Arquivo mensal: Outubro 2023

Estradas Partilhadas – Encontro 1

No passado domingo, retomamos os nossos encontros de formação para consumo interno. Já há muito que gostaríamos que estes encontros tivessem acontecido, mas por vários e variados motivos, foram sendo adiados, aguardando um tempo mais favorável. E numa semana marcada por inícios e fins, por partidas e chegadas, eis-nos a viver estes encontros aos quais demos o nome de “Estradas Partilhadas” e que acontecerão uma vez por mês, num domingo à tarde. E nem nós sabíamos o quanto precisávamos destes encontros! Uma comunidade que vive e que se pretende viva precisa de se encontrar, de se despojar das atividades exteriores e de se centrar e sentar para só estar. Uma comunidade que se quer orante e pensante necessita de saber ouvir e cultivar a partilha. Uma comunidade que quer ser luz nas estradas por onde vai carece de tempo e de espaço para um diálogo íntimo e para a observação comum da vida. Estas “Estradas Partilhadas” são, para nós, um momento de partilha, de escuta, de descoberta, tendo sempre por base a confiança e a alegria que nos faz cúmplices nesta nossa irmandade. Nestes encontros, a partir de um texto, de uma frase, de um filme, de uma música, de um acontecimento, é feita uma partilha de vida entre todos os elementos presentes. Durante duas horas, fomos donos de um tempo e de um espaço para sermos juntos. Neste primeiro encontro, mergulhamos num texto do padre Nuno Tovar de Lemos, “O peixe e o mar”, e a conversa fluiu rica e tranquilamente. Falamos de nós enquanto pessoas, das nossas experiências de vida vividas à superfície e na profundidade, da relação com as escolhas nossas de cada dia, das certezas e das dúvidas que acumulamos nas nossas estradas e da nossa construção pessoal e comunitária. E quão bonitas e luminosas foram estas partilhas! Que alegria sentimos em cada palavra dada, em cada sorriso amigo, em cada gesto confiante! Não há nada mais rico do que a riqueza de podermos ser esta comunidade familiar que sente, vive, ri, chora, pensa e faz. E não há nada mais saudável do que proporcionarmos, uns aos outros, estes espaços e estes tempos para que, juntos, nos façamos mais pessoas, mais cristãos, mais humanidade. Seguimos nesta Estrada Clara!

Testemunhos – Formação Cristã de Adultos 2022/2023

Deixamos aqui registados os testemunhos de alguns elementos da Formação Cristã de Adultos 2022/2023, que fizeram connosco este percurso de educação e de partilha na fé. De outubro de 2022 a junho de 2023, às sextas-feiras, das 21h30 às 23h, na paróquia da Matriz (Póvoa de Varzim), estes jovens adultos fizeram o seu percurso na descoberta de um Deus que está sempre disponível para quem o quer acolher, construindo assim o início de uma fé adulta, pensada e experimentada, concreta, vivida em ações, participada no quotidiano e celebrada sempre em comunidade. Com estes testemunhos verdadeiros e genuínos, queremos partilhar convosco a alegria que é para nós, Comunidade Estrada Clara, sabermos que este desejo de Deus tão próprio do ser humano está e continua presente em quem O procura e nós, Comunidade, somos infinitamente mais felizes por podermos proporcionar este tempo e este espaço de partilha, de descoberta e de interiorização. Um bem-haja a todos vós, queridos formandos!

É muito simples de explicar o laço forte criado entre adultos que em Outubro não se conheciam e teriam muitas outras coisas a fazer nas suas noites de sexta: a Comunidade Estrada Clara proporcionou-nos um belo espaço de formação, reflexão e debate, ora sobre os profetas do Antigo Testamento, ora sobre as parábolas de Jesus, para além de temas abertos que nos mostram como ser cristão na sociedade moderna.

Toda a dedicação e profissionalismo da Ana, da Beatriz, da Sofia e do Carlos, ao que se iam juntando as intervenções dos próprios participantes, fizeram destes momentos um agradável espaço de aprendizagem cristã, bem longe da memorização de fórmulas que as pessoas possam associar a qualquer catequese menos conseguida.

Uma iniciativa assim fazia e faz muita falta e espero que, como o pequenino grão de mostarda, seja espalhado por várias gerações e por muitos outros lugares e ajude a robustecer os nossos tecidos sociais que por vezes nos parecem irremediavelmente fragmentados. São um soberbo exemplo das comunidades criativas que Bento XVI imaginou como o futuro do cristianismo no novo século.

Obrigado por tudo!

Toda a minha vida procurei por mim, pois tive momentos em que duvidei de mim própria. Momentos altos e baixos. Momentos em que perdi tanto, momentos em que a vida me presenteou com algo surpreendente. No fundo do meu coração eu sabia que Deus estaria a olhar para mim, pois só assim consegui superar os momentos mais difíceis. Ainda hoje não sei onde consegui forças para ultrapassar os desafios. Quando me foi dada a oportunidade de participar da formação cristã para adultos, não pensei duas vezes, tinha chegado o momento de entrega que há muito eu queria. Foram momentos fantásticos que passei na companhia deste grupo fantástico, aliás encontrei-me e finalmente posso dizer que encontrei a minha segunda casa, agora que fui descobrindo que ser cristão é muito mais do que eu pensava, afinal não basta dizer “sou cristão”. Quero continuar a participar desta comunidade de forma direta, pois apesar de tudo ainda tenho muito para aprender e quero muito continuar a aprender.
Obrigada a todos vocês que estiveram presentes nesta jornada!

Adorei frequentar esta formação, sem dúvida recomendo esta experiência! Para além de aprendermos bem mais sobre a igreja, Deus, Jesus e enriquecermos o nosso conhecimento como cristãos, também desenvolvemos um espírito crítico e percebemos que, mesmo nós cristãos, temos o direito de questionar certas coisas e entender o real motivo por detrás delas. Esta formação retira todo o tipo de tabus ou ideias fixas das quais a sociedade está normalmente repleta, a igreja não é um sítio para velhos e é muito mais do que uma simples missa. O facto de cada vez mais jovens se interessarem por atividades na igreja, desde o canto às leituras, mostra que a Igreja é meramente um sítio onde nos sentimos em casa, onde nos sentimos acolhidos, pois todos que lá frequentam acreditam no mesmo. Esta experiência fez- me abrir os olhos para quebrar essas ideias e entender muitas coisas que tinha curiosidade! Adorei o formato das formações onde muitas vezes discutíamos assuntos comuns da sociedade e bastante interessantes! Para quem tiver um bichinho de curiosidade e quiser aprofundar a sua fé, recomendo definitivamente!

Se hoje estamos casados pela Igreja, a vós, Ana Luísa, Beatriz e Paróquia da Matriz o devemos e humildemente agradecemos, pois sem este projeto da Formação Cristã de Adultos Online, a vossa dedicação e entrega, tal não seria possível! Para mim, Márcio, foi ainda mais especial, pois recebi três Sacramentos no mesmo dia: o Batismo, a Eucaristia e o Crisma. Eu, Verónica, recebi o Crisma. O nosso casamento realizou-se dias depois. Foram partilhas, o conhecimento da vida, morte e ressurreição de Jesus, dos Apóstolos que o acompanharam e o amor misericordioso de seu, nosso Deus Pai. Ficamos sensibilizados com as Parábolas presentes na Bíblia que são exemplos e ensinamentos em fazer o bem, sempre e para todos. Um gigantesco OBRIGADO! 

O meu percurso na Formação Cristã de Adultos foi fantástico!! No dia em que me inscrevi era só para poder ser madrinha! Pensei que seria algo breve e rápido!!! Mas quando se iniciou a formação, logo percebi, no primeiro dia, que não seria só uma simples formação! Pelas pessoas fantásticas que ali conheci percebi que seria uma formação diferente!! Um dos meus sonhos desde pequena era saber pegar na Bíblia e entender o que estaria a ler! E a Ana, a Beatriz, a Sofia e o Carlos ajudaram-me a interpretar a Bíblia e muitas mais coisas diria! As amizades que ali construí, pessoas fantásticas! Poderia estar a escrever sem fim que não iria terminar de tão bom que foi e as tantas coisas boas que aprendi e que me fizeram ser uma pessoa diferente, uma pessoa melhor.(atenta aos sonhos de Deus.) Mas há um ponto negativo: o facto de ter terminado…

   “Tu és fonte de Vida, Tu és fogo, Tu és amor, vem Espírito Santo, vem Espírito…”

“Confirmai-nos, Senhor, no vosso Espírito”

“- Rute, recebe por este sinal, o Espírito Santo, o Dom de Deus.”

“- A paz esteja contigo.”

Para mim, uma das mais belas palavras, uma das mais belas frases deste lindo dia. Em família e em Comunidade em paz, com ternura e alegria, na minha fé Cristã consciente e madura com vontade de nela continuar a caminhar assim a confirmei e o meu a Deus também. Fé, a chama serena mas firme que vive em mim sem cessar e que me faz acreditar num hoje, num amanhã melhor. Deus vive em mim, Nele confio, creio e tudo entrego! Jesus Cristo que por amor e por todos nós se entregou para nos salvar. Assim, também, com amor e por amor a Ele, com honra, fielmente vivo e transmito os seus belos ensinamentos sempre genuinamente, fazer o bem.
Mas que bela e enriquecedora experiência esta a da Formação Cristã de Adultos. A que me fez docemente percorrer no túnel do tempo reviver e, igualmente confirmar os ensinamentos de Deus que outrora foram transmitidos. Feliz daquele (es)  que com amor e por amor a Deus em Comunidade, ao ser-se Igreja e de forma voluntária partilham os seus dons. Juntos, na exploração da Bíblia e na reflexão das belas Parábolas que Jesus Cristo contava igualmente reforçam que é na simplicidade dos nossos nobres atos do dia-a-dia, de uns para com os outros de quem se dá e dá aos que mais precisam serão sempre os que mais recebem. Deus é Amor por isso, devemos assim, viver com encantamento pela vida. Devemos sempre, verdadeiramente acolher os demais para também sermos acolhidos. Devemos encorajar, respeitar, confiar, perdoar, amar, partilhar e multiplicar o amor, o amor e a misericórdia de Deus. Devemos também sempre, fazer ao outro o que gostaríamos que a nós, a mim, assim o fizessem pois, essa é a mensagem: o Amor, sempre o Amor, o amor ao Amor ao Próximo, o Amor a Deus. Neste ano, (e sempre) em que ” Há pressa no ar”, de mãos dadas e braços e abraços abertos unidos devemos continuar nesta linda caminhada de vida de Fé, de partilha e de Esperança. Porque “ninguém é Cristão sozinho” e “onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração”, na graça de Deus sê feliz e, faz os outros felizes também. Aos meus queridos e estimados irmãos da nossa Grande Família e de Fé : Ana Luísa, Beatriz, Sofia, Carlos, a todos os que frequentaram a Formação Cristã de Adultos e também ao nosso querido e estimado Prior P.e Avelino, um gigantesco abraço fraterno.

Falar para Crer – 5.º Encontro

Na próxima 4.ª feira, dia 11 de outubro, retomamos os encontros de formação “Falar para CRER”, organizados pela paróquia da Matriz em colaboração com a Comunidade Estrada Clara. Nestes encontros, refletimos acerca da atualidade da mensagem cristã e do modo como é possível sermos cristãos em todas as circunstâncias da nossa vida. Tem sido um caminho muito enriquecedor este que temos feito nestes encontros. Como o próprio nome destes encontros indica, é fundamental conversar, falar, dialogar para chegarmos a um entendimento e a uma compreensão em relação à vida que nos acontece a todos. E esta vida ganha cada vez mais propósito e significado sempre que a pomos em palavras partilhadas, escutadas, trabalhadas. Por isso, agradecemos a todos que têm vivido estes encontros connosco, partilhado as suas vivências, nos têm escutado com atenção e disponibilidade e têm estado presentes na confiança e na alegria comum que vivemos. OBRIGADA!

Deixamos aqui os registos do quinto encontro “Falar para CRER”, realizado no dia 12 de julho com o tema “Ser Católico hoje”. Neste encontro, fizemos a leitura trabalhada de um texto do padre Tomás Halik a propósito do caminho sindonal que está a ser vivido por nós, Igreja em construção. O texto falava-nos da importância de sabermos olhar para nós cristãos e de percebermos que caminho é este que temos percorrido e o que podemos fazer para continuarmos a ser este Povo que caminha sempre em direção a uma vida eclesial mais verdadeira e mais autêntica. Em seguida, em pequenos grupos, os participantes do encontro refletiram acerca de duas questões muito concretas: de que forma a vida pastoral da nossa paróquia foi, ao longo deste ano, expressão de Deus ressuscitado; que propostas pastorais apresento para o próximo ano. Todas as reflexões dos diferentes grupos foram partilhadas em grande grupo.

Recordamos que estes encontros “Falar para CRER” estão sempre abertos a todos os agentes da Pastoral (Catequistas, Jovens, Conselho Paroquial, Leitores, Grupos Corais, etc.) das comunidades paroquiais. Não é necessária inscrição, basta aparecer. Próximo Encontro “Falar para CRER” – 11 de outubro de 2023 (4.ª feira), às 21h, no Salão Paroquial da Matriz (Póvoa de Varzim)

Dias, relógios e vidas

Reflexão para o mês de outubro de 2023

Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara

“Ensinai-nos a contar os nossos dias para chegarmos à sabedoria do coração.” (Salmo 90)

Por estes dias, ao “arrumar” fotografias que tenho no computador, deparei-me com esta que o Jorge nos tirou, a mim e à Sofia, em 2014, no final de um agosto cheio de luz, num cafezinho muito acolhedor, na bela cidade francesa de Cluny, depois de uma viagem de 24h em autocarro até Taizé. O Jorge gostava muito de relógios. Temos vários e variados relógios em várias e variadas divisões da nossa casa porque ele apreciava a estética, a beleza, a história que os relógios espelhavam. Demorei-me nesta fotografia que foi tirada só por causa daquela parede enfeitada (as duas moças acima mencionadas foram só um pretexto, claro!). Mergulhei nas memórias bonitas que ela me trouxe e deixei-me ficar a pensar em relógios, em tempo, em épocas. Naquele mistério que o tempo traz consigo. Nas perguntas que os dias nos fazem e no tempo que nem sempre é suficiente para as ouvir. No que significa correr atrás de um tempo, deixar um tempo passar ou até fugir de um tempo.

No salmo 90, atribuído a Moisés, num dos versículos mais bonitos que conheço, o salmista pede a Deus que o ensine a contar os seus dias para poder atingir a sabedoria do coração. Este “contar” os dias nada tem a ver com ter os dias contados ou com a aritmética matemática. Contar os dias é saber dar-lhes significado, relevância. Aprender a contar os nossos dias é descobrir que a nossa história pessoal está dentro de uma história maior, a história da Salvação, a história de um povo que caminha rumo a um Deus que o espera sempre e para sempre. Contar os nossos dias é também um modo de confiar. A fé é sobretudo isto, escolher a confiança na vida, no presente, no que nos é dado. Confiança na adversidade daqueles dias frágeis, mas sempre abraçados por Deus. Contar os nossos dias é aprender a reconhecer a presença de uma Força que nos sustém e que nos acompanha no nosso quotidiano, fazendo-nos olhar para a vida com um significado maior, um propósito de infinito. Quem aprende a viver a sabedoria que vem de Deus, tudo avalia à luz da eternidade, da intemporalidade, do infinito. A salvação está aqui, na possibilidade que nos é dada a cada dia de ver de modo diferente, de fazer de modo diferente, de ser de modo diferente.

O tempo de Deus não é o nosso tempo, ouvimos tantas vezes dizer. E isto é assim porque o tempo de Deus não se mede em relógios, em horas marcadas, em agendamentos. Ser cristão é ter uma relação diferente com o tempo. Para o cristão, o tempo não é uma crueldade nem um impedimento. O tempo não pode ser a desculpa que se arranja para se desinvestir naquilo que verdadeiramente importa – a vida plena, em comunidade familiar, a vida com os outros no Outro. Durante estes anos temos ouvido muitas destas desculpas que limitam o acesso a uma vida maior, a experiências significativas. “Quando tiver carro, eu vou à Oração.”, “Quando acabar esta formação que estou a fazer, eu apareço nos ensaios.”, “Quando estiver de férias vou convosco ao encontro de Verão.” E o carro vem, a formação termina, chegam as férias, mas o desinvestimento naquilo que, aparentemente, parece não dar lucro, nem visibilidade, nem créditos continua… E aquela pessoa que podia, mais à frente, encontrar um propósito maior para a sua existência, perde essa oportunidade de se conhecer mais. E os seus dias passam a valer menos porque se resumem a cumprir ordens ou a fazê-las cumprir, a amealhar ordenados, a agendar atividades numa corrida desenfreada para chegar a uma meta numa competição de egoísmos crónicos. E essa pessoa vive só a relacionar-se em função de uma troca, de um ganho, não sabendo viver o Amor gratuito, dado sem ser por nada.

Enchemos, tantas vezes, os dias de preocupações, de azáfamas, de agitações como se fossemos nós os senhores dominadores da nossa vida. Gastamos tanto de nós e do nosso tempo num tempo que muito pouco ou nada nos dá. A vida é tão frágil, tão efémera. Por isso, é simultaneamente tão preciosa, tão única. Não a desperdicemos em cálculos, em ressentimentos, em egoísmos. Não contemos os nossos dias de forma vaga, indiferente, desinteressada. Que nenhum dia nos encontre por viver de forma autêntica.

A vida é mais, sempre mais, mais que os dias gastos em acumulações de trabalho, mais do que os esforços feitos para se atingir uma perfeição, mais do que o mero acumular de graus académicos ou estatutos sociais. O cardeal José Tolentino Mendonça, no seu livro “A mística do instante”, recorda-nos que “é quando percebemos que a vida é mais que deixamos de viver tão preocupados com o mínimo, tão prisioneiros dos pormenores ridículos que nos escravizam.” E alerta-nos para algo que em nós é recorrente: “Carregamos a vida de coisas, indispensáveis e, sobretudo, dispensáveis, tralha impura que nos prende. E depois, às tantas, estamos seguros, estáveis, garantidos, mas já não estamos, já não somos, porque hipotecamos a nossa verdade fundamental a todas as preocupações.” Entristecem-me aquelas pessoas para quem o tempo só tem valor monetário e financeiro. Aquelas pessoas que muito pouco ou mesmo nada fazem de forma gratuita e que não conhecem o que está para além do que é comercializável. Que gerem as suas vidas em função do “o que é que vou ganhar com isso”. Que fazem escolhas tendo por base o que é calculável. Que não são sensíveis a um simples saber estar sem se estar a obter um lucro qualquer com isso. Que não compreendem para que serve a poesia. Que acham uma perda de tempo perder tempo com uma caminhada para se admirar o nascer do sol. Que não se conseguem rir das situações mais simples e, sobretudo, deles próprios. Que até são capazes de oferecer muitos presentes no Natal e nos aniversários, mas que não conseguem saber dar-se aos outros. E que, sem o saberem, estão a perder a vida…

Quando entrego os meus dias, quando os abro à vontade de Deus, quando me deixo invadir pela beleza que é sempre o presente no presente, então assim acontece a multiplicação do meu tempo, do amor, da vida que quando é vida é sempre em abundância. Ser cristão é ser de um tempo sem princípio nem fim. Um tempo que é sempre doação, sempre dádiva, sempre dom. Um tempo qualitativo, epifânico, regenerador.

O Jorge gostava muito de relógios. Também gostava muito da música “Clocks” dos Coldplay e tocava-a frequentemente no piano. Mas o que ele mais gostava era de poder gastar as horas dos seus dias em ser um genuíno cristão de acolhimento, de esperança, de alegria. A vida dele pode, para nós, ter tido poucos dias, mas o tanto que ele nos deixou dá-nos a certeza de que esses seus dias foram vividos com a tal sabedoria necessária, com o desprendimento que nos liberta e com o coração sempre cheio daquela eternidade que nos salva e que é única. É por isso que todos os dias eu agradeço esta doação da vida do Jorge e sou feliz por saber que continuamos a fazer comunidade com quem caminha connosco e a encher os nossos dias de vida para os outros. Sempre. Agradeçamos a Deus a nossa entrega de cada dia, especialmente naqueles dias difíceis, duros, adversos. Peçamos a Deus esta sabedoria necessária para continuarmos a ser caminho, ajudando-nos a confiar e a viver uma existência cada vez mais autêntica. Que Ele nos torne atentos, disponíveis, ricos em dádiva de vida.