Testemunhos sobre a vida do Jorge

Testemunho da Tânia

O Jorge não morreu. Todos nós, que convivemos com ele neste nosso dia‑a‑dia, sabemos disso. E quão gratos somos pela sua presença, inteira e viva, nas nossas vidas.

O Jorge é um ser cheio de palavras, de canto e de gritos de glorificação — de fé feita corpo na voz. Mas também muito feito de silêncio. De um silêncio largo. De comunhão consigo mesmo e com Deus, no que Ele É de mistério imperscrutável. E o Jorge ensina-nos esse desafio difícil: o de mergulharmos em nós mesmos e sentirmos a responsabilidade de sermos Deus feito Amor na Terra dos Homens.

As minhas memórias do Jorge estão tão presentes como a presença dele. E são tantas… A minha primeira ida a um concerto do Festival de Música quando eu era criança… As tardes em sua casa, estudando no seu generoso piano, quando ainda não tinha o meu… O nosso júbilo — do Jorge, da Cristina, da Lara e meu — quando intensamente movidos por grandes vagas do mar da Póvoa em Agosto… O Jorge a criar através da escrita, que lhe saía dúctil em letras maiúsculas… O seu olhar atento, mas quase sempre irónico, questionador numa interpelação constante e incómoda… Quanta gratidão, quanta vida viva!

E nós continuamos aqui, Jorge, a missão para que nos convocaste através do teu exemplo. Para nós, és a encarnação da sublime Glória de Deus.

Verdadeiro apóstolo, a tua Luz brilha diante de nós, Homens, Jorge!

Testemunho da Joana

Querido Jorge,

escrevo este testemunho sobre a tua vida em jeito de carta, ou melhor, em jeito de  conversa, aquela conversa cujas circunstâncias da vida e efemeridade do tempo não permitiram que acontecesse antes da tua partida. Tenho a certeza, no entanto, que esta mensagem que te dirijo hoje já a terás recebido, em oração, nesse lugar repleto de paz onde te encontras. Muitas palavras poderiam ser ditas, de tantas que são as memórias, aprendizagens e momentos contigo vividos mas gostava sobretudo de te dizer “OBRIGADA”.

Talvez não saibas, mas as minhas primeiras memórias de ti vêm ainda do tempo da catequese, dos dias em que havia ensaio para a missa da comunhão. Recordo-me de ti, a entrar por aquela sala carregada de miúdos, com aquela energia e alegria por ensinar e ensaiar que sempre te caracterizaram. Eu estava lá para o meio, contente por naquele dia haver ensaio.  E que bonita foi a comunhão!

Contigo e graças a ti, para além dos múltiplos ensaios do coro, tive oportunidade de ter aulas de canto, e que maravilhosa e gratificante experiência foi. Posso dizer que durante estas aulas aprendi muito mais que canto, aprendi perseverança, autoconfiança, aprendi que todos temos uma voz.  Há algo que me disseste numa destas aulas, talvez não por estas exatas palavras, mas que me marcou: a nossa voz é uma das nossas maiores dádivas, daí a importância de a conhecermos e de a trabalharmos, para que possamos ser uma presença e afirmarmo-nos enquanto pessoa em qualquer lugar ou circunstância da nossa vida. Que mensagem tão simples mas poderosa que me deste naquela dia. Trago-a sempre comigo.

Contigo aprendi e cresci, muito, em cada momento um bocadinho mais com cada partilha e reflexão. No grupo de jovens, nos acampamentos em São João D’Árga e nas suas infindáveis caminhadas, no retiro que fizemos, em Taizé, nas Jornadas Mundiais da Juventude, nos vários passeios do grupo (em que curiosamente sempre chovia!), nas idas à Casa da Música, em cada oração em vossa casa… e também nas repetidas e seguidas volta às rotundas que tanto gostavas de dar! Em todos estes momentos recordo-me de ti sempre com um olhar atento e vigilante, de dedicação aos outros, à música e à Igreja. Obrigada por ter podido partilhar estes momentos contigo.

Recordo-me de um pôr-do-sol que fomos ver num dos acampamentos em São João e do momento de silêncio que lá fizemos. Foi muito bonito. Espero que toda a paz, serenidade e alegria vividas naquele momento te possam acompanhar para a eternidade.

Termino como comecei, Jorge, a agradecer-te. Mais do que um animador do grupo de jovens, um ensaiador, um professor de canto, foste e és um amigo. Obrigada pela tua amizade de tantos anos e por teres sido o amigo que me ajudou a abrir horizontes e a descobrir a minha voz.

Testemunho da Cristina Castelo

Jorge!

Conhecemo-nos há uma vida: 32 anos de uma amizade baseada no amor, ma compreensão, na diversão e até no desabafar tipo médico e paciente! A nossa união maior foi através da música e do órgão que decidimos aprender ao mesmo tempo. Inscrevemo-nos no Bazar Musical onde aprendemos e nos divertimos imenso! Tive o privilégio de acompanhar a tua caminhada musical onde chegaste até ao patamar do supremo! Pelo meio, passamos, jantamos, cantamos na casa de fados, traduzimos imensos cânticos franceses, fizeste muitos salmos que me pedias para interpretar.

Enfim, foi uma vida plena de aprendizagem da minha parte: contigo aprendi a ser melhor pessoa, a dar valor ao que realmente interessa, a considerar Deus o melhor companheiro da nossa viagem e a ultrapassar as pedras do caminho com a nossa fé!

Obrigada, amigo, pelo que me deste!

Obrigada por teres sido o companheiro de tantas horas  e continuarás a sê-lo, independentemente de um céu a separar-nos!

Nada temerei nesta vida porque sei que vais estar sempre comigo!

Até sempre! Meu eterno Jorge!

Testemunho da Catarina

Ao Jorge

Das primeiras memórias que tenho é a de termos um piano na sala. Durante a sua estadia lá em casa, sempre me despertou curiosidade e foi o primeiro instrumento no qual alguma vez tentei tocar. Apesar de ocupar um lugar de destaque na “sala grande”, logo percebi, para minha desilusão, que ninguém lá em casa tocava piano. Quase tão rapidamente descobri que tu, Jorge, o grande amigo da minha irmã Ana, é que masterizavas o piano, nas missas das 7, nas catequeses, nos ensaios, nos musicais… E lá ia eu para casa com essas músicas todas na cabeça e a tentar tocar algo nas teclas do piano da sala, mas sem grande sucesso. Esse foi o primeiro momento em que pensei “eu quero ser assim, eu também quero comunicar com a música”.

Por sorte, acabaste por ser o meu primeiro professor de música, ainda na Escola do Século.  E tão inesperado foi quando, perante uma turma de crianças de 9 anos, escolheste ensinar-nos o que era fazer silêncio! Claro está que, para um professor, incutir o silêncio na sala de aula é importante, mas aquele não era um simples silêncio. Foi a primeira vez que no silêncio consegui encontrar música. Sem dúvida, eras um professor fora da caixa e para mim sempre foi uma bênção ter oportunidade de te ver ensinar como tu tão bem fazias e de contigo aprender sempre que conseguisse…   

Depois da sala de aula, vieram as salas de ensaio e tantas tardes em que te observei a trabalhar cada pessoa ali, insistindo as vezes necessárias, numa incessante busca pelo melhor de cada um que te procurou. E nem sempre foi fácil procurar-te, ou não fosses tu uma pessoa que sempre vi deixar os apáticos desconfortáveis. Fosse a repetir o ritmo da entrada de qualquer música pela 15ª vez ou a subir os montes mais íngremes. Em todas essas situações, lá estavas Tu a abrir caminho, como um grande Maestro do melhor de cada um dos que te rodearam.

Mais tarde, foi sentada ao teu lado que comecei a tocar música na igreja. Para mim, era mágico estar nesse lugar, do teu lado, ver-te escolher a música seguinte, tentar acompanhar-te sem perder ritmo, apreciar cada música nova que o grupo fazia, como orientavas o coro e os instrumentos… Para mim, foi um privilégio aprender contigo, Jorge, que sempre sabias o ritmo a que devíamos ir ou como escalar qualquer montanha à nossa frente.

Sei que me disseste para continuar sempre a tocar pela vida fora, ou não fosse esse o “ritmo” que sempre vi em ti, o da música, liberdade, caminho… Para mim continuarás sempre vivo, nos acordes e silêncio, sorrisos e olhares, nas palmas e na oração… Em todos esses ritmos que levarei comigo sempre!

A pintora da nossa sala de oração!

Testemunho da Teresa

“Deus também tem um sonho para ti”, disse-me o Jorge num dos nossos retiros em Soutelo.

Jorge,

contigo aprendi a rezar e a compreender o que é isto deste sonho que Ele tem para cada um de nós. Ensinaste-me o poder que a música pode ter em cada um de nós! Mostraste-me que não temos de ter medo do silêncio e como, de uma forma surpreendente, esse mesmo silêncio nos pode levar até dentro de nós para nos encontrarmos e O encontrarmos.

Encontrei em ti Jesus! Encontrei Jesus em cada um de nós que compartilhamos estas experiências, seja numa subida às montanhas, seja num mergulho nas águas geladas das lagoas, seja nos nossos momentos de reflexão.

Obrigada por me teres proporcionado cada um destes momentos que me levaram mais alto e me fizeram viver este sonho de Deus!

“Deus tem um sonho e fará o seu sonho tornar-se realidade através de nós. Porque nós somos os seus parceiros. Nós somos aqueles que Ele enviou.(…) Nós transformaremos a nossa tristeza em resolução, o nosso desespero em determinação.” Desmond Tutu in “Deus tem um sonho”

Testemunho da Cristina

Jorge…

o que me resta depois de todo este tempo é agradecer-te. Agradecer-te por guiares o meu coração até Deus. Talvez nem tu saibas o quanto foste importante e influente na minha fé e no meu caminho, mas a verdade é que cresci muito contigo. Obrigado por todas as reflexões, todas as meditações, todos os silêncios. Ás vezes perguntava-me o interesse de estarmos sentados no cimo de um monte em silêncio…só em silêncio. Mas à medida que o tempo passou percebi a importância de tudo aquilo que me ensinaste. Quando a vida colocou à prova toda a minha fé, foi a tua música que me acalmou e foi o silêncio que me serviu muitas vezes de conforto. 

“E, no fundo, o nosso caminho cristão não é outra coisa do que tentar compreender o que é isto, o que é isto para mim, o que significa isto para a minha própria vida.”  (José Tolentino Mendonça)

Só me resta dizer obrigado meu grande e eterno Amigo.

O Jorge desenhado pela Cristina em 2006

Testemunho da Elsa

JORGE

Justo, otimista, rigoroso, gentil, estudioso

Quando penso no Jorge, sinto a sua presença a todo o momento. Não consigo pensar nele sem chorar, pois, ainda não acredito que não está entre nós.

O Jorge não era simplesmente um amigo, era um companheiro de vida, um marco incontornável de sensibilidade e delicadeza. A sua estatura e aspeto em nada demarcavam a sua gentileza e cuidado em tudo com que se relacionava.

Neste testemunho, escrevo e relato a maneira como o Jorge gentilmente acolheu a minha maneira de ser e a acompanhou ao longo dos anos.

Conheci o Jorge nas aulas de Formação Musical e admirava-o pela sua postura perante tudo: as aulas, as situações, as pessoas… transmitia uma serenidade um pouco estranha para a vida que levávamos na época. Eu sempre quis aprender mais e mais, mas tinha muita pressa o que se opunha à calma e serenidade que o Jorge transmitia a todo o momento.

Foi essa maneira de ser que eu aprendi com o Jorge, a ter calma, a trabalhar com brandura e ternura, a não desesperar…

Alguns anos mais tarde, o Jorge convidou-me para tocar saxofone com ele e o coro na igreja Matriz, e eu fiquei encantada, pois desde pequena pensava que, perto do altar onde se encontrava o padre, existia um concerto muito bonito, mas que eu por ser pequena (baixinha) não conseguia ver nem entender como se processava isso.

Para além de o acompanhar a organizar os cânticos e escrever pequenas melodias para os instrumentos que acompanhavam na altura a celebração eucarística (violino, flauta transversal, trompete, saxofone), o Jorge também me convidou para participar nas atividades e encontros com o grupo de jovens que na altura ele animava e do qual era responsável.

Fiquei encantada, pois gostava muito de participar nas atividades propostas e nas aventuras que daí advinham: casamentos, bodas, celebrações (domingo de Ramos, missa do Galo, novenas, orações, …), vigílias, acantonamentos, retiros, encontros de jovens, missas, passeios, Dia J (28 dezembro), viagens, musical “JESUS É VIDA”, festivais de música, concertos, acampamentos, Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), e peço desculpa se faltam mais, que devem faltar.

Ao mesmo tempo que participava nessas atividades, encontrava-me a cumprir serviço militar na Marinha de Guerra Portuguesa, que por razões externas a mim, teve de se prolongar por mais algum tempo. Durante esse tempo, eu participei em todas as atividades que consegui com o grupo e foi o que me salvou, pois na altura não sabia muito bem o que fazer com a minha vida.

O Jorge deu-me a conhecer um livro que até hoje leio sem me cansar “Serenidade todos os dias” – David Kundtz, e que já não tenho o original, pois vou dando a amigos e a pessoas que penso que também precisam de ler, e assim vou passando a palavra, a informação que recebi e que se tornou tão útil ao longo dos anos.

Com o Jorge aprendi a descansar o coração sempre que não há mais nada que eu possa fazer, atenção que não é desistir, mas sim reconhecer que sou limitada e que há coisas que me ultrapassam, como a contagem do tempo, eu não posso avançar no tempo como gostaria quando não gosto das situações pelas quais eu estou a passar e que me desagradam profundamente.

Com o Jorge aprendi a dar as voltas que forem necessárias a uma rotunda para que eu possa ver todas as perspetivas. Com o Jorge aprendi a ouvir a mesma música horas a fio sem que isso pareça esquisito ou desnecessário. Com o Jorge aprendi a ouvir música e a ficar em silêncio a seguir pois tudo o que se pudesse dizer era supérfluo ou insignificante. Com o Jorge aprendi a história do monge velho e do monge novo que, com o seu normal entusiasmo inicial de noviço, vendo o mais velho em silêncio durante muito tempo lhe pergunta: “E o que acontece depois disto?” onde o monge velho lhe responde: “Nada, é só isto.” Estaremos sempre à espera que acontecimentos espetaculares aconteçam para que a nossa vida tenha importância (para alguém, talvez…) mas ela já tem importância, só por ser vida e por existirmos. Há uma frase muito bonita que o Jorge também gostava muito:

“Às vezes ouço passar o vento, e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.” Alberto Caeiro, 1915

Penso muitas vezes que a vida é isto mesmo, a importância real reside nela própria e não naquilo que os outros vêm ou possam pensar dela, porque os outros serão sempre os outros e desconhecem as nossas lutas, a nossa constância, a nossa essência.

Com o Jorge aprendi a não desesperar, a respirar, a observar, a estar atenta mas sem ser apressada nessa atenção, a ter perseverança, a ter consciência de que eu sou muito mais do que o que as pessoas me possam dizer, e a maior lição que o Jorge me deu foi: “Pessoas que estudam música, têm de ser pessoas diferentes, mais sensíveis, mais despertas, porque aprenderam uma outra linguagem que lhes traz uma outra responsabilidade e visão perante o mundo.” Uma frase que o Jorge repetia muitas vezes: “Não podemos olhar para baixo, nunca, somos seres do alto e é para lá que temos de olhar sempre.”

Na minha vida, eu sigo com muito carinho tudo o que o Jorge foi e sempre será para mim, pois nas minhas atitudes, postura perante a vida e os outros, e na minha maneira de ser, está presente a visão altruísta e simples de ser do Jorge.

Sinto que aproveitei cada momento que a vida me deu para usufruir da magnitude e da carinhosa maneira de ser do Jorge, e todos esses momentos me fizeram ser, como pessoa, um melhor ser humano.

Não tenho dúvida que o Jorge viverá para sempre em cada um de nós, uma força imensa, uma delicadeza ímpar, um rigor e determinação que chocava a sociedade em que viveu e por tudo isso eu tenho uma gratidão imensa ao ser que foi, é e será sempre, o JORGE.

Testemunho da Susana e do Rui

A Ti Jorge…

Somos profunda e eternamente gratos e sentimos um enorme privilégio em ter partilhado a nossa vida contigo…

Contigo aprendemos que na Natureza somos livres e que a liberdade de subir ao topo de montanhas, de mergulhar em águas frescas e límpidas, nos renova a alma e nos torna seres maiores…

Contigo partilhamos viagens por lugares que ainda hoje lembramos e guardamos recordações de tanta beleza contemplada…

Contigo cantamos e rezamos os mais belos louvores, que nos mostraram em cada palavra a grandiosidade de Deus e do seu grande poder de fazer de nós seres de Luz…

Contigo ouvimos o silêncio, percebemos a importância de nos deixarmos inundar do nada que nos invade e nos preenche de um inexplicável tudo…

Contigo percebemos a essência do Amor…esse sentimento que todos dizem ter várias formas…mas que contigo aprendemos que tem uma única forma…a forma da vida…da entrega ao outro sem esperar nada em troca… da escuta do nosso coração… da dádiva que é partilhar felicidade…

Tudo isto que vivemos contigo fez-nos perceber a bênção de crescer na intimidade de sermos um só, construindo um caminho amparado pelos dons de cada um, para juntos conseguirmos ser muito…

Contigo…para Sempre Contigo…

Um abraço eterno…

Mores

Testemunho do André

O Jorge é uma daquelas pessoas que conseguem ver para além das máscaras e capas que cada um usa no seu dia-a-dia e que tenta sempre trazer ao de cima o melhor que cada um pode dar. Diria que esse é um dos dons do Jorge – conseguir esculpir o barro bruto que é cada um de nós e ajudar a fazer obras-primas.

Lembro-me saudosamente dos vários ensaios que tínhamos durante a semana que eram sempre um misto de música e psicologia. Lembro-me dos tantos e tão bons passeios por S. João D’Arga (esse paraíso!), por Paray Le Monial, por Taizé, por Roma, por Toledo e Madrid, por Santiago de Compostela, e por tantas terras portuguesas. Passeios que davam origem a tanto conhecimento e desenvolvimento pessoal.

Com a ajuda do Jorge subimos a montanhas, tiramos árvores do caminho, fizemos bricolage, louvamos. Sempre em conjunto!

Muitas lições vou recordar, mas a mais importante será que sem confiança em nós próprios dificilmente conseguimos crescer e isso foi uma das coisas que o Jorge me ajudou a ter.

Um abraço, meu grande Amigo! Até sempre!

Testemunho da Diana

A ti,

Que me ensinaste…

o que é ser,

o que é amor,

o que é sonhar,

o que é acreditar,

o que é ir sem medo.

o que é subir e descer montanhas,

o que é desbravar caminhos e descer em águas frias,

o que é fazer silêncio e rezar,

o que é cantar um mundo novo.

A ti, Jorge, só posso agradecer eternamente.

A ti, Jorge, só posso dizer que viverás sempre comigo.

Testemunho da Sofia

Jorge, o nosso animador. Jorge, o nosso ensaiador de coro. Professor de teoria musical aos domingos de manhã. Colega de Psicologia. Cozinheiro em acantonamentos e jantares entre amigos. Às vezes, até cabeleireiro e interior designer. Leitor de uma grande sensibilidade. Pensador original, crítico e livre.

Que nome se dá a quem nos fez crescer? Amigo, por certo. Além disso, o Jorge tem a denominação, para mim, de Grande Desafiador. Construtor e “desconstrutor”. Subi com ele a montes que me faziam tremer como varas verdes. Toquei em conjunto com ele mesmo quando não acertava no ritmo e entrava no ciclo vicioso da ansiedade. Respondi quando me perguntava a opinião, numa altura em que a mera ideia de falar perante um grupo punha a minha voz muito pequenina. Fiz leituras em missas e orações. Vendi rifas, fiz apresentações e trabalhos e refleti sobre mim mesma. A dado momento, dei por mim em cima de uma mesa num palco, com uma caneta na boca, enquanto declamava um poema!

Um dia, em Taizé, falei do meu grupo de partilha com entusiasmo e algum temor. Afinal, não conhecia nenhum dos meus novos colegas, de tantos países diferentes, e sempre tinha tido alguma dificuldade em falar perante um grupo. O Jorge desafiou-me, já sabendo a resposta: “Achas mesmo que és tímida?”. O certo é que quem passasse pelo grupo e visse como eu os incentivava a dar a sua opinião nunca me veria dessa forma. Eu só tinha medo. Mas o Jorge viu sempre quem eu era para além do medo.

Nem sempre foi fácil segui-lo por entre rochedos e pedregulhos. Mas lá estava ele adiante, a dizer para deitarmos fora os pesos.

“Deixa tudo e segue-Me!” (Lc 5, 27-32)

Penso em Jesus a chamar o cobrador de impostos, e entendo. Foi uma das muitas e mais importantes lições que aprendi com o Jorge. Deixa tudo. Liberta-te dos pesos que carregas, e que não são teus. Porque não somos feitos de pesos nem medos. Somos feitos de atitudes, de movimentos. Somos feitos de tocar e cantar, de ler e declamar poemas, de dialogar. Somos feitos de subir aos montes que nunca pensamos poder escalar.

Somos também feitos do movimento interior, que só existe no silêncio. Aí, encontramo-nos connosco e com o Divino. Nesse Encontro, estamos juntos.

“Estamos juntos, num abraço amigo (…) Encontro em ti, Jesus, um agir para encontrar a paz!”

(Encontro em ti – Letra por Lara Mafalda Ferreira; Música por Jorge Ferreira)