Arquivo mensal: Janeiro 2025

A Fé é um superpoder

Reflexão para o mês de janeiro

«Coragem, minha filha! A tua fé te salvou!» (do Evangelho de São Mateus 9, 22)

Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara

Feliz Ano Novo! Felizes 365 dias que nos serão dados viver!

O início de um novo ano pede-nos sempre uma reflexão acerca do ano que passou. Gosto de fazer este exercício de análise e, quando olho para trás, em particular para estes últimos quatro anos, só me consigo sentir grata. E motivo é muito simples: a minha escolha de vida, a minha Fé e o modo como a tenho vivido. A minha escolha de Fé trouxe-me até à pessoa do presente que sou hoje e com as pessoas que são o meu presente. E esta minha escolha pode não responder às minhas perguntas de por que razão a morte nos aconteceu há quatro anos, mas olhar para o que nos tem acontecido com olhos de Fé e de Esperança traz-me uma grande paz e uma imensa gratidão. Creio ser esta uma das mais importantes dádivas de se viver em Fé: experimentar a gratidão, saborear a bondade, viver a paz mesmo que, aos olhos do mundo, tal pareça impossível. E, acima de tudo, a Fé ajuda-nos a compreender como é que da morte renasce sempre a Vida. Sempre!

A Fé é uma construção pessoal. Primeiro, é sempre um desejo, uma vontade, um querer. Tem de existir esta disponibilidade, não pode ser imposta. Eu desejo conhecer Deus que me ama, mas que ainda não conheço, portanto, muitas vezes, é-me difícil retribuir esse mesmo amor. Eu tenho vontade de experimentar quem este Deus é, como é que Ele se manifesta, como é que Ele vive nas suas testemunhas. Eu quero fazer este caminho de busca e de construção. Este será assim o primeiro passo a dar numa caminhada de Fé. Por isso, a Fé implica uma relação pessoal, uma adesão. É um ato de confiança, é um caminhar sem garantias que implica a entrega das minhas fragilidades a um Deus as acolhe. A Fé é um processo que cresce com o risco, abrindo-nos caminho que é a nossa vida toda.

A gramática da Fé pede a sua conjugação no plural. O caminho que a fé nos mostra é sempre comunitário. Uma Fé genuinamente vivida só existe quando é partilhada, quando é espaço de bem comum com os outros e para os outros. A Fé implica relação, contacto, aliança. A Fé, para crescer, precisa de ser alimentada, nutrida, cuidada, caso contrário, ela torna-se mais vulnerável, mais frágil, mais sujeita à erosão do tempo e das incertezas. A Fé alimenta-se na oração, no quotidiano, na relação com os outros meus irmãos que são sempre o melhor reflexo de Deus.

Uma vida de Fé exige muita coragem e ousadia. Isso significa esforçarmo‐nos para não ficarmos paralisados pela presença da morte e da destruição que nos cercam hoje. Assim, ter Fé é deixarmo-nos ser socorridos. É não termos receio de nos entregarmos totalmente, tal como somos, com tudo o que somos. A Fé não é uma garantia, não é uma apólice de seguro. Ter fé não me vai impedir de assistir à morte daqueles que amo. Ter fé não me vai proteger de uma doença ou de um desaire profissional. Ter fé não me vai pagar as contas no final do mês. Mas ter Fé ajuda-me a superar todas estas dificuldades, a abraçá-las e a vivê-las de uma forma, a caminhar por entre vales tenebrosos guiada pela confiança que a Terra Prometida nos traz, acreditando que as dificuldades, as dores, os obstáculos não são o ponto final.

Então, como é que a Fé nos salva? De forma, de que modo ter Fé é garantia de salvação? A Fé salva-me na medida e que eu escolho que a minha Fé me salve. E a Fé que me salva depende de mim, isto é, da minha vontade em querer ser salva a partir da Fé que me salvará. Se não fosse a minha escolha de vida em Fé e pela Fé, não sei quem seria. Obviamente, é possível viver sem Fé, mas a minha história de vida tem um saldo inegavelmente feliz por causa da minha Fé. Sou uma pessoa melhor porque acredito que há uma Vida que nos espera não só aqui, mas sobretudo na Eternidade. Aceito com paz as minhas fragilidades porque sei que há um Deus que as acolhe. Sinto-me mais serena perante os obstáculos porque sei que são passageiros. Ter Fé ajuda-me a queixar-me menos do que me acontece e a desprezar qualquer revolta ou raiva que com facilidade se apegam ao coração humano. A minha Fé faz-me saber o que não é verificável pela racionalidade e ajuda-me a saber viver com isso. A Fé é simultaneamente entendimento e mistério, mistério e entendimento. Quando a razão já não consegue explicar os acontecimentos, então é nesse espaço que a minha Fé atua e me faz viver. Ter Fé ensina-me que é possível viver numa Irmandade feliz, que há uma mão que nos segura, que há sempre uma Voz que canta contigo a tua canção.

Quem mergulha numa vida de Fé, nunca mais deseja voltar ao superficial. Foi o que aconteceu comigo… Quem se deixa levar pela perspetiva de ler a vida como dom, nunca mais se deixa contaminar pela ingratidão e pela futilidade. A Fé é o meu superpoder! Reveste-me de fortaleza, aumenta a minha imunidade, protege-me do caos e do egoísmo. Mesmo quando ela brilha de forma muito ténue na escuridão, muito frágil e, muitas vezes, prestes a apagar-se…

O meu desejo para este Ano novo cheio de dias por inaugurar é que a minha vida possa ser sempre um testemunho deste meu superpoder. Que através das minhas palavras, ações, escolhas e comportamentos, eu seja capaz de personificar aquilo em que acredito. Que a minha fé seja sempre “uma boa notícia”, que é o sentido literal da palavra “Evangelho”. Que de mim se possam lembrar como uma mulher de Fé. Que eu possa anunciar com a minha vida como sou feliz com as minhas escolhas. “Seja o que for, será bom. É tudo.” Termino com estes versos do poeta maior, Daniel Faria. São o espelho do que é viver em Fé e pela Fé todos os dias. Que seja este o nosso mantra diário ao longo deste novo ano!