
Conhecendo-te, sei que não querias confusão nem alarido. Se cá estivesses, provavelmente até fugirias da tua própria festa. Preferias sempre celebrar a vida dos que te rodeavam e colocá-los no centro, dar-lhes toda a importância. Mas, hoje somos nós quem te celebramos. Não com uma festa, mas com presença. A tua, que continua viva em cada um de nós.
Celebramos essa mistura só tua — de seriedade e leveza, de fé convicta e timidez desarmante, de sensibilidade pura e calma inquieta.
Celebramos o teu dom de escutar por inteiro. E quando falavas, era para dizer o que era preciso, sem rodeios. Tinhas aquela coragem serena que nos desmontava com uma simples pergunta ou com um silêncio cheio de sentido.
Celebramos a tua teimosia. Teimosia no bem, no acreditar nas pessoas, mesmo quando elas já tinham desistido de si próprias.
Celebramos o teu riso de corpo inteiro, naquele som solto, inesperado, contagiante, salvador.
Celebramos o teu jeito raro de entrar numa sala e ajustar o mundo dois milímetros para melhor, só com o modo como pousavas o casaco, como compunhas as almofadas, como abrias as janelas.
Celebramos a tua vida vivida em verbos contínuos – ir, fazer, pensar, cantar, subir, abraçar, rezar, amar.
Celebramos as sementes que lançaste e que agora florescem em gestos nossos, em escolhas feitas, em dons postos ao descoberto.
Celebramos aquele teu olhar que via sempre mais do que queríamos mostrar. E bastava um “hmm” teu para repensarmos a nossa vida inteira.
Celebramos a tua inteireza espelhada em anos de entrega, de cuidado, de correção com amor, sem medos, sem meias medidas e com uma frontalidade transformadora.
Celebramos a tua vida toda feita no tempo do agora. Nunca foste de “quando tiver tempo”. Tu tinhas. E davas. Sem condições.
Hoje celebramos o teu nascimento e tudo aquilo que tu fizeste nascer dentro de nós. Por isso, este dia também é nosso. E se hoje, por acaso, as lágrimas aparecerem, lembra-te que elas são só a outra face da alegria de termos tido alguém como tu nas nossas vidas…
Obrigado, Jorge – por nos teres sido tanto. E por tudo o que ainda nos és.
A tua vida foi e é o nosso maior presente!
Ana