A reflexão de Pedro, discípulo de Jesus
(a partir do Evangelho do dia – Jo 13, 21-33.36-38)
Estávamos os doze reunidos com Jesus para celebrarmos a Páscoa. Sentíamos que havia algo diferente naquela noite. Os olhos d’Ele falavam mais do que as Suas palavras. Ele falava de partir para onde não poderíamos ir e eu, impulsivo como sempre, não consegui ficar calado.
“Senhor, para onde vais?” – perguntei com a inquietação de quem não suporta a ideia de estar longe d’Ele. E quando me disse que não O poderia seguir agora, o meu coração revoltou-se. “Por que razão não posso seguir-Te agora? Darei a vida por Ti!” – disse, com toda a convicção.
Na minha mente, eu estava pronto. Pronto para tudo. Pronto para O defender, até com a espada. Pronto para O seguir até ao fim. Tinha a certeza! Não O deixaria sozinho! Morreria por Ele se fosse preciso! Mal imaginava eu que, horas depois, nem coragem teria para dizer que O conhecia…
Mas Ele já tinha visto a minha queda. Olhando-me, disse: “Darás a vida por Mim? Em verdade te digo: não cantará o galo antes que Me tenhas negado três vezes.” Fiquei estupefacto. Algo em mim gelou. Seria eu capaz de tal ato hediondo? Parece que sim…
Eu que me via tão forte, sucumbi à minha fraqueza. Eu que O amava tanto, neguei-O quando mais de mim precisou. Hoje, ao recordar aquela noite, vejo que ainda não tinha deixado que o Seu amor me transformasse por completo. Eu queria segui-Lo, mas à minha maneira. Mas, fui salvo! Ao contrário de Judas, não me deixei morrer no sofrimento que uma traição traz. Eu sabia que Jesus me amava sem medida e que o seu perdão cobriria o meu pecado. Deixei-me perdoar e voltei à Vida. E do meu fracasso, Ele fez uma história de amor.
O que mais me espanta não é que Jesus tenha previsto a minha traição… mas que, mesmo assim, Ele me tenha salvo do abismo para onde o pecado nos leva. Aquela noite fez de mim um homem novo. E eu fui abraçado pela Sua cruz, o lugar onde Jesus tem sempre os braços abertos para nós.
Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara