Naquele dia, a Sua voz rasgou a minha morte…

A reflexão de Lázaro, amigo de Jesus

(a partir do Evangelho do dia – Jo 12, 1-11)

Seis dias antes da Páscoa, Ele voltou a Betânia, a minha casa. A memória do túmulo ainda me assombra – aquele escuro absoluto, o silêncio sem tempo. Mas depois ouço sempre a Sua voz, a que me traz de novo à vida: “Lázaro, vem para fora!” E eu voltei. E volto. Escolhi voltar. Não foi apenas um voltar à vida – foi um começar de novo, com um sentido que antes não conhecia. Nasci de novo. Como posso explicar? Os olhares que as pessoas me lançam… uns de espanto, outros de medo. Muitos querem ver-me só porque fui ressuscitado. Porque a minha vida, agora sim, é sinal d’Aquele que é a Vida.

E Ele estava ali de novo, sentado à mesa comigo. Marta, sempre generosa, servia-O com o coração em festa. Maria ajoelhou-se aos Seus pés e derramou aquele perfume caríssimo, enchendo a casa com o aroma do seu amor. E eu, silencioso, observava tudo com o coração cheio de gratidão, de reverência, de um amor que de tão grande que era já não cabia no peito.

Eu conhecia os olhos d’Ele. Tinha-os visto antes da minha morte e depois da minha ressurreição. Mas agora, havia neles uma sombra… era como se já carregassem o peso da cruz que se aproximava. E, no entanto, ainda havia n’Ele uma imensa ternura. Ainda havia n’Ele toda a luz. Ele escolheu estar com os seus, fazer festa, abraçar os que amava, sentar-se à mesa para partilhar o pão e a vida. Embora sabendo que ia morrer, Ele não quis morrer antes do tempo.

Seis dias antes da Páscoa, Jesus veio à minha casa. E, naquela mesa, eu soube: eu não sou apenas um homem que voltou da morte — sou um homem chamado a viver para sempre n’Ele. Sei que o meu corpo esteve fechado no túmulo, mas o meu coração é hoje, por Ele, uma casa aberta. E se Ele quiser, morrerei de novo. Porque, agora, sei o que é viver. Já não vivo para mim — vivo como quem sabe que esteve morto. Porque viver depois da morte… é viver para sempre!

Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara

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