Arquivo mensal: Março 2023

10 anos de Papa Francisco

13.03.2023

Hoje celebramos os 10 anos do Pontificado do Papa Francisco.

10 anos de um Papa que soube trazer para uma Igreja, tantas vezes adormecida, um caminho novo que nos pede para voltarmos às origens e para saborearmos a simplicidade de uma vida dedicada ao(s) Outro(s).

10 anos de um Papa que nos mostra em cada dia a urgência de sermos cristãos de Ressurreição, pessoas em crescimento, em construção de uma fé adulta e sempre alicerçada na esperança.

10 anos de um Papa que, como ele próprio afirmou, o foram “buscar ao fim do mundo” para ser ele, neste tempo, a mostrar-nos agora um mundo novo.

10 anos de um Papa que vive o maior dos mandamentos cristãos – o do Amor. Aquele Amor que salva, que acolhe, que acompanha, que nos leva pela mão, que nos faz ser filhos de um Deus Maior.

10 anos de um Papa presente, interpelante, apaziguador, atento, perspicaz, orante e pensante.

10 anos de um Papa incómodo para quem vive uma fé instalada, confortável e cheia de respostas prontas.

10 anos de um Papa demasiado “moderno” para quem se amarra aos tradicionalismos ocos e desprovidos de sentido e que impedem o olhar para a essencialidade de cada ser humano.

10 anos de um Papa mariano que, à semelhança de Maria, soube dizer o seu “sim” mesmo não sabendo nada, mas apenas confiando e esperando.

10 anos de um Papa construtor de diálogos improváveis, de pontes que são só união, de estradas que são autênticas viagens de Emaús.

10 anos de um Papa destruidor de preconceitos, de julgamentos severos, de ideias mesquinhas que só limitam o desenvolvimento integral da Humanidade.

10 anos de um Papa de sorrisos e de afetos, de abraços amigos e de bênçãos calorosas porque ele sabe que o acolhimento deve ser sempre a marca indelével de cada cristão.

10 anos de um Papa sem aparato, sem vaidades, sem presunções a contrastar com uma sociedade que parece só viver a partir da exuberância e do exagero.

10 anos de um Papa feliz. “Estou feliz porque me sinto feliz. Deus faz-me feliz.”, disse numa entrevista recente.

Obrigada, Papa Francisco! Que privilegiados somos por podermos viver no mesmo espaço temporal. Mas, acima de tudo, por amarmos e sermos amados pelo mesmo Deus.

Falar para CRER – 1.º Encontro

No passado dia 8 de fevereiro, realizou-se o primeiro encontro “Falar para CRER” organizado pela paróquia da Matriz em colaboração com a Comunidade Estrada Clara. O tema abordado neste encontro inicial foi o da vida em comunidade enquanto concretização do mandamento novo de Jesus. No primeiro momento deste encontro partiu-se da leitura de uma homilia do Cardeal José Tolentino Mendonça sobre a essencialidade da identidade cristã sob o signo “Vede como eles se amam”. Em seguida, em pequenos grupos, os participantes deste encontro foram convidados a refletir acerca das consequências da concretização do mandamento do Amor que Jesus nos ofereceu como possibilidade transformadora de vida. Por fim, em grande grupo, todos partilharam como será possível materializar a novidade da mensagem cristã nos nossos grupos paroquiais e na nossa comunidade pastoral. Neste encontro, estiveram presentes cerca de 40 elementos dos vários movimentos paroquiais da nossa comunidade pastoral.

Os encontros “Falar para CRER” têm como objetivo primordial ser um espaço de partilha e de reflexão acerca da vida comunitária. Partindo das vivências de cada cristão, é fundamental refletir acerca da atualidade da mensagem cristã e pensá-la na vida concreta do dia-a-dia, fazendo-a acontecer em atitudes, em ações, em projetos. E em comunidade, em partilha, as ideias fluem de um modo mais construtivo e comum e vamos crescendo em conjunto, alicerçados numa fé trabalhada, adulta, esclarecida e, assim, mais próxima de um Deus que nos quer pessoas inteiras e sempre Ressuscitadas! O próximo encontro “Falar para CRER” acontecerá já esta próxima 4.ª feira, dia 8 de março. Refletiremos acerca da Eucaristia, do seu significado litúrgico e pastoral, do seu impacto na vida cristã, do que simboliza enquanto momento comunitário. Este encontro está aberto a todos os todos os agentes da Pastoral (Catequistas, Jovens, Conselho Pastoral Paroquial, Leitores, Grupos Corais, Confrarias) das comunidades paroquiais. Contamos com todos os que se quiserem juntar a nós.

2.º Encontro “Falar para CRER” – 8 de março de 2023 (4.ª feira), das 21h às 22h30, no Salão Paroquial da Matriz (Póvoa de Varzim)

No primeiro dia…

Reflexão para o mês de março de 2023

Que queres que te faça?

Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara

Jesus parou e mandou que lho trouxessem. Quando o cego se aproximou, perguntou-lhe: «Que queres que te faça?» Respondeu: «Senhor, que eu veja!»” (Evangelho segundo São Lucas – Lc 18, 40-41)

O episódio do cego de Jericó é um dos muitos relatos de cura descritos nos Evangelhos. Estas recuperações milagrosas narradas pelos diferentes evangelistas nunca são apenas um mero tratamento físico que é dado aos vários doentes que se apresentam diante de Jesus. Estas curas vão para além disso e ultrapassam a noção redutora de biologia. Estas curas são sempre muito mais emocionais do que somente físicas. Cuidando-se do interior dá-se um novo impulso ao que é exterior.

Nesta passagem, o enfoque é dado à cegueira. Nos Evangelhos, a cegueira tem um significado espesso que importa acentuar. Esta cegueira refere-se, sobretudo, à parte emocional, ao bloqueio afetivo que, tantas vezes, nos impede de ver e, consequentemente, ser.  Quando os olhos da alma estão fechados, não conseguimos vislumbrar o que Deus tem para nos mostrar. Por conseguinte, não conseguimos ver a outra margem nem antecipar uma passagem. Só conseguimos ver o imperfeito, o erro, o inconveniente. Como é possível, então, começarmos realmente a ver? Ultrapassando esta cegueira emocional que consiste em não esconder o desejo de Deus que habita em nós e em não desprezar a nossa vontade de caminhar ao encontro de uma Vida maior.

Nos nossos dias, estamos, muitas vezes, ameaçados pela cegueira do conformismo, da intolerância, da hipocrisia, do preconceito. Vivemos dominados pela cegueira da pressa que a sociedade nos impõe e pelo auto-centralismo. É preciso permitir que a Boa-Nova de Jesus nos retire as vendas e nos mostre o caminho de luz, onde poderemos ser homens e mulheres de olhos grandes que contemplam a vida na sua vulnerabilidade, profundidade e existência. Todos nós precisamos desta cura do olhar. Todos nós precisamos que Jesus nos faça ver de um modo diferente, precisamos que Ele nos permita aceder a uma visão nova da realidade. Um modo de entender para além dos preconceitos, das parcialidades, dos julgamentos.

Em várias passagens do Evangelho, encontramos a importância do olhar, do ver, do observar. Deste ver com o coração, do aprender a ver para além das evidências, do ver o que não se vê. E não se trata de nenhum truque mágico, pois se assim fosse estaria ao nível do impossível, do irrealizável, do distante. A perspetiva com que vemos a vida é determinante para a sabermos viver. Jesus ensina-nos a ver a vida para a vida viver. Um olhar novo, puro e límpido faz-nos ser de forma mais plena, mais íntegra, mais contemplativa. Aprender a ver de uma nova perspetiva traz-nos uma maior espiritualidade para a nossa vida quotidiana. Faz-nos ler os acontecimentos diários com uma luz diferente, com uma confiança serena, com uma certeza de um Amor sempre maior.

Aparentemente banal, mas inegavelmente extraordinária é a questão que Jesus coloca àquele cego. “O que queres que te faça?”. Esta pergunta é também para nós, hoje, no nosso mundo, nos nossos quotidianos. “O que queres que te faça?”. Sim, porque a escolha é sempre nossa. Deus nunca se impõe. Ele apenas se disponibiliza. Sou eu que digo sim à construção de uma relação plena, amadurecida e trabalhada com Ele. “O que queres que eu te faça?”. Responder a esta questão implica-nos, traz-nos responsabilidades, faz-nos assumir o leme da nossa embarcação. Ao dar uma resposta, eu penso-me, eu vejo-me, eu conheço-me e, assim, vou crescendo na minha relação de fé adulta e construída. “Uma pergunta é uma máquina de fazer ver.”, diz o Cardeal Tolentino. De cada vez que nos questionamos, de cada vez que procuramos saber mais, de cada vez que nos expomos ao pensar, estamos a encontrar uma nova forma de ver, de conhecer, de viver. As perguntas sobre a vida não nos livram de todas as dúvidas nem nos fazem encontrar todas as repostas que desejaríamos, de imediato, obter. Mas são estas questões que nos encaminham, que nos despertam, que nos abrem horizontes. A vida é sempre mais feita de perguntas do que de respostas precisamente porque cada dia é um momento de temporalidade e de infinito.

A resposta daquele cego é a nossa resposta. O seu pedido é o nosso pedido, é o grito de uma vida nova, é expressão de um desejo de um começo novo dirigido a Deus. E este grito lançado traz consigo novas questões. Querer ver implica sempre confiar no que não se vê para, então, se conseguir ver. E o que é que eu escolho ver? Como perspetivo eu a minha realidade, o meu dia-a-dia, aquilo que eu sou e como sou? Ver implica aprendizagem, construção, busca.

Aquele cego em Jericó pediu a Jesus, “Senhor, que eu veja”. Que seja também este o nosso pedido. Senhor, que eu te veja sobretudo quando a tempestade aparece, quando o medo me domina, quando a morte se instala. Senhor, que eu veja a tua Luz que não se apaga e que brilha desde o início da vida. Senhor, que eu te procure como te procurou aquele cego, mesmo sem te conseguir ver.

“Senhor, que eu veja”. Ensina-me a ver, a saber ver, a aceitar o que estou a ver, a ver na tua presença e com a tua presença. Ajuda-me a compreender que tudo o que me acontece faz parte do meu processo de vida, da minha história, da minha identidade. Senhor, que eu saiba viver através do que me é dado acontecer. Que eu te encontre sempre no que me acontece. Que eu veja a vida dinâmica, orgânica, edificada em ti.

“Senhor, que eu veja.” É este o pedido diário de cada cristão. Uma prece para todos os dias. Para todos os dias em que a vida acontece, recomeça, segue viagem. Senhor, que eu te veja porque tu tornas a minha vida maior, tu amplias as minhas possibilidades, tu acolhes os meus desafios. Tu fazes da minha vida uma história de amor, uma viagem interior, um anúncio de possibilidades infinitas.