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Um texto de gratidão

Um texto de gratidão. A todos, por todos e para todos. O que vivemos esta semana contrastou com as intempéries climatéricas que têm assolado o nosso país. Enquanto no exterior temos enfrentado vento e chuva, no interior da nossa Comunidade fomos alegria e partilha. Como tantas vezes temos dito, este contraste não acontece por acaso. Uma vida com significado não é uma vida ao acaso, ela acontece para ser olhada e acontecida em nós e assim assumida na sua totalidade. Numa semana de memórias e de saudade, de percalços e de ausências, escolhemos não habitar nessa zona de perda e dar o salto, simultaneamente confiante e imprevisível, que nos leva ao outro lado, ao espaço da alegria, da dor que é trabalhada para dar fruto, da comunhão de vida com quem connosco caminha.

No dia 1 de novembro, lembramos a vida do Jorge nas nossas vidas numa festa que, para nós cristãos, é a maior de todas – a Eucaristia. A festa que o Jorge gostaria que lhe fizéssemos! A festa do encontro, da partilha, das palavras cantadas, da música tocada, dos abraços e dos braços no ar, na igreja que foi o seu coração durante a sua vida toda. Este é nosso lugar de pertença, de crescimento, de doação. “Esta é a geração dos que procuram a vossa face, Senhor”, cantávamos nesse dia no salmo, uma das mais belas músicas feitas pelo Jorge. Esta geração somos nós, os que seguimos. Aceitando os obstáculos e dando as mãos para os enfrentar, cantando e rindo quando tantas vezes as lágrimas nos caem. Que alegria sermos esta geração que caminha em comunidade, tal como sempre foi o desejo do Jorge!

Na quinta-feira, celebramos o 2.º aniversário do “Encontro em TI”, a nossa oração comunitária mensal na Igreja Matriz. Um sonho nosso antigo, este o de levar a nossa forma de orar para a comunidade e, assim, rezarmos juntos com a música, as palavras, o silêncio. No final, levamos esta partilha para a volta da mesa com quem, numa noite ventosa, se juntou a nós. E que convívio tão genuíno, tão simples e tão agradável, como é tudo aquilo que verdadeiramente importa!

Este é um texto de profunda gratidão. Como diria o Jorge, esta semana foi “uma riqueza”! Obrigada a vós que caminhais connosco nesta Estrada Clara! Seguimos juntos!

Celebramos a VIDA!

Hoje celebramos a VIDA do Jorge, não a morte. Festejemos e cantemos! Se possível, dancemos também e abracemo-nos em risos cheios da alegria que nasce de quem se sabe irmão. O Jorge é festa em nós e hoje somos nós essa festa que ele continua a fazer nas nossas vidas. Por isso, hoje celebramos!

Celebramos a vida do Jorge quando continuamos a ensaiar, a querer colocar as nossas vozes no sítio correto, a confiar que cada Eucaristia cantada se multiplica em Amor doado.

Celebramos a vida do Jorge quando pelas nossas palavras e gestos anunciamos um Deus que nos ama e nos faz ser aquela luz que ilumina a escuridão e que dela nos salva.

Celebramos a vida do Jorge quando continuamos a fazer das nossas fragilidades força, das nossas lágrimas risos, dos nossos medos coragem.

Celebramos a vida do Jorge quando somos mais do que os horários, do que as carreiras, do que as desculpas usadas para não estar, não ir, não fazer.

Celebramos a vida do Jorge quando o conjugamos neste tempo presente que é o indicativo de um caminho comunitário de uma vida orante e pensante.

Celebramos a vida do Jorge quando nos continuamos a juntar em volta da mesa para comermos juntos, para partilharmos histórias, para sonharmos projetos.

Celebramos a vida do Jorge quando somos casa uns para os outros, quando continuamos a conversar durante horas sobre o que nos inquieta e nos incomoda, quando pertencemos à vida uns dos outros.

Celebramos a vida do Jorge quando continuamos a escolher a confiança e o acolhimento mesmo quando são opções tão desafiantes.

Celebramos a vida do Jorge porque ele está vivo! Vivo em mim, em ti! É esta a nossa escolha, mais forte do que qualquer morte, mais poderosa do que qualquer dor, mais vitoriosa do que qualquer separação.

Por isso, hoje há festa! Vamos rir e dizer aquelas piadas nossas e tão cheias do que somos. Afinemos as guitarras, preparemos as vozes, usemos roupas bonitas, dancemos e batamos palmas. A festa que o Jorge queria que lhe fizéssemos é aquela que celebramos juntos como comunidade orante. Aquela festa que foi a sua vida toda durante mais de trinta anos, na sua paróquia. Então, venham celebrar connosco! Hoje, às 19h, na Matriz! Viva o Jorge!

Ana

O Jorge faz anos!

O Jorge faz anos. Ele é toda a teimosia encarnada num metro e oitenta de altura, as gargalhadas vivas e duradouras espalhadas num corpo sempre moreno, o rosto barbudo e sério a encarar, com respeito, a grandiosidade da vida que acontece.

O Jorge faz anos. Ele é a música plena que envolve, as palavras cantadas e partilhadas em tantas e tantas vozes diferentes, a inquietação constante pelas notas a descobrir em cada canção.

O Jorge faz anos. Ele é a sensibilidade de um abraço forte que é sempre casa que acolhe, a ousadia de viver constantemente em alturas que ninguém suporta, a sorte grande deste encontro eterno que é o nosso.

O Jorge faz anos. Ele é caminho desafiante por entre subidas às altas montanhas e descidas até às águas frescas, uma conversa longa em altas horas, uma evangelização atrativa sem medos nem hesitações.

O Jorge faz anos. Ele é o verbo ir e seguir sem olhar para trás, o encantamento do silêncio no meio do ruído e da agitação, a procura incessante das estrelas mais brilhantes nas noites frias em São João.

O Jorge faz anos. Ele é a exigência de uma vida com sentido, a negação das futilidades ocas, a mão que se estende para que caminhemos à descoberta de quem somos.

O Jorge faz anos. Ele é o ataque de riso incontrolável nas nossas tantas viagens de carro, a psicologia humana e empática espiritualizada, todos os tantos livros aconchegados nas nossas estantes.

O Jorge faz anos. Ele é o azul de todas as roupas, as caminhadas pensativas dos entardeceres de Verão, as plantas que vivem em vasos mil.

O Jorge faz anos. Ele é o canto das crianças nas festas grandes das comunhões da Paróquia, as danças alegres dos nossos musicais nos palcos, os poemas profundos e interpelantes do seu querido Torga.

O Jorge faz anos. E hoje é um dia feliz. Muito feliz. Um dia de saudades inquietantes, mas de muito amor sereno a transbordar. Sempre. Sempre o amor que nos juntou, que se multiplica e que nos continua a levar por esta nossa Estrada Clara. Por tudo isto, seguimos. O maior presente deste aniversário fomos nós que o recebemos! Então, agora, é tempo de preparar a festa! Vamos! Viva a Vida! A Vida toda para toda a Vida!

Ana

Somos mais Pessoa(s)

📷Nota-se muito que este era um dos poemas preferidos do Jorge? Escrevia-o muitas vezes, em mensagens que enviava, em livros que oferecia, em listas de compras, em rascunhos, em faturas de contas para pagar. Devem estar a ser fascinantes as conversas entre estes dois (bem, se contarmos com os heterónimos serão muitos mais!). ⭐

Hoje celebramos os 135 anos de Fernando Pessoa.

Não somos Pessoa(s) sem a poesia pura, sem as palavras certeiras, sem as perguntas longas.

Não somos Pessoa(s) sem o futuro que nos acontece, sem os sonhos pedidos, sem as viagens vividas.

Não somos Pessoa(s) sem as inquietações persistentes, sem as interrogações constantes, sem as dúvidas hiperativas.

Não somos Pessoa(s) sem os rebanhos, sem as cidades em transformação e sem as horas de lazer.

Não somos Pessoa(s) sem os nossos sentidos, sem os pensamentos vibrantes e sem as luzes brilhantes.

Não somos Pessoa(s) sem as mensagens, sem o Quinto Império e até sem o Nevoeiro.

Não somos Pessoa(s) sem os nossos deuses diários, sem a criação magnífica, sem os aniversários por celebrar.

Não somos Pessoa(s) sem o desassossego, sem a nostalgia e sem a realidade dos sentidos.

Não somos Pessoa(s) sem aquelas tardes demoradas de Verão, sem a liberdade de poder não cumprir um dever, sem a inteireza do que escolhemos.

Não somos Pessoa(s) sem os cansaços acumulados, sem as frustações angustiantes, sem o arrebatamento da natureza.

Não somos Pessoa(s) sem os exageros imensos do sentir, sem a Lídia que connosco se senta a contemplar a vida, sem aquelas máquinas que quando precisamos nem sempre funcionam.

Não somos Pessoa(s) sem o nosso Mar salgado, sem o sebastianismo português, sem as horas de regresso à vida que nos acontece.

Hoje celebramos Pessoa. Hoje celebramos isto de sermos Pessoa(s). Hoje somos mais porque escolhemos ser imensos na Luz que escolhemos dar. Hoje somos mais felizes porque deixamos que esta Luz brilhe. No nosso Pessoa. Nas nossas Pessoa(s).

Viva Fernando Pessoa! Viva a Vida! Viva as Pessoas que vivem em nós. Sempre e para sempre!

Ana