VII Domingo da Páscoa (Ascensão)
A fé é um caminho na esperança
Celebramos a Ascensão. Deus acolhe Jesus junto de si. Parece ser um final feliz. No entanto, os discípulos sentem-se abandonados por Cristo. Eles estão desapontados. As expectativas que tinham colocado em Jesus não foram cumpridas. Mas gradualmente compreendem que embora não voltem a ver Jesus, ele está verdadeiramente presente no meio deles. Abre-se um novo horizonte. Através da ressurreição de Jesus, Deus está ao lado dos humilhados. O amor de Deus é mais forte do que o ódio, a violência e a guerra. Os pobres da terra podem erguer-se e alegrar-se. Uma luz inesperada brilha.
A nossa fé não nos dá respostas fáceis. Mas convida-nos a confiar que Cristo também está connosco nos momentos difíceis. Isso dá-me esperança de que vamos aprender alguma coisa com as experiências da pandemia. Queremos viver juntos como irmãos e irmãs, viver a partilha e a solidariedade de uma nova forma e cuidar cada vez mais da nossa terra. Este é um momento para um novo começo.
As dúvidas podem permanecer. Ter fé não é o mesmo que ter certezas; trata-se acima de tudo de um caminho na esperança. Torna-nos mais abertos aos outros; mais atentos às pessoas e aos acontecimentos à nossa volta e no mundo.
Gostamos de cantar estas palavras antigas: «Ubi caritas et amor, Deus ibi est» – «Onde está o amor, Deus está presente». Há muitas coisas que as pessoas fazem umas pelas outras que são um sinal vivo do amor de Deus. Abramos os olhos! Mesmo nos nossos tempos por vezes tão difíceis, o Reino de Deus já está no meio de nós.
Irmão Alois de Taizé in “Mensagem para o dia da Ascensão do Senhor” (maio de 2021)
Segunda-feira
Homens e mulheres da Ascensão
A solenidade da Ascensão do Senhor inclui dois elementos. Por um lado, orienta o nosso olhar para o céu, onde Jesus glorificado está sentado à direita de Deus. Por outro, recorda-nos o início da missão da Igreja: porquê? Porque Jesus ressuscitado e elevado ao céu envia os seus discípulos a difundir o Evangelho por todo o mundo. Portanto, a Ascensão exorta-nos a elevar o olhar para o céu, para o dirigir logo a seguir para a terra, cumprindo as tarefas que o Senhor ressuscitado nos confia.
A Ascensão do Senhor ao céu, enquanto inaugura uma nova forma de presença de Jesus no meio de nós, pede-nos para ter olhos e coração para o encontrar, para o servir e para o testemunhar aos outros. Trata-se de ser homens e mulheres da Ascensão, ou seja, buscadores de Cristo pelas sendas do nosso tempo, levando a sua palavra de salvação até aos confins da terra. Neste itinerário, encontramos o próprio Jesus nos irmãos, sobretudo nos mais pobres, em quantos sofrem na própria carne a dura e mortificadora experiência de antigas e novas pobrezas. Assim como inicialmente Cristo Ressuscitado enviou os seus apóstolos com a força do Espírito Santo, também hoje Ele nos envia, com a mesma força para dar sinais concretos e visíveis de esperança. Porque Jesus que nos dá a esperança, foi elevado ao céu, abriu as portas do céu e a esperança que nós para lá iremos.
Papa Francisco in Homilia da Solenidade do dia da Ascensão do Senhor, 13.05.2018
Terça-feira
Subir
A Ascensão do Senhor é pois um convite de subida com Cristo. Todos desejamos subir. Todos almejamos, em certa medida, ascender na vida. Crescer profissionalmente, ter nossos projetos pessoais reconhecidos. Ambiciona-se de certo modo superar mediocridades que nos paralisaram no tempo. O mistério da subida do Senhor Jesus aos céus perpassa todas estas realidades, porém exatamente na sua contradição.
O desejo humano de subir na vida, de crescer, de ascender, é sinalizador de algo mais profundo presente em nós. Este é um desejo pelas coisas do alto e que a mera estabilidade do “status social” não é capaz de responder.
O mistério da Ascensão do Senhor traz sempre consigo um tema importante para o homem do nosso tempo, por isso será sempre difícil traduzi-lo. É que esta liturgia coloca-nos diante da realidade “Céu”, e estamos demasiado habituados a imaginá-la como um mundo “do andar de cima” e que nada tem a ver “connosco no andar debaixo”, ou no seu antagonismo: Para muitos habituados a não considerá-la presente no horizonte humano devido ao excessivo valor que damos hoje em dia ao material, tentação está já presente na mais antiga tradição da Igreja: “ Senhor é agora que vais restaurar o Reino de Israel?” (At 1, 7)
Por isso, a festa da Ascensão é profética para nós católicos. Ela abre os nossos olhos para a última e única realidade existente, Deus. Ela recorda-nos que nem tudo deve ser reduzido ao aqui e agora. Podemos querer subir e crescer na vida, no mundo do trabalho, mas sem perder de vista o futuro em Deus: “ buscai as coisas do alto” (Cl 3,1) e sem perder de vista o presente no meu próximo: “ Homens da galileia, por que ficais parados olhando para o céu (…)? (At 11, 11).
Cardeal Gianfranco Ravasi in “Avvenire”
Quarta-feira
A Ascensão de Jesus ao profundo da minha existência
«A Ascensão não é um percurso cósmico, mas a navegação do coração que te conduz do fechamento em ti ao amor que abraça o universo» (Bento XVI). A esta navegação do coração, Jesus chama um grupo de homens amedrontados e confusos, um núcleo de mulheres corajosas e fiéis, e confia-lhes o mundo. Impele-os a pensar em grande e a olhar longe: o mundo é vosso. E fá-lo porque acredita neles, apesar de terem entendido pouco, apesar de o terem traído e renegado, e muitos ainda duvidarem.
E quanta alegria me dá sentir que confia em mim, nestas minhas mãos, neste meu coração, mais do que eu confio em mim próprio; sabe que também eu posso contagiar de céu e de natividades quem me é confiado.
Mas será tudo isto realmente possível? É-o, a acreditar no versículo conclusivo: eles partiram e pregaram em todo o lado, enquanto que o Senhor agia juntamente com eles. Verbo extraordinário, que chega também até mim, aqui e agora: o Senhor agia em sinergia com eles, inseparáveis a sua energia e a do Senhor, uma só força, uma só linfa, uma só vida. Nunca sós. Última definição de Jesus: energia que opera contigo para a vida. Jesus que nunca se cansa de dar vida a toda a criatura, em todo o lugar da Terra, que não te deixa: está contigo em todos os teus gestos de bondade, quando ofereces uma palavra fresca e viva, quanto constróis a paz.
Nas tuas mãos, as suas mãos; Ele o Amor em cada amor; terra profunda das tuas raízes, céu do teu céu. Existir é coexistir, em sinergia com Cristo e para os outros.
Ermes Ronchi in “Avvenire”
Quinta-feira
Abraça as tuas sombras
A tua vida é uma mensagem. Que a tua existência seja um sinal de esperança para quem a admire. Que os outros vejam em ti a prova de que todos temos a possibilidade de ser feliz neste mundo, nos tempos e espaços de todos os dias.
Deixa que os outros te leiam. Hoje, mais do que heróis, são necessárias pessoas comuns capazes de estar no mundo com vontade de viver. Abertas ao inesperado, sem a arrogância própria daqueles que julgam que já nada os surpreende.
A admiração nem sempre motiva que se passe à ação. Talvez porque costumamos colocar os modelos demasiado altos, a um ponto tal que se tornam inacessíveis, e muitas vezes tal é feito com essa mesma intenção.
É urgente que haja quem vá ao encontro dos outros sem os julgar, quase como que se fazendo seu réu. O orgulho não se vence com um orgulho maior, porque só com humildade se chega ao mais importante.
Sem nos apercebermos, morremos e nascemos a cada dia. O que podemos fazer? Há quem ignore e finja que tal não acontece; há quem resista, como se isso fosse possível! E há muita gente que se entristece com a resignação própria de quem se sente enganado. Talvez o melhor seja mesmo aceitarmos a vida tal como ela é. Devemos abraçar até a nossa própria sombra, o que em nós é menos bom. Aceitando também as perdas como sendo parte do caminho.
José Luís Nunes Martins in www.agencia.ecclesia.pt
Sexta-feira
Um estímulo de confiança
Um coração simples não tem a pretensão de compreender sozinho tudo o que há para saber sobre a fé. Diz de si para si: “Há quem compreendes melhor aquilo que não percebo bem, ajudando-me a seguir caminho.” Vivemos num tempo em que muitos se perguntam: “O que é a fé?” A fé é uma confiança muito simples em Deus, um estímulo de confiança indispensável, continuamente retomado ao longo da nossa vida.
Pode haver dúvidas em cada um de nós. Não há nada de inquietante nisso. Gostaríamos sobretudo de escutar Cristo que murmura no mais profundo de nós: “Tens hesitações? Não te preocupes. Mesmo que a tua fé seja frágil, o Espírito Santo permanece sempre contigo.”
Há quem tenha feito esta descoberta surpreendente: o amor de Deus também pode desabrochar numa alma assaltada por dúvidas. Ao entregarmo-nos ao Espírito Santo, encontramos o caminho que nos leva da inquietação à confiança e dizemos-lhe: “Espírito Santo, faz-nos voltar para ti a cada instante. Esquecemo-nos tantas vezes de que habitas em nós, rezas em nós e amas em nós. A tua presença em nós é confiança.”
Irmão Roger de Taizé in “Não pressentes a felicidade?”
Sábado
Rezar os tempos de passagem
Que saibamos acolher a beleza e o desafio do tempo entre a Páscoa e o Pentecostes. Que ousemos compreender o modo como ele ilumina o nosso presente. É verdade que não são fáceis de viver as etapas intermédias, os meios do caminho, o espaço entre etapas diferentes. Também para os primeiros discípulos não o foram. O que eles viveram com Jesus até à Páscoa já não voltarão a viver da mesma maneira. Uma transformação aconteceu, e eles naturalmente experimentam agora a agitação, o desconcerto e a dor. Não entendem logo o que aconteceu. Precisam de realizar um processo interior, um maturado caminho de fé, para integrar isso nos seus corações.
Mas a verdade é que Jesus não os larga. Através das portas fechadas e das incredulidades estabelecidas, ele vem aos seu encontro. Torna-se seu companheiro de jornada. Conforta-os e desafia-os a repartir. Ele estará com eles todos os dias até ao fim dos tempos. E enviará o Espírito Santo, a força generativa de Deus que os fará descobrir e realizar a nova missão.
Neste momento de passagem, os discípulos estão como nós estamos, de mãos vazias: entre a Páscoa e o Pentecostes, entre a perda e o encontro, entre a espera e a promessa. Entre a Páscoa e o Pentecostes, a grande tarefa é substituir a incerteza pelo desejo. É transformar os nossos escombros, paralisias, desmobilizações e temores em incandescente desejo.
José Tolentino Mendonça in “Rezar de olhos abertos”