A reflexão de Judas
(a partir do Evangelho do dia – Mt 26, 14-25)
Estava à mesa com os outros, mas o meu coração já lá não estava. A desilusão e a revolta dominavam-me. Durante três anos, caminhei ao lado de Jesus, vi os Seus milagre, escutei as Suas palavras. Mas as dúvidas cresciam e eu nada fazia para as esclarecer. Fui disfarçando a minha inquietação interior, com vergonha que me julgassem um fraco. Logo eu, o mais sério de todos, o mais preocupado com tudo, o mais responsável, como poderia eu ter dúvidas? Mas elas estavam lá…
Eu queria que Ele se impusesse, que derrubasse o Império, que ocupasse o trono que lhe pertencia por ser Filho de quem era. Mas Ele ultimamente só falava em morrer, em amar os inimigos, em dar a outra face… Aquilo não fazia sentido para mim. A minha impaciência e frustração cresciam… Seriam só promessas? Seria tudo uma fraude? Não! Eu ainda acreditava que Ele era o Messias! Ele só tinha de Se revelar ao mundo. Então, eu quis obrigá-Lo a agir. Eu não O queria trair… queria só provocá-Lo para que Ele se visse obrigado a manifestar a Sua realeza… E perante a iminência de uma condenação, eu tinha a certeza que Deus não O abandonaria e enviaria todos os Seus anjos para que O salvassem. Então aí, finalmente, todos acreditariam em Jesus! Ele seria Rei e nós os seus ministros! Era este o meu plano… perfeito!
Mas enganei-me… Fui longe demais… Traí-O, convencido de que se salvaria no último momento. E naquela noite, embora sabendo o que eu ia fazer, Ele não me rejeitou. Chamou-me “amigo”, como se me dissesse: “Ainda podes desistir. Fica comigo.” Por que não fiz isso? Por que não voltei atrás? Por que não Lhe abri o meu coração? Talvez porque o coração, quando endurece, já não escuta o amor…
Entregar Jesus… nunca imaginei que isso acabaria por me entregar a mim mesmo e me deixaria à mercê da culpa, do remorso, do abismo de onde nunca mais consegui sair… O que me matou não foi o pecado que cometi, foi o não ter acreditado no Seu perdão.
Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara