu renovas o nosso tempo interior.
Enxugas os turbilhões dos nossos medos.
Agitas o pessimismo em que aprisionamos a vida.
Iluminas o profundo, mostrando tanto bem que ignoramos.
Incitas nossas mãos para o dom de si.
Entusiasmas os crentes
para que se revelem como filhos de Deus.
Preparas a reconciliação
como o vinhateiro prepara a sua vinha.
Seguras, firme, o fio da esperança
do qual tudo se suspende.
Alegras, em todos os quadrantes,
aqueles que vislumbram a tua dança.
Decifras a prece que o nosso silêncio te murmura.
José Tolentino Mendonça in “Um Deus que dança”
Sábado
A Humanidade precisa que o Espírito a sacuda
Jesus fala da nossa história com Deus com verbos conjugados no futuro: o Espírito virá, anunciará, guiará, falará. Um sentido de vitalidade, de energia, de espaços abertos! O Espírito, como uma corrente que arrasta a História para o futuro, abre veredas, faz avançar. Rezar-lhe é como assomar à varanda do futuro. Que é a terra fértil e por cultivar da esperança.
O Espírito provoca como um curto-circuito na História e no tempo: restitui-nos ao coração, acende em nós a beleza de gestos e palavras daqueles três anos de Galileia. Enamorados da beleza espiritual, tornamo-nos «buscadores verdadeiros de Deus, que tropeçam numa estrela e, tentando caminhos novos, se perdem na poeira mágica do deserto» (D.M. Montagna).
O que é o Espírito Santo? É Deus em liberdade. Que inventa, abre, sacode, faz coisas que não esperas. Que dá a Maria um filho fora-da-lei e a Isabel um filho profeta, e que em nós cumpre incansavelmente a mesma obra de então: torna-nos ventres do Espírito, que dão carne e sangue e história à Palavra.
Deus em liberdade, um vento nómada, que leva pólenes aonde quer, leva primaveras e dispersa as neblinas, e a todos nos faz vento no seu Vento. Deus em liberdade, que não suporta estatísticas. Os estudiosos procuram recorrências e esquemas constantes; dizem: na Bíblia Deus age assim. Não acredites. Na vida e na Bíblia, Deus nunca segue esquemas.
Precisamos do Espírito, dele precisa o nosso mundo estagnado, sem impulsos. Para esta Igreja que tem dificuldade em sonhar. O Espírito com os seus dons dá a cada cristão uma genialidade que lhe é própria. E a humanidade tem necessidade extrema de discípulos geniais.
Precisamos que cada um acredite no seu dom, na sua unicidade, e assim possa manter elevada a vida com a inventiva, a coragem, a criatividade, que são dons do Espírito. Então nunca faltará o vento ao meu veleiro, ou àquela pequena vela que se agita alta no vazio do mar.
Ermes Ronchi in “Avvenire”