Arquivo mensal: Dezembro 2018

Encontro Europeu de Taizé – Madrid

meditações do irmão Alois, 29 dezembro 2018

Estes dias, em Madrid, estamos reunidos vindos de tantos países diferentes. E os que nos acolhem pertencem a diversas gerações. Com todas estas pessoas que não tínhamos conhecido antes, fazemos a experiência de uma comunhão. E aí encontramos uma alegria. 

A nossa peregrinação de confiança é, também, uma aventura interior. E gostaria, esta noite, de chamar a vossa atenção para este aspecto do nosso encontro: a confiança nos outros, a confiança em nós mesmos e a confiança em Deus são realidades intimamente ligadas. A confiança não é cega, nem ingénua ou sonhadora. Sabe discernir o bem e o mal. É, sim, a certeza de que, independentemente da situação, mesmo na escuridão, se pode abrir um caminho de vida.A confiança não é passiva. É uma força que nos impele em todas as situações a dar mais um passo para viver mais plenamente e para ajudar os outros a viver de forma mais plena. Estimula a imaginação, dá a coragem e o gosto de arriscar.

Mas todos conhecemos, também, o que significa não ter confiança. A fadiga, os fracassos, a amizade traída, a violência, as catástrofes naturais, a doença, tudo isso corrói a confiança, que é muito vulnerável. A nossa confiança em Deus é muito frágil. Em certa medida, todos nós conhecemos a dúvida: duvidamos do amor de Deus, alguns duvidam mesmo da sua existência. Onde encontrar, então, a fonte da confiança?

Para que a confiança nasça e renasça em nós, precisamos de alguém que confie em nós, alguém que nos acolha, que nos ofereça a sua hospitalidade. Lemos esta noite um relato impressionante da vida de Jesus. Caminhou sobre as águas do lago para se juntar aos seus discípulos na tempestade. Este relato parece inverosímil aos nossos ouvidos modernos. Retenhamos, no entanto, as palavras de Jesus: «Não temais, estou aqui». E a Pedro, que queria ir ao seu encontro sobre as águas, diz: «Vem». Então, Pedro atira-se à água. Olhando Jesus, chega a avançar. Porém, quando se deixa hipnotizar pelo perigo, afoga-se.

Para os discípulos, Jesus não é apenas o mestre que os ensina. Chamou-os para estar consigo e envia-os porque confia neles. Se também nós pudéssemos ver em Jesus aquele que confia totalmente em nós… Fossemos nós o maior pecador do mundo, e ele diria as mesmas palavras que aos seus discípulos: «Não temais, estou aqui». A cada um e a cada uma de nós, ele dirige o mesmo apelo que a Pedro: «Vem», abandona as tuas pequenas seguranças, ousa enfrentar a realidade por vezes dura do mundo.

De Teresa de Ávila, essa mulher excepcional do século XVI que ainda hoje nos estimula, cantamos estas palavras: «Nada te turbe, nada te espante, quien a Dios tiene nada le falta». Disse também: «Aventuremos la vida!». Sim, a vida é bela para quem se lança e toma decisões corajosas.Quais são estas decisões corajosas? Cabe a cada um responder, cumprindo uma peregrinação interior que vai da dúvida à confiança. Trata-se, para todos nós, de acolher o amor de Cristo para nos tornarmos artesões de confiança e de paz, perto e longe de nós.

o nascimento de Jesus

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Bento XVI, A Infância de Jesus

“E quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria.” Lc 2, 6-7

Começamos o nosso comentário a partir das últimas palavras desta frase: “por não haver lugar para eles na hospedaria”. A meditação, na fé, destas palavras encontrou nesta afirmação um paralelismo íntimo com as palavras, cheias de profundo conteúdo, que temos no Prólogo de São João: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo, 1, 11). Para o Salvador do mundo, Aquele para quem todas as coisas foram criadas, não há lugar. “As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8, 20). Aquele que foi crucificado fora da porta da cidade (Heb 13, 12) também nasceu fora da porta da cidade.

Tudo isto nos deve fazer pensar, nos deve recordar a inversão dos valores que se verifica na figura de Jesus Cristo, na sua mensagem. Desde o seus nascimento, Jesus não pertence àquele ambiente que, aos olhos do mundo, é importante e poderoso; e contudo é precisamente este homem irrelevante e sem poder que Se revela como o verdadeiramente Poderoso, como Aquele de quem, no fim de contas, tudo depende. Por conseguinte, faz parte do tornar-se cristão este sair do âmbito daquilo que todos pensam e querem, sair dos critérios predominantes, para entrar na luz da verdade sobre o nosso ser e, com esta luz, alcançar o justo caminho.