Workshops

Workshoop de Trabalhos Manuais sugerido por Beatriz Cruz

 Tenho uma amiga que organizou, o ano passado, pela primeira vez, um festival de lavores, a “Lavorada”, onde se apresentaram diversas artes manuais e se conversou sobre o seu papel na nossa vida. Falou-se de bordado, de tricot, de crochet, enfim, daquelas artes que alguns de nós aprenderam com os seus pais ou avós, e outros estão agora a descobrir em tutoriais da internet ou em workshops que se multiplicam.

Este ano ela repetiu a experiência. O ano passado não consegui ir, mas este ano fui. Inscrevi-me no workshop “Iniciação ao tricot”. Não sei nada de tricot… Nunca sonhei fazer tricot…. Fui eu, e uma série de pessoas também decididas a desvendar universos desconhecidos. O ambiente era familiar, e reinava um misto de entusiasmo, boa disposição, curiosidade e muita alegria. Depois de alguma luta com as agulhas, lá fomos acertando na posição das mãos e nos pontos, e o tempo passou rapidamente, entre risos, dúvidas e esclarecimentos, repetições e entusiasmo ao ver surgir alguma coisa que se assemelhava a um trabalho de tricot. Penso que os que estavam naquele espaço tão bonito que é o jardim da Biblioteca Rocha Peixoto, aproveitaram cada momento desse dia maravilhoso. O entusiasmo pela arte aprendida manteve-se ao longo do dia, e não foram poucos os que continuaram a obra começada, mesmo depois de terminado o workshop.

Já passaram uns dias e dou por mim a revisitar esses momentos. É engraçado como uma coisa tão simples, que necessita apenas de duas agulhas, um novelo, e um pouco de paciência, possa ter tanto impacto na minha vida. E esse impacto vai desde uma acrescida autoconfiança, uma alegria serena que me acompanha ainda hoje, uma vontade de aprofundar a arte iniciada, e uma profunda gratidão pela oportunidade que me foi concedida de participar num projeto tão bonito. E ensinou-me a não rejeitar à partida novos desafios. A ultrapassar medos, inseguranças, comodismo e preguiça. Tantos desculpas para ficar parada…

Ao longo dos últimos anos tenho comprovado a importância das artes manuais. Sendo uma pessoa ansiosa, descobri que me acalmavam. A cadência dos movimentos repetidos trazia-me serenidade, paz e lucidez. Descobri, também, que me ensinavam a ser paciente, uma vez que estes projetos, quando bem escolhidos, demoram tempo. Por vezes muito tempo. Mas uma vez terminados, a satisfação que obtemos não se compara a nenhuma outra. Aprendemos a adiar a satisfação, porque vale a pena. Aprendemos a projetar-nos no futuro, porque os resultados demoram a aparecer, e isso ensina-nos a esperança. E ajuda-nos a criar ligações no nosso cérebro, a despertar neurónios, a mantê-lo ativo, inquisidor, enfim, a adiar a degenerescência mental. Isto está largamente documentado e não é difícil comprová-lo.

Vale a pena experimentar coisas novas ou dar uma nova oportunidade a experiências antigas que não correram muito bem. Não devemos ser rígidos nas certezas que guardamos. Lembro-me de, em pequena, não me terem entusiasmado as tentativas da minha mãe para me ensinar a bordar. Pode-se dizer que fui ativamente “do contra”. Em relação ao crochet consegui, inclusive, arrancar a cabeça a uma agulha nas minhas tentativas de aprendizagem. E recordo uma barra em ponto de cruz que as Irmãs me tentaram ensinar no Colégio e que trouxe de lá inacabada. Enfim, tinha a certeza de que esse tipo de trabalhos não era para mim. Descobri-me, nos últimos anos, com uma postura diferente. Mas isso apenas de deveu a ter dado uma nova oportunidade aos trabalhos manuais. A ter aceitado desconstruir memórias antigas. A ter reavaliado e reorientado as minhas ideias e os meus sentimentos. A não ter dado espaço à rigidez, às ideias feitas. A ter moderado a minha teimosia. Para isto tive a ajuda de amigos mais teimosos do que eu. E mais clarividentes.

 Acho interessante a curiosidade atual pelos trabalhos manuais. A criatividade na atualização de artes tão antigas. E acho interessante como essa curiosidade acompanha uma crescente curiosidade espiritual. Há uma sede de Deus que se revela na procura de Yoga, de retiros espirituais, na meditação, na procura de locais onde se alcance o bem-estar físico e/ou espiritual, na procura do belo. E este Deus pode ser encontrado também através dos trabalhos manuais.

O Homem é por natureza insatisfeito. Procura o Absoluto. Procura Deus, mesmo não tendo noção disso, e encontra-O sendo co-criador, criador com Deus. Toda a arte manual é uma criação, e o Homem realiza-se na criação, por mais simples que seja. E os trabalhos manuais são uma forma muito simples de sermos criadores, com todo o bem que isso nos traz, a nível físico, mental e espiritual. No ato de criação encontramos Deus, mesmo quando não temos consciência disso. Tornamo-nos mais próximos de Deus pois criamos com Ele. E o lugar do Homem é com Deus, em Deus, pois é Deus que ele procura.