Arquivo mensal: Junho 2025

55 anos de TI, Jorge


Conhecendo-te, sei que não querias confusão nem alarido. Se cá estivesses, provavelmente até fugirias da tua própria festa. Preferias sempre celebrar a vida dos que te rodeavam e colocá-los no centro, dar-lhes toda a importância. Mas, hoje somos nós quem te celebramos. Não com uma festa, mas com presença. A tua, que continua viva em cada um de nós.

Celebramos essa mistura só tua — de seriedade e leveza, de fé convicta e timidez desarmante, de sensibilidade pura e calma inquieta.

Celebramos o teu dom de escutar por inteiro. E quando falavas, era para dizer o que era preciso, sem rodeios. Tinhas aquela coragem serena que nos desmontava com uma simples pergunta ou com um silêncio cheio de sentido.

Celebramos a tua teimosia. Teimosia no bem, no acreditar nas pessoas, mesmo quando elas já tinham desistido de si próprias.

Celebramos o teu riso de corpo inteiro, naquele som solto, inesperado, contagiante, salvador.

Celebramos o teu jeito raro de entrar numa sala e ajustar o mundo dois milímetros para melhor, só com o modo como pousavas o casaco, como compunhas as almofadas, como abrias as janelas.

Celebramos a tua vida vivida em verbos contínuos – ir, fazer, pensar, cantar, subir, abraçar, rezar, amar.

Celebramos as sementes que lançaste e que agora florescem em gestos nossos, em escolhas feitas, em dons postos ao descoberto.

Celebramos aquele teu olhar que via sempre mais do que queríamos mostrar. E bastava um “hmm” teu para repensarmos a nossa vida inteira.

Celebramos a tua inteireza espelhada em anos de entrega, de cuidado, de correção com amor, sem medos, sem meias medidas e com uma frontalidade transformadora.

Celebramos a tua vida toda feita no tempo do agora. Nunca foste de “quando tiver tempo”. Tu tinhas. E davas. Sem condições.

Hoje celebramos o teu nascimento e tudo aquilo que tu fizeste nascer dentro de nós. Por isso, este dia também é nosso. E se hoje, por acaso, as lágrimas aparecerem, lembra-te que elas são só a outra face da alegria de termos tido alguém como tu nas nossas vidas…

Obrigado, Jorge – por nos teres sido tanto. E por tudo o que ainda nos és.
A tua vida foi e é o nosso maior presente!

Ana

Um caminho em comunidade

Com imensa alegria e, sobretudo, com o coração cheio de gratidão, preparamo-nos, em comunidade, para fazer uma festa! Amanhã, os nossos treze formandos do quarto grupo da Formação Cristã de Adultos receberão o Sacramento da Confirmação. Destes treze, dois deles serão também batizados e um receberá também o sacramento da Eucaristia. De outubro de 2024 a junho de 2025, às sextas-feiras, das 21h30 às 23h, este grupo fez o seu percurso na descoberta de um Deus que é sempre Amor e presença em cada um de nós, construindo assim o início de uma fé adulta, pensada, concreta, vivida em ações, participada no quotidiano e celebrada em comunidade. Ao longo dos 25 encontros, procuramos dar a conhecer o que significa, nos dias de hoje e no contexto social, ser-se cristão comprometido, esclarecido, com um propósito de vida consciente e com a experiência sempre fundamental da dimensão comunitária.

Por isso, amanhã faremos festa! Celebraremos o percurso cristão da Anair, do Arthur, do Caio, da Carina, do Douglas, da Inês, da Joana, da Márcia, do Pedro, da Roseane, da Serafina, do Sérgio e da Tânia. Agradecemos todas as escolhas que eles fizeram desde o momento em que se decidiram inscrever nesta formação até ao dia de amanhã que marcará, não o fim de uma etapa, mas o início de uma vida mais comprometida e partilhada na Igreja que somos todos nós. Destacamos a disponibilidade, a humildade, a persistência, a motivação e o carinho que estes formandos sempre nos transmitiram em todos os encontros. E somos infinitamente gratas pela possibilidade que nos deram a nós de partilhar com eles a nossa vida enquanto elementos de uma comunidade orante e pensante.

Desejamos que cada um destes nossos queridos formandos continue a sua descoberta e construção como cristãos que são. E, sobretudo, que caminhem em confiança e na confiança deste Deus que está sempre connosco. Eu, a Beatriz e a Sofia, como comunidade e irmandade que somos e onde somos, estaremos sempre onde vocês nos encontraram pela primeira vez – a abrir-vos as portas de uma Igreja que é para todos, todos, todos. Sempre!

Ana

A vida em abundância

Reflexão para o mês de junho de 2025

“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (do Evangelho segundo São João)

Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara

Há dias, no nosso encontro mensal “Estradas Partilhadas”, começamos a ver “After life”, uma série profundamente filosófica e ao mesmo tempo tão próxima da vida real, repleta de dizeres marcadamente espirituais. Num dos episódios da série, encontramos esta afirmação maravilhosa proferida por uma das personagens: “A felicidade é maravilhosa. É tão maravilhosa que não importa se é nossa ou não”. Ao escutá-la, lembrei-me também de uma das mais famosas frases de Jesus: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. De facto, estas duas frases, quando lidas com atenção do espírito, revelam uma única verdade mística: a verdadeira felicidade e a verdadeira vida não são posse, são presença. São estados de partilha, não de acumulação. São escolhas comuns e não individuais.

A mensagem de Jesus aponta-nos uma vida vivida em abundância, não em termos materiais, mas numa dimensão espiritual, de amor, propósito, sentido e comunhão com o outro. Ele propõe-nos uma existência transbordante de graça, onde o bem e a felicidade não são escassos nem reservados, mas disponíveis a todos que se abrem ao Amor. A verdadeira abundância é aquela que se partilha. É a alegria que se multiplica, é a felicidade que cresce ao ser vivida em comunidade. Por isso, o bem que acontece no outro não nos diminui nunca; pelo contrário, engrandece-nos, acrescenta-nos porque participamos do milagre maior do amor que habita no meio de nós.

A vida em abundância que Jesus nos promete não é medida em posses, em méritos e nem sequer em momentos felizes individuais. A vida em abundância é aquela que, ao ser vivida verdadeira e generosamente, já não se distingue entre o “eu” e o “tu”, mas reconhece-se unicamente no “nós”. Jesus não nos oferece uma promessa de abundância individualista, mas sim de uma realidade onde a felicidade dos outros não é uma ameaça, mas uma extensão da nossa própria essência, pois tudo o que é verdadeiro e bom em qualquer ser humano pertence ao Corpo vivo que somos todos em Deus.

Assumir a felicidade dos outros como contentamento nosso implica um compromisso grande com a vida e um entendimento gigante não só do que é isto que nos acontece antes da morte física, mas também uma compreensão maior do que é saber viver e, como nos diz Jesus, viver em abundância, em plenitude. Esta visão convida a uma superação do ego, onde a felicidade do próximo deixa de ser um espelho daquilo que nos falta, e passa a ser uma manifestação da presença de Deus no mundo. Alegremo-nos, pois, quando outros são felizes, pois estamos a testemunhar essa vida abundante que Cristo veio oferecer. No fundo, amar a felicidade onde quer que ela esteja é já um sinal de que estamos a viver com o coração moldado por esse Amor maior que Jesus veio ensinar. Quando a felicidade de alguém nos toca, mesmo sem ser “nossa”, é a abundância prometida que se revela, silenciosamente, dentro de nós.

Isto desafia o pensamento utilitarista e egocêntrico que impera na sociedade moderna. Mas, se conseguirmos alegrar-nos com a felicidade dos outros, libertamo-nos das amarras da inveja, do ressentimento e da competição. Esta abertura à alegria alheia é uma forma de transcendência – um passo em direção a um amor mais universal. Na prática, isto pode manifestar-se em pequenos momentos: sorrir ao ver uma criança a brincar, emocionar-se com a conquista de um amigo ou sentir paz ao saber que alguém encontrou o seu caminho. A felicidade partilhada, mesmo quando não é nossa, tem o poder de iluminar também o nosso espírito.

Aceitar esta ideia é também um ato de humildade. É reconhecer que não somos o centro do mundo, mas parte de algo maior, onde o bem-estar coletivo importa tanto como o individual. Ao celebrarmos a felicidade dos outros, multiplicamos a luz no mundo – e isso é, por si só, uma forma única de sermos felizes. Ver a felicidade no outro — e deixar que ela nos preencha sem que seja “nossa” — é um sinal de maturidade espiritual profunda. É participar da abundância de Deus, não com as mãos que agarram, mas com o coração que contempla e se alegra. E quando conseguimos olhar para a felicidade de alguém e sentir gratidão — mesmo que estejamos, pessoalmente, em dor — aí tocamos o mistério da cruz e da ressurreição. Amar o bem, mesmo fora de nós, é já um ato redentor. É deixar que a vida abundante de Cristo se manifeste não apenas em nós, mas através de nós.

Muito mais do que procurarmos a nossa felicidade, a vida em abundância é a felicidade que a felicidade dos outros nos traz. É um maravilhamento constante com a beleza, um espanto infinito com a simplicidade que nos sustenta. Esta noção de felicidade trabalha-se, constrói-se, molda-se. Trabalha-se no dia-a-dia da vida. Constrói-se no empenho e na dedicação com que entrelaço os meus propósitos. Molda-se na relação que tenho com os outros e com o Outro. Por isso, procuremos espaços onde possamos exercitar estes desejos. Onde possamos descobrir aquela que é a nossa melhor versão. Onde quem caminha connosco exija, com amor e confiança, o melhor de nós próprios. Peçamos a Deus esta graça de sabermos procurar esta felicidade salvadora. Sejamos gratos quando nos é dada a oportunidade de vivê-la. Confiemos no Espírito Santo para que ele nos faça caminhar nesta estrada de coração aberto e de olhos cheios daquela luz que não se apaga. E não tenhamos medo de escolher, sempre e para sempre, esta vida em abundância.