Arquivo mensal: Dezembro 2024

Um Menino nos foi dado

Mensagem de Natal da Comunidade Estrada Clara

Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara

“Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado.” (Is 9,5)

Um Menino nos foi dado. Um Menino foi-nos entregue para nossa salvação. Um Menino que nasce para que eu possa viver. Um Menino que nos lembra que é na pobreza que encontramos a riqueza, é na fragilidade que conhecemos a fortaleza, é na pequenez que nos tornamos grandes.

Um Menino nos foi dado. Deus escolheu fazer nascer o seu filho não num majestoso palácio, mas num simples estábulo. Deus quis que o seu filho nascesse não numa família de imperadores e reis, mas num humilde lar. Deus quis que o seu filho fosse primeiramente visitado não pelas mais elevadas autoridades do Império, mas por um grupo de pobres pastores.

Um Menino nos foi dado. Para que O procuremos não nos grandiosos acontecimentos humanos, mas nas aparentes banalidades do quotidiano. Para que O reconheçamos naquilo que o mundo rejeita, para que acreditemos na força da debilidade, para que ousemos trazer a Luz à escuridão.

Um Menino nos foi dado. E com este Menino nascemos nós, sempre, cada vez que aceitamos a renovação, cada vez que escolhemos começar de novo, cada vez que damos espaço à disponibilidade.

Um Menino nos foi dado. E Deus ofereceu-nos, a cada Natal, o seu próprio filho, querendo verbalizar na nossa Humanidade todo o Amor com que somos feitos. Deus colocou nos nossos braços um Menino para nos revelar que é com um coração puro que conseguimos ver a beleza, que é com o olhar disponível que somos capazes de eliminar a indiferença e a brutalidade.

Um Menino nos foi dado. A toda a Humanidade. A cada um de nós. Este Menino que é sempre criança nos nossos presépios, sem idade e com Eternidade.

Um Santo Natal para todos vós que connosco seguis na nossa Estrada Clara! Um abraço sempre amigo e natalício.

Ana

Adventar

Reflexão para o mês de dezembro

“Espera no Senhor. Sê forte e corajoso e espera no Senhor.” (Salmo 27)

Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara

A história da fotografia que acompanha este texto é muito simples. Colónia, Alemanha. JMJ 2005. Em agosto, num dia particularmente quente com temperaturas invulgares para aquela cidade. Durante mais de cinco horas, estivemos na praça em frente à majestosa catedral de Colónia à espera que o Papa Bento XVI chegasse para saudar os peregrinos. As expectativas eram grandes. As horas iam passando, o calor aumentando, as conversas fluíam, os risos intensificavam-se. Estávamos ativamente à espera. Numa espera comunitária, sem pressas nem ansiedades porque sabíamos que o Papa estava a chegar. Quem já fez a experiência de participar numas JMJ sabe que uma das atividades previstas é mesmo esta… estar à espera do Papa! Percorrem-se lugares, escolhem-se os melhores sítios, combinam-se estratégias. Tudo para, simplesmente, ver o Papa. Para quem está de fora deste tipo de eventos religiosos, isto pode parecer algo “estranho” e uma perda de tempo, mas para nós cristãos esta espera é sempre significativa. Esperamos aquele que para nós é o representante de Jesus no meio de nós.

Ao deparar-me de novo com esta fotografia que representa a nossa espera, veio-me à ideia este conceito de espera cristã, conceito este que marca de forma evidente este período que hoje iniciamos – o Advento. O tempo do Advento é, por excelência, o tempo da espera. É o tempo privilegiado da preparação, do cuidado, da atenção. É o tempo do silêncio que fecunda, do olhar que procura a beleza, da paciência que se torna ação. Nestes dias que antecedem o Natal, a função do cristão é essa mesma – a de adventar.

Adventar. Adventar é esperar o que se anuncia, aguardar, com fé e esperança, o que está para vir e ver. Somos pessoas em advento, em preparação, em caminho. A nossa vida é uma espera contínua, daquilo que há de vir, do que há de acontecer, do que viveremos na Terra que nos está prometida para toda a Eternidade.

Muitas vezes, associamos esta espera a algo que nos é difícil de suportar, um vazio que se instala, uma ausência que corrói. Mas o tempo do Advento que nos é dado viver ressignifica esta noção de espera. É este o papel de Deus nas nossas vidas. Dar um novo significado à nossa história, ao que nos acontece. Dar uma nova possibilidade de caminho às nossas inquietações e incompreensões.

Adventar é esperar. E esperar não é passividade, não é impaciência, não é ansiedade. Esperar em Deus é dispormos do tempo propício para a profundidade, para abandonar a superficialidade, o imediato que tantas vezes nos faz viver de forma incompleta. Há uma dinâmica própria na espera cristã que não se enquadra nas dinâmicas deste mundo. Por isso, o esperar de um cristão é, muitas vezes, mal entendido e aceite. Esta espera cristã só é plenamente compreendida na disponibilidade interior e na confiança. Esta espera enche-se da riqueza maior que é Deus que vem até nós. Aquele que nos ama, ele próprio já nos espera. E sabermo-nos esperados por ele dá-nos a paz de que precisamos. Por isso, esta espera cristã fortalece-nos, torna-nos mais comprometidos com a vida que nos vai acontecendo, estimula a nossa criatividade, promove a nossa empatia, alarga-nos horizontes, liberta-nos do peso do que é concreto.

Neste Advento que hoje iniciamos, desafiemo-nos a aprender a esperar mais e melhor. Esperar implica confiança. No que nos espera. Nos que amamos. No desconhecido. No inesperado. No que não controlamos. Mas saber que há um Deus que nos espera é saber que essa espera vem de Deus. A nossa vida faz-se de esperas. A nossa vida está cheia de “adventos”. Precisamos do exercício da espera, escolhendo boicotar a ideologia da pressa, da inquietação, do utilitarismo.

Adventar não é passividade nem desistência. É ação, procura, entendimento. Esperamos na alegria e na vigilância. Esperamos com abertura e disponibilidade.

Na palavra “esperança” encontramos a palavra “espera”. E isto não é um mero acaso linguístico. Quem espera, tem de esperar com esperança. Porque esperar é sempre desejar o que está para vir. Esperar confirma a nossa esperança. Quem espera, alcança porque se deixa acreditar. Num futuro maior, numa alegria multiplicada, num fruto nascido de uma semente planta. Exercitamos a esperança quando escolhemos esperar e, assim, passamos a olhar o presente e o futuro com outra certeza no meio das incertezas.

Advento. Há uma festa que estamos todos a preparar. Uma festa a ser vivida já na antecipação de um nascimento feliz. Diz a sabedoria popular que o melhor da festa é esperar por ela. Pois é este o caminho que nós cristãos somos convidados a percorrer. Adventar. Saber esperar. Saber preparar aquela festa que nasce em mim com o nascimento d’Aquele que faz ser Luz. Adventar. Que saibamos conjugar este verbo nas ações dos nossos dias. Que nos assumamos como cristãos de advento, comprometidos com o caminho, empáticos com os irmãos, anunciadores de esperança.