VII Semana do Tempo Comum

Domingo

Nova criação

O grande desafio no início deste tempo é cada um de nós descobrir-se em Cristo, descobrir o que é na ação de Cristo, naquilo que Cristo faz em nós. Talvez seja uma surpresa para nós próprios a descoberta que podemos fazer da nossa própria vida. Porque a nossa vida não é só isto que está confiado às nossas mãos, a nossa vida é infinitamente mais preciosa do que aquilo que podemos pensar porque a nossa vida não é só a nossa vida. A nossa vida é este lugar santificado por Cristo, é este lugar que recebeu a vida de Cristo, é este lugar habitado, insuflado, transfigurado pelo espírito do ressuscitado.

Cada um de nós passou a valer muito mais, e é assim que cada um é chamado a olhar para a sua própria vida, com um valor que não deriva apenas de mim mesmo mas com um valor que deriva da ação de Cristo em mim. Eu descubro-me mulher e homem, nova criatura, “nova criação” como S. Paulo também dirá. Um cristão é uma nova criação a partir da Páscoa de Jesus. Então, nós somos novas criaturas, não somos o homem velho, a mulher velha que insiste dentro de nós com as manias de sempre, as dificuldades de sempre, os limites de sempre, esta espécie de círculo vicioso que muitas vezes é o nosso quotidiano. Não somos apenas isso, somos uma realidade transfigurada, transformada pelo próprio Cristo, somos nova criação.

O grande desafio neste novo entendimento de nós próprios e daquilo que somos também é um desafio a relermos a nossa história. Se calhar, olhando para a nossa própria biografia nós encontramos coisas certas e incertas, encontramos o bem e o mal, encontramos a incompletude. Mas sobretudo nós somos desafiados a encontrar o movimento da Graça de Deus, o fio da Sua misericórdia, do Seu amor, que são eternos para connosco e que desde sempre nos ampararam.

Queridos irmãs e irmãos, há uma história para escrever. Nós temos de olhar para o tempo que nos é dado como uma oportunidade para escrever uma história. E uma história que seja, não uma história de maldição, não uma história de fatalismo, não uma história de desistência mas uma história de salvação em que olhamos para Jesus com confiança, com esse salto que é a fé e dizemos: “Senhor, Tu és o Cordeiro que me salva, Tu és aquele que repara o mundo, Tu és aquele que dá sentido à nossa vida sobre o mundo.” Este tempo é por isso de uma grande responsabilidade. Que cada um de nós sinta o seu lugar, o seu papel, a sua missão. E aqui o Senhor atua em cada um de nós.

José Tolentino Mendonça

Segunda-feira

O nosso lugar

Nem sempre somos capazes de encontrar o lugar que nos pertence. Nem sempre sabemos se o lugar que nos está destinado ao coração pode, na verdade, existir. Gostamos de acreditar que estará para chegar o dia em que nos sentiremos encaixados, pertencentes e enraizados. Para alguns, o lugar que lhes pertence pode estar guardado dentro da alma de outra pessoa qualquer. Para outros, o lugar que lhes enche as medidas tem uma geografia específica e pertence a uma qualquer terra com nome de país. Para alguns, o lugar que procuram está na forma como vão decidir viver cada dia. Ou tem a pele por viver de uma aventura por estrear. Para outros, o lugar que nos fará ser moradas andantes…não existe.

Talvez o importante seja que cada um se dedique a encontrar o seu lugar. Aquele que tudo muda e que tudo sossega. Aquele lugar que nasceu para ser habitado e querido por nós. Haverá lugares que cheguem para cada um? Haverá tempo suficiente para os encontrar? A resposta é bonita e é pequena: sim. O problema é que o nosso coração é feito de pressas e batidas velozes. Não bate como quem espera. Bate como quem quer tudo de uma vez. O mais rapidamente possível. E é assim que, apressados pelo nosso lado esquerdo, nos deixamos apaixonar pelos lugares errados. É assim que nos enganamos no lugar de chegada. Preferimos um lugar qualquer à espera demorada do lugar que será nosso e para nós. Contentamo-nos com o que aparecer. Esquecemo-nos do que disseram os poetas e outros sábios: o melhor está sempre para vir. Somos tempestades ambulantes que teimam em rasgar os céus de calmaria que a vida tem para oferecer. Somos feras de dentes aguçados que teimam em não permitir que a vida aconteça. Valerá a pena continuar à procura de um lugar que esteja à nossa espera? Vale. Mas vale mais a pena entender que a aventura de não saber o que virá depois, compensa. O mistério compensa e faz-nos crescer. O que seria de nós se já soubéssemos o que vem a seguir? Que esperanças nos fariam avançar, ir em frente, caminhar, seguir se os nossos olhos já tivessem visto tudo?

O nosso lugar na vida e no mundo está disponível apenas para ser descoberto. Não para ser adivinhado. Se ousarmos embarcar na aventura de deixar tudo para o alcançar, havemos de encontrar mais do que alguma vez tivemos. Quem semeia aventuras, colhe esperanças. Quem semeia passos, colhe caminhos. Quem semeia cores, colhe paisagens. Quem semeia a paz, colhe céus azuis para o teto do coração. O teu lugar é teu. Vai buscá-lo. Quando lá chegares, terá valido tudo a pena.

Marta Arrais in “imissio.net”

Terça-feira

A razão da nossa esperança

Nós somos os primeiros que devemos ter bem firme em nós a esperança e dela devemos ser um sinal visível, claro e luminoso para todos. O Senhor ressuscitado é a esperança que nunca esmorece, que não engana (cf. Rm 5, 5). A esperança do Senhor não engana! Quantas vezes na nossa vida as esperanças esmorecem, quantas vezes as expectativas que temos no coração não se realizam! A nossa esperança de cristãos é forte, certa e sólida nesta terra, onde Deus nos chamou a caminhar, e está aberta à eternidade porque se funda em Deus, que é sempre fiel. Não devemos esquecer: Deus é sempre fiel; Deus é sempre fiel para connosco. Ressuscitar com Cristo mediante o Batismo, com o dom da fé, para uma herança que não se corrompe, nos leve a procurar em maior medida as realidades de Deus, a pensar mais n’Ele, a rezar mais a Ele. Ser cristão não se reduz a seguir mandamentos, mas significa permanecer em Cristo, pensar como Ele, agir como Ele, amar como Ele; significa deixar que Ele tome posse da nossa vida e que a mude, transforme e liberte das trevas do mal e do pecado.

Prezados irmãos e irmãs, a quantos nos perguntarem a razão da nossa esperança (cf. 1 Pd 3, 15), indiquemos Cristo ressuscitado. Indiquemo-lo com o anúncio da Palavra, mas sobretudo com a nossa vida de ressuscitados. Manifestemos a alegria de ser filhos de Deus, a liberdade que nos permite viver em Cristo, que é a verdadeira liberdade, aquela que nos salva da escravidão do mal, do pecado e da morte! Contemplemos a Pátria celeste, e teremos uma luz e força renovadas também no nosso compromisso e nas nossas labutas diárias. É um serviço precioso, o qual devemos prestar a este nosso mundo, que muitas vezes já não consegue elevar o olhar, já não consegue olhar para Deus.

Papa Francisco in “Audiência Geral de 10.04.2013”

Quarta-feira

Sabermo-nos caminhantes

O caminhar pela vida traz, em todos os momentos, um arriscar perante o mistério do que nos espera, bem como do mistério daquilo que somos.

Quando nos arriscamos a caminhar verdadeiramente pela vida apercebemo-nos que ela não se realiza no centro dos nossos desejos, mas na partilha e na comunhão daqueles que, como nós, também caminham perante as suas incertezas. Numa convivência que ganha sentido quando despida de superioridades, julgamentos ou ambições.

Sabermo-nos caminhantes não nos diminui, mas coloca-nos, antes de mais, na certeza de que nos igualamos na diferença. E que a beleza se revela exatamente nesta possibilidade de nos intercetarmos com todas as nossas idiossincrasias.

Viver isto no dia-a-dia é desafiante e pode, inclusive, levar-nos a um sério questionamento sobre o que queremos, o que fazemos e o que procuramos. Mas arriscar nesta vivência de dirigir o nosso olhar para um todo e não somente para o nosso umbigo cheio de certezas ou de moralismos dar-nos-á a oportunidade de podermos ser mais. Mais humanos. Mais empáticos. Mais sensíveis. Mais presentes.

Sabermo-nos caminhantes. Todos e todas. E, desta forma, fazermos caminho que nos liberta, que nos cura e que nos renova. Sabermo-nos caminhantes para que ninguém fique para trás.

Emanuel António Dias in “imissio.net”

Quinta-feira

Jesus Cristo

Jesus Cristo, tu vens transfigurar-nos para nos renovares à imagem de Deus: ilumina as nossas trevas.

Jesus Cristo, luz do coração, tu conheces a nossa sede: conduz-nos em direção à fonte do teu Evangelho.

Jesus Cristo, luz do mundo, tu iluminas cada ser humano: concede-nos discernir a tua presença em cada pessoa.

Jesus Cristo, amigo dos pobres: abre em nós as portas da simplicidade para te acolhermos.

Jesus Cristo, manso e humilde de coração: renova em nós o espírito da infância.

Jesus Cristo, tu que concedes à Igreja a preparação do teu caminho no Mundo: abre a todos as portas do teu Reino.

Jesus Cristo, sem te termos visto, nós amamos-te. E sem te vermos ainda, nós confiamos em ti. 

Jesus nossa alegria, quando compreendemos que tu nos amas, algo nas nossas vidas é apaziguado e mesmo transformado. Nós perguntamos-te: Que esperas tu de mim? E, pelo Espírito Santo, tu respondes: que nada te perturbe, eu rezo em ti, ousa o dom da tua vida.

Comunidade de Taizé in “taize.fr”

Sexta-feira

Só o Amor salva

Segundo o Novo Testamento, o que salva é o amor. O amor de Deus manifestado no dom do Filho à humanidade, o amor com que Jesus viveu e com que fez da sua própria morte um ato de amor e de doação, o amor com que amou os seus até ao extremo, até ao ponto de não retorno.

Não é a cruz que salva, mas a vida plena de amor daquele que foi estendido nela, um amor mais forte que a morte e que funda o evento da ressurreição. Não é o sofrimento que salva, mas o amor com que se vivem e se elaboram as situações de sofrimento e de luto. O amor também dá sentido ao paradoxo do sofrimento, à desumanidade e ao absurdo da cruz. É o amor que também leva a fazer da morte não um fim definitivo, mas um ato transitivo em que se dá mais uma vez e em que se gera para a vida.

A confiança no amor, crer no amor e a capacidade de confiar são condições de fundo para deixar agir em si as energias da salvação. O amor é a experiência ética e estética, de bondade e de beleza, em que Jesus encontrou a sua felicidade.

Luciano Manicardi in “Viver uma fé adulta – Itinerário para um Cristianismo credível”

Sábado

Sentido de Hu(Amor)

A vida gosta de nos virar do avesso. Deus brinca. Nós é que nem sempre o conseguimos ver e perceber o seu sentido de (Hu)amor. Às vezes é tão simples, tão óbvio que nos perdemos em viagens interiores e exteriores para lhe chegar.

Deus brinca. Saibamos percorrer os caminhos por onde nos leva com sentido de (Hu)amor. Saibamos deixar-nos envolver pelos seus braços. Fechemos os olhos e entreguemo- nos ao Seu amor. Deixemo-nos abraçar por Deus. Deixemos que Ele nos viaje pelo avesso e que nos conheças as entranhas. Deixemo-nos ser abraçados pelo lado de dentro. Deixemo-nos ser tocados nas feridas. Deixemos que Deus nos cure. Deixemos que Deus ame cada pedaço de nós. Deixemos que Deus nos conheça. Abramo-nos ao outro. Confiemos-lhe toda a nossa vida.

Deixemos que Deus transforme todos os nossos medos em confiança, tempestades e bonança e monstros em serenidade. Deixemos que Deus transforme toda a nossa vida. Entreguemos-lhe toda a nossa vida. Entreguemos-lhe tudo aquilo que somos, tudo o que não somos e tudo o que queremos ser. Deixemo-nos ser instrumento, nos toque, afine e nos transforme em arte. Deixemos que Deus nos troque as perguntas. Quando tudo for negro confiemos que Ele é a luz. Quando não o ouvirmos confiemos que está em silêncio. Quando nos trocar as voltas confiemos que está brincando com a nossa vida para que cheguemos aonde nos esperam. Quando não soubermos o que fazer confiemos que está em silêncio, como um professor durante um exame.

Muitas são as lágrimas. Muito é o cansaço. Muitos são os desafios. Tantos são os dias nublados. Tantos são os silêncios que parecem vazios de Ti. É árduo. Todos os caminhos serão. Mas quando é o caminho é de Amor há uma força que vem de Ti e nos faz capazes de amanhecer de paz e amor. Quando somos instrumento de Ti, quando os nossos planos são ser as Tuas as mãos não há desafio que não seja passível de superar, não há dificuldade, tempestade, vazio, lágrima, espinho que não se resolva com Amor.

Confiemos. Entreguemo-nos à Sua vontade. Que os nossos planos sejam os d’Ele. Que a nossa vida seja o que Ele quiser que seja. É difícil mas se lhe entregarmos a vida aqui experimentaremos aqui o paraíso de viver no Seu Amor. Ouçamos a sua voz dentro do nosso coração e sem medo façamos o que Ele tanto nos segreda. Saibamos que “Eu estarei convosco até ao fim dos tempos” e que nos conduz sempre a prados verdejantes. Confiemos.

Paula Ascensão in “imissio.net”