O que é feito da vossa alegria?

José Tolentino Mendonça, O pequeno caminho das grandes perguntas, Quetzal Editores

Como é que cada um de nós vive a alegria? É uma pergunta fundamental, mesmo no quadro da fé. Como vivo a alegria? às vezes damos por nós tristonhos, numa espécie de terra de ninguém, anoitecidos, com o peso de mil crepúsculos no olhar, esmagados por uma solidão que parece que ninguém pode mais redimir. O que é feito da nossa alegria? Onde está essa alegria que Deus derrama em nós continuamente? É um evangelho necessário, mas difícil, o da alegria. Sentimos que ela nos escapa. Intuímo-la precária, inacabada, improvável, imperfeita. E muitas vezes não está onde a procuramos.

Ora, a alegria, sendo um dom, também é uma conquista. Sendo experiência de pura graça, é também uma tarefa, na qual somos chamados a investir esforço e empenho. Em alguns momentos raros, parece que, dentro e à volta de nós, tudo se conjuga para que uma transparência brilhe nítida e uma luz se amplie. Mas esse não é o modo normal. Se reduzirmos a alegria apenas a esse estado de graça, só esporadicamente provaremos do cálice da alegria. É muito belo o movimento quase gráfico das palavras de Jesus no Evangelho: “Alegrem-se porque os vossos nomes estão escritos no céu.” Lucas 10, 20