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XXXIX Jornada Mundial da Juventude 2024

Mensagem do Papa Francisco

Aqueles que esperam no Senhor, caminham sem se cansar (cf. Is 40,31)

Caros jovens!

No ano passado, começamos a percorrer o caminho da esperança rumo ao Grande Jubileu, refletindo sobre a expressão paulina “Alegres na esperança” (Rm 12, 12). Precisamente para nos prepararmos para a peregrinação jubilar de2025, este ano deixamo-nos inspirar pelo profeta Isaías, que diz: “Os que esperam no Senhor […] caminham sem se cansar” (Is 40, 31). Esta expressão é retirada do chamado Livro da Consolação (Is 40-55), que anuncia o fim do exílio de Israel na Babilônia e o início de uma nova fase de esperança e de renascimento para o povo de Deus, que pode regressar à sua pátria graças a um novo “caminho” que, na história, o Senhor abre aos seus filhos (cf. Is 40, 3).

Também nós vivemos hoje tempos marcados por situações dramáticas que geram desespero e nos impedem de olhar para o futuro com espírito sereno: a tragédia da guerra, as injustiças sociais, as desigualdades, a fome, a exploração do ser humano e da criação. Muitas vezes, quem paga o preço mais alto sois vós, jovens, que sentis a incerteza do futuro e não vislumbrais perspetivas seguras para os vossos sonhos, correndo assim o risco de viver sem esperança, prisioneiros do tédio e da melancolia, por vezes arrastados para a ilusão da transgressão e das realidades destrutivas (cf. Bula Spes non confundit, 12). Por isso, queridos amigos, gostaria que, como aconteceu ao povo de Israel na Babilônia, chegasse também a vós o anúncio da esperança: hoje o Senhor abre diante de vós um caminho e convida-vos a percorrê-lo com alegria e esperança.

1. A peregrinação da vida e os seus desafios

Isaías profetiza um “caminhar sem cansaço”. Reflitamos então sobre estes dois aspetos: o caminhar o cansaço.

A nossa vida é uma peregrinação, uma jornada que nos empurra para além de nós mesmos, um caminho em busca da felicidade; e a vida cristã, em particular, é uma peregrinação em direção a Deus, à nossa salvação e à plenitude de todo o bem. As realizações, as conquistas e os sucessos do caminho, se forem apenas materiais, depois de um primeiro momento de satisfação, deixam-nos ainda com fome, desejosos de um sentido mais profundo; em verdade, não satisfazem completamente a nossa alma, porque fomos criados por Aquele que é infinito e, por isso, em nós habita o desejo de transcendência, a inquietação contínua para a realização de aspirações maiores, para um “algo a mais”. É por isso que, como já vos disse tantas vezes, “olhar a vida da varanda” não é suficiente para vós, jovens.

No entanto, é normal que, apesar de começarmos as nossas jornadas com entusiasmo, mais cedo ou mais tarde comecemos a sentir cansaço. Nalguns casos, o que provoca ansiedade e cansaço interior são as pressões sociais para atingir determinados padrões de sucesso nos estudos, no trabalho e na vida pessoal. Isto produz tristeza, pois vivemos no afã de um ativismo vazio que nos leva a preencher os nossos dias com mil coisas e, apesar disso, a sentir que nunca conseguimos fazer o suficiente e que nunca estamos à altura. Este cansaço é muitas vezes acompanhado pelo tédio. É o estado de apatia e de insatisfação de quem não se põe a caminho, não decide, não escolhe, nunca arrisca e prefere ficar na sua zona de conforto, fechado em si mesmo, vendo e julgando o mundo por detrás de uma tela, sem nunca “sujar as mãos” com os problemas, com os outros, com a vida. Este tipo de cansaço é como um cimento no qual mergulhamos os pés, e que acaba por endurecer, pesar, paralisar e impedir-nos de avançar. Prefiro o cansaço dos que estão a caminho do que o tédio dos que estão parados e não têm vontade de andar!

A solução para o cansaço, paradoxalmente, não é ficar parado para descansar. É, pelo contrário, pôr-se a caminho e tornar-se peregrino da esperança. Este é o convite que vos faço: caminhai na esperança! A esperança vence todo o cansaço, toda a crise e toda a ansiedade, dando-nos uma forte motivação para avançar, porque é um dom que recebemos do próprio Deus: Ele enche o nosso tempo de sentido, ilumina-nos o caminho, indica-nos a direção e a meta da vida. O apóstolo Paulo utilizou a imagem do atleta no estádio, que corre para receber o prémio da vitória (cf. 1 Cor 9, 24). Quem já participou numa competição desportiva – não como espectador, mas como protagonista – conhece bem a força interior que é necessária para chegar à meta. A esperança é precisamente uma força nova, que Deus infunde em nós, que nos permite perseverar na corrida, que nos dá uma “visão de longo alcance”, que ultrapassa as dificuldades do presente e nos orienta para uma meta concreta: a comunhão com Deus e a plenitude da vida eterna. Se há uma bela meta, se a vida não se dirige para o vazio, se nada daquilo que sonho, projeto e realizo se perde, então vale a pena caminhar e suar, suportar os obstáculos e enfrentar o cansaço, porque a recompensa final é maravilhosa!

2. Peregrinos no deserto

Na peregrinação da vida, haverá inevitavelmente desafios a enfrentar. Nos tempos antigos, durante as peregrinações mais longas, era preciso enfrentar as mudanças de estação e de clima; atravessar prados agradáveis e bosques refrescantes, mas também montanhas cobertas de neve e desertos tórridos. Assim, a peregrinação de uma vida e a viagem para um destino longínquo não deixam de ser cansativas também para quem crê, tal como o foi para o povo de Israel a viagem pelo deserto até à Terra Prometida.

Assim é para todos vós. Mesmo para aqueles que receberam o dom da fé, houve momentos felizes em que Deus esteve presente e o sentistes próximo, e outros momentos em que experimentastes o deserto. Pode acontecer que o entusiasmo inicial nos estudos ou no trabalho, ou o impulso para seguir Cristo – tanto no matrimônio, como no sacerdócio ou na vida consagrada – sejam seguidos por momentos de crise, que fazem com que a vida pareça uma difícil caminhada no deserto. Estes momentos de crise, porém, não são tempos perdidos ou inúteis, mas podem revelar-se importantes oportunidades de crescimento. São tempos de purificação da esperança! Com efeito, durante as crises são desfeitas muitas “esperanças” falsas, demasiado pequenas para o nosso coração; são desmascaradas e, assim, ficamos nus diante de nós próprios e das questões fundamentais da vida, para além de qualquer ilusão. E, nesse momento, cada um de nós pode perguntar-se: em que esperanças baseio a minha vida? São esperanças verdadeiras ou são ilusões?

Nestes momentos, o Senhor não nos abandona; aproxima-se com a sua paternidade e dá-nos sempre o pão que revigora as nossas forças e nos põe de novo a caminho. Recordemos que ao povo no deserto deu o maná (cf. Ex 16) e ao profeta Elias, cansado e desanimado, ofereceu duas vezes um pão achatado e água para que pudesse caminhar “quarenta dias e quarenta noites até chegar ao Horeb, o monte de Deus” (cf. 1 Rs 19, 3-8). Nestas histórias bíblicas, a fé da Igreja viu prefigurações do dom precioso da Eucaristia, verdadeiro maná e verdadeiro viático, que Deus nos dá para nos sustentar no nosso caminho. Como dizia o Beato Carlo Acutis, a Eucaristia é a autoestrada para o céu. Um jovem que fez da Eucaristia o seu compromisso quotidiano mais importante! Assim, intimamente unidos ao Senhor, caminhamos sem nos cansarmos, porque Ele caminha junto a nós (cf. Mt 28,20). Convido-vos a redescobrir o grande dom da Eucaristia!

Nos inevitáveis momentos de cansaço da nossa peregrinação neste mundo, aprendamos então a descansar como Jesus em Jesus. Ele, que recomenda aos discípulos que repousem depois de regressarem da sua missão (cf. Mc 6, 31), reconhece a vossa necessidade de repouso do corpo, de tempo para o lazer, para gozar a companhia dos amigos, para o desporto e até para o sono. Mas há um repouso mais profundo, o repouso da alma, que muitos procuram e poucos encontram, e que só pode ser encontrado em Cristo. Sabei que todo o cansaço interior pode encontrar alívio no Senhor, que vos diz: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e oprimidos, e eu hei de aliviar-vos” (Mt 11, 28). Quando o cansaço do caminho vos pesar, voltai para Jesus, aprendei a descansar n’Ele e a permanecer n’Ele, pois “aqueles que esperam no Senhor […] caminham sem se cansar” (Is 40,31).

3. De turistas a peregrinos

Queridos jovens, o convite que vos faço é para que vos coloqueis a caminho, para descobrir a vida, nas pegadas do amor, em busca do rosto de Deus. Mas o que vos recomendo é o seguinte: não partam como meros turistas, mas como peregrinos. Isto é, que a vossa caminhada não seja apenas uma passagem pelos lugares da vida de forma superficial, sem captar a beleza do que encontrais, sem descobrir o sentido dos caminhos percorridos, captando só breves momentos, experiências fugazes registradas numa selfie. O turista faz isso. O peregrino, pelo contrário, mergulha de alma e coração nos lugares que encontra, fá-los falar, torna-os parte da sua busca de felicidade. A peregrinação jubilar quer, portanto, tornar-se o sinal do caminho interior que todos somos chamados a fazer para chegar ao destino final.

Com estas atitudes, todos nos preparamos para o Ano Jubilar. Espero que para muitos de vós seja possível vir a Roma em peregrinação para atravessar as Portas Santas. Para todos, em todo o caso, haverá a possibilidade de fazer esta peregrinação também nas Igrejas particulares, para redescobrir os numerosos santuários locais que guardam a fé e a piedade do povo santo e fiel de Deus. E faço votos de que esta peregrinação jubilar se torne para cada um de nós “um momento de encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus, ‘porta’ de salvação” (Bula Spes non confundit, 1). Exorto-vos a vivê-la com três atitudes fundamentais: a ação de graças, para que o vosso coração se abra ao louvor pelos dons recebidos, principalmente o dom da vida; a procura, para que o caminho exprima o desejo constante de procurar o Senhor e de não deixar apagar a sede do coração; e, por fim, o arrependimento, que nos ajuda a olhar para dentro de nós mesmos, a reconhecer os caminhos e as opções erradas que por vezes tomamos e, assim, a poder converter-nos ao Senhor e à luz do seu Evangelho.

4. Peregrinos de esperança para a missão

Deixo-vos mais uma imagem sugestiva para a vossa viagem. Ao chegar à Basílica de São Pedro, em Roma, atravessa-se a praça que está rodeada pela colunata criada pelo grande arquiteto e escultor Gian Lorenzo BerniniA colunata, no seu conjunto, parece um grande abraço: são os dois braços abertos da Igreja, nossa mãe, que acolhe todos os seus filhos! Neste próximo Ano Santo da Esperança, convido-vos a todos a experimentar o abraço do Deus misericordioso, a experimentar o seu perdão, a remissão de todas as nossas “dívidas interiores”, como era tradição nos jubileus bíblicos. E assim, acolhidos por Deus e renascidos n’Ele, também vós vos tornais braços abertos para tantos dos vossos amigos e colegas que precisam de sentir, através do vosso acolhimento, o amor de Deus Pai. Cada um de vós ofereça “ao menos um sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma escuta sincera, um serviço gratuito, sabendo que, no Espírito de Jesus, isso pode tornar-se uma semente fecunda de esperança para quem o recebe” (ibid., 18), e assim vos tornareis incansáveis missionários da alegria.

Enquanto caminhamos, levantemos o olhar, com os olhos da fé, para os santos que nos precederam na caminhada, que chegaram à meta e nos dão o seu testemunho encorajador: “Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel. A partir de agora, já me aguarda a merecida coroa, que me entregará, naquele dia, o Senhor, justo juiz, e não somente a mim, mas a todos os que anseiam pela sua vinda” (2Tm 4,7-8). O exemplo dos homens e das mulheres santos atrai-nos e sustenta-nos.

Coragem! Trago-vos a todos no meu coração e confio o caminho de cada um de vós à Virgem Maria, para que, seguindo o seu exemplo, saibais esperar com paciência e confiança aquilo que esperais, permanecendo no vosso caminho como peregrinos da esperança e do amor.

Pré-jornadas: o que fica um ano depois?

Há um ano, iniciavam-se as Pré-Jornadas nas dioceses portuguesas. Na paróquia da Matriz, os grupos de jovens foram os responsáveis não só pelo acolhimento de três grupos vindos de Espanha, da Alemanha e da Polónia, mas também pela organização das atividades durante esses dois dias. Gentilmente, a Comunidade Estrada Clara também foi convidada a participar. Respirou-se juventude e alegria, geraram-se empatias e risos, foram dados mil abraços e sentiram-se os corações unidos num só Coração, aquele que é o de um Deus maior que a todos nos faz irmãos. Durante esses dias, os jovens peregrinos tiveram a possibilidade de participar nas diversas atividades dinamizadas pelos jovens da nossa paróquia. Na 5.ª feira de manhã, visitaram o Museu Municipal e construíram uma dezena do terço. À tarde, fizeram um “peddy-paper” para melhor conhecerem a nossa cidade e participaram na Eucaristia das 19h, na Igreja Matriz. À noite, a recitação do terço, na Basílica do Coração de Jesus, foi feita em várias línguas e a adoração ao Santíssimo adornada com cânticos e silêncio. Na 6.ª feira de manhã, organizamos um momento de oração, na Igreja Matriz, seguido da apresentação de um tema “Viver (n)a confiança” com a partilha feita em pequenos grupos. De tarde, os jovens tiveram a possibilidade de passear pela cidade e assistiram à Eucaristia das 19h. O dia terminou com um convívio entre todos.

Passado um ano, o que permanece destes dois dias? Para além das lembranças bonitas que estes momentos deixam sempre, fica, sobretudo, a capacidade de organização, de empenho e de dedicação que os jovens da nossa paróquia souberam (e sabem!) demonstrar. Estes dias foram a concretização da parábola da vida em comum. Os obstáculos ultrapassam-se porque todos se ajudam, as alegrias multiplicam-se porque todos as vivem e descobrimos que na relação uns com os outros tornamo-nos maiores que as nossas individualidades. Este é o milagre da vida em comunidade. Por isso, um ano passado, agradecemos a todos estes jovens que escolheram fazer caminho no caminho da sua paróquia. Somos todos muito mais ricos porque nos sabemos, juntos, a ser Cristãos nesta estrada comum.

Ainda sobre as JMJ em Lisboa e algo mais…

Este domingo celebramos o 38.º Dia Mundial da Juventude. Ainda ressoam, nos corações de todos, os ecos da experiência da JMJ Lisboa em forma de imagens, textos, testemunhos de quem participou e que invadem neste fim de semana as redes sociais. A este propósito, e de um modo diferente, publicamos um testemunho do nosso André, um dos nossos irmãos nesta Comunidade Estrada Clara, num texto que reflete uma outra visão tão bonita de um Deus que se deixa experimentar por cada um de nós quando abrimos o nosso coração à VIDA!

𝗔𝗶𝗻𝗱𝗮 𝘀𝗼𝗯𝗿𝗲 𝗮𝘀 𝗝𝗠𝗝 𝗲𝗺 𝗟𝗶𝘀𝗯𝗼𝗮 𝗲 𝗮𝗹𝗴𝗼 𝗺𝗮𝗶𝘀 – texto de André Oliveira, Comunidade Estrada Clara

“Este ano não tive oportunidade de participar nas Jornadas apesar de elas até serem no que agora chamo de minha cidade. Em 2011, ter tido a oportunidade de ter ido a Madrid às Jornadas foi, sem dúvida, uma das melhores experiências que tive. Lembro-me de ficar arrebatado com a atmosfera que é de ter milhões de pessoas a viver e sentir o mesmo Amor. Poderá parecer engraçado, mas até uma simples chuva num descampado era um momento de alegria (para os que estavam presentes lembrar-se-ão da dança da chuva para ver se acalmava a tempestade).

Este ano, ouvi, várias vezes pela televisão, a pergunta “O que esperam das Jornadas”. Penso que não se pode esperar nada, mas tudo ao mesmo tempo. As Jornadas foram muito mais do que os ensinamentos nas paróquias, as orações nas igrejas, as missas, as visitas a museus e passeios pela cidade e os momentos de silêncio. Tudo momentos que nos acalentam e impulsionam para celebrar a nossa Fé.

Mas este ano não participei por opção e porque a vida me trouxe uma forma nova de viver o Amor de Cristo. Acredito que existam várias fases da nossa vivência com Deus. Umas mais entusiastas em que o exponente máximo será provavelmente as Jornadas, mas existe uma outra fase onde é a vivência com um novo ser que nos faz acreditar mais no Amor. A simplicidade de ter um bebé nos braços a adormecer enche-nos de tal forma de Amor que é inexplicável. Tal como muitos jovens encontram um novo entusiasmo quando vão às Jornadas, eu encontrei agora com a minha filha.”

Terá o Papa Francisco lido os nossos textos?

Viagens pela JMJ, Lisboa 2023

Com um sorriso, esta pergunta surgia-nos à medida que ouvíamos as intervenções do Papa Francisco nesta JMJ Lisboa. De facto, quase tudo o que o Papa foi dizendo em jeito de observação, orientação e esclarecimento já por nós foi sendo escrito nas nossas reflexões mensais ao longo destes quase dois anos. É claro que o Papa Francisco não acompanha o nosso site. Como se explica, então, este “plágio” de muitas das nossas reflexões nos seus discursos nesta JMJ? A resposta é muito evidente. Conhecendo e partilhando a mensagem de Jesus Cristo, vivendo conscientemente o Cristianismo, estando atentos ao mundo que nos rodeia, estando disponíveis para o acolhimento e para a presença do Outro nos outros e escolhendo viver cada dia com as suas alegrias e tristezas, os seus desafios e assombros, de facto, só poderíamos usar todos a mesma linguagem, as mesmas palavras, as mesmas afirmações, não importando muito se somos uns simples leigos da vinha do Senhor ou um admirável Papa. Tudo o que o Papa Francisco foi partilhando na JMJ reflete claramente tudo o que nós também já pensamos, vivemos e acreditamos desde há muito tempo. Por isso, que bom sentir que estamos em sintonia! Que felizes somos ao vermos os nossos pensamentos nas palavras do Papa! Que alegria está em nós ao nos reconhecermos plenamente em tudo o que foi partilhado pelo Papa! Para quem anda mais afastado da Igreja, para quem está mais distraído, para quem não conhece o que este Papa vem dizendo há anos, tudo o que ele disse poderá soar a inovação, modernização, mudança de paradigma e até alguma contradição com a ideologia da Igreja. Contudo, tudo o que o Papa foi anunciando na JMJ não é novidade para quem vive a e em Igreja, pois é tudo o que Jesus Cristo já havia dito há mais de dois mil anos. Cabe-nos agora, nos nossos contextos e realidades, atualizar e continuar a praticar o que foi e tem sido dito.

Assim, partilhamos aqui algumas das frases proferidas pelo Papa Francisco durante a JMJ em paralelo com algumas das nossas frases dos textos de reflexão mensal.

Ana

Quase 20 anos depois, Taizé voltou a Lisboa

Viagens pela JMJ, Lisboa 2023

Durante a JMJ, como já é habitual, a Comunidade de Taizé dinamiza tempos de oração comunitária. Em Lisboa, estes momentos aconteceram na bela e despojada Igreja de São Domingos. Estas orações com cânticos de Taizé e com a presença de alguns irmãos da Comunidade estiveram abertas a todos os que nelas quiseram participar. E realmente foram muitos! Tantos que a fila de espera, cerca de uma hora antes de cada oração começar, embora sendo já interminável, nunca demoveu nenhum dos participantes. Na última oração, na 5.ª feira à noite, organizada juntamente com a Comunidade “Chemin Neuf”, muitos não conseguiram lugar dentro da Igreja. No entanto, assistiram à oração no exterior da Igreja, acompanhados pelo sistema sonoro (podem comprovar pela fotografia que um amigo nosso que estava cá fora tirou, testemunhando o que aconteceu). Sentados no chão, na zona mais movimentada de Lisboa, a antítese era evidente: o silêncio e a contemplação foram mais fortes do que o barulho e a agitação. Para quem (ainda!) não conhece a Comunidade de Taizé, este fenómeno parece ser inexplicável, mas é apenas um reflexo natural da necessidade que as pessoas têm de mais silêncio, de mais intimidade com um Deus que é só Amor, de mais envolvimento espiritual.

A oração de 5.ª feira foi a última a que podemos assistir com o Irmão Alois enquanto prior de Taizé. São momentos sempre significativos para nós que tivemos o privilégio de estar presentes em alguns eventos marcantes da vida da Comunidade de Taizé: estivemos em 2004, em Lisboa, naquele que foi o último Encontro Europeu do Irmão Roger e, no ano seguinte, estivemos em Milão no primeiro Encontro Europeu com o Irmão Alois como novo prior. A partir de dezembro, o Irmão Matthew será o novo prior e, se tudo correr como previsto, no Verão do próximo ano estaremos a rezar juntos em Taizé (sim, estamos a organizar uma viagem de peregrinação a Taizé em 2024 com a @paroquia.da.matriz.pvz ).

Taizé. Nos próximos meses, a propósito da preparação que iremos fazer para a nossa peregrinação, iremos partilhar aqui o que significa para nós, Comunidade, esta Comunidade.

Ana

Workshops

Viagens pela JMJ, Lisboa 2023

Integrado na JMJ aconteceu o chamado “Festival da Juventude” constituído por eventos nas áreas da Música, Cinema, Teatro, Dança, Conferências, eventos estes formativos, numa partilha de vivência cristã com os peregrinos de todo o mundo. Destaco aqui duas atividades nas quais participamos e que foram da responsabilidade dos Jesuítas.

Na 4.ª feira, assistimos à conferência “Today’s FAQ’s about Faith and Church” dinamizada pelo sacerdote jesuíta James Martin. Numa igreja repleta de pessoas desejosas de o ouvir, o sacerdote jesuíta foi elencando as questões mais comuns sobre a fé e sobre a Igreja, sobre a importância de trabalharmos as nossas crenças e sobre o papel da comunidade na construção da identidade cristã. O sacerdote terminou a palestra com as seguintes palavras: “Lembrem-se que o convite mais eficaz à crença, à fé, à religião, ao cristianismo, à Igreja Católica e até à oração não é a resposta a uma pergunta, mas a uma pessoa: Jesus Cristo. E a maneira que funciona hoje é fazer com que as pessoas vejam Jesus Cristo em cada um de vós! A vossa própria vida é um instrumento de evangelização.” Sigam o trabalho deste padre jesuíta que tem tido um papel central na construção de pontes de relação.

Na 5.ª feira, na belíssima casa cultural Brotéria, tivemos a oportunidade de assistir ao workshop “Escuta-te em corpo”, orientado pelo padre Paulo Duarte. Durante uma hora, fomos trabalhando a noção de sermos também um corpo, dando especial enlevo à respiração, seguindo as orientações do padre Paulo, ativando em cada um de nós a consciência do presente, a gratidão do aqui e do agora, a perceção das emoções que nos habitam e nos moldam. Conheçam o pe Paulo Duarte que tem feito um trabalho muito fecundo dedicado a esta noção do corpo que somos. Em muitas publicações e outros encontros, este sacerdote jesuíta tem sublinhado que o ser humano é muito mais do que o intelecto e a fé é algo que também se sente a partir do corpo que somos e que, por isso, precisa tanto de ser escutado.

As JMJs são também este espaço de aprendizagem, de observação, de cultura, de pensamento. Que bom é poder assim viver esta Igreja que somos!

Ana

Música, viagens e estrelas

Viagens pela JMJ, Lisboa 2013

As JMJs são música e canções. Por Lisboa, espalharam-se palcos onde muitos grupos cristãos levaram as suas melodias, testemunhando a fé através da arte. E o hino destas JMJ cantado a tantas vozes, com as palavras e a música perfeitas, motivando cada um a partir ao encontro da VIDA.

Nesta dimensão musical da JMJ, partilho aqui dois momentos especiais, que foram para nós sinais da certeza de que o Amor que vivemos nesta dimensão terrena é eterno.

Na cerimónia de acolhimento ao Papa, quando os símbolos das JMJ eram levados ao palco, o @tiagobettencourt cantou a “Viagem”. Uma canção poderosa, de caminho, de aceitação das partidas, de esperança de reencontros numa voz com sabor a casa. Um hino à eternidade! E nada é um acaso! Dias antes, publicávamos, como de costume no nosso site, o texto da reflexão mensal. Eu já tinha um texto meu preparado, mas algo me lembrou que o Jorge tinha escrito, já em 2008, um texto intitulado “Viagem” sobre o simbolismo da viagem que é a Vida. Uma vez que dali a dias partiríamos para Lisboa, entendi ser uma recordação bonita colocar as palavras dele a acompanharem-nos no caminho. E assim foi! Por isso, quando dias depois ouvimos esta canção “Viagem” naquele ambiente de luz, logo os nossos corações se encheram de comoção pois acreditamos que as nossas energias se ligam e se fundem e a presença de quem amamos faz-se sempre inexplicavelmente presente e continua viva em nós.

Na vigília com o Papa, ninguém ficou indiferente quando a doce @carminho cantou “Estrela”. Quando a vimos naquele palco magistral, numa noite tão cheia e tão serena, o nosso coração voltou a encher-se de alegria, aquela alegria que só brota de quem entende que a vida acontece nestes detalhes aparentemente insignificantes, mas que são tudo. E isto porque esta música “Estrela” tem sido a nossa companhia nestes dois últimos anos no “Encontro em TI”, o nosso momento de oração mensal na Igreja da nossa paróquia, esse que foi um projeto antigo e muito desejado pelo Jorge.

A música. Nós. A vida a dar-nos sinais. E ele, com Ele, a falar-nos através das músicas. E sempre connosco, a olhar-nos. Que felizes somos!

Ana

“Vede como eles se amam!”

Viagens pela JMJ, Lisboa 2023

A experiência das JMJ vai além da viagem, dos workshops, das celebrações, do Papa, do hino, dos locais. Viver as JMJ é fazer a experiência da vida em comunidade, do que é estar com os nossos irmãos noite e dia, aprendendo a conhecer os seus silêncios e gargalhadas, a entender pedidos e escolhas, a oferecer-lhes caminhos novos e lugares de acolhimento. É por isso que a participação nas JMJ tem de ser feita em grupo, uns com os outros. Tudo o que as JMJ nos possibilitam viver é agigantado quando é vivido em comunidade. A vida torna-se sempre maior quando é partilhada e a experiência nas JMJ é prova disto. Um workshop em que participo é sempre mais interessante quando a ele assisto com o meu grupo. A experiência na vigília do fim de semana é inesquecível porque a vivo com os meus amigos que não me deixam sucumbir ao calor e ao cansaço e me fazem cantar mais, rir mais, abraçar mais.

Para nós, estas JMJ foram diferentes do habitual. Pela primeira vez, fomos sem estarmos responsáveis por um grupo de jovens e sem ficarmos alojados em casas de família ou escolas. Nuclearmente, formamos um grupo de cinco elementos que, mais tarde, passou a comunidade de oito. E foi, genuinamente, a concretização do viver em comunidade, em partilha, em oração, em caminho. E ser e estar em Igreja significa isto mesmo! Cada um de nós vive o que acredita, vive a sua relação pessoal com Deus, mas esta dimensão só se torna plena e verdadeiramente revolucionária e impactante quando é partilhada e vivida em comunidade. As alegrias e as tristezas, os avanços e as quedas, as perguntas e as respostas só se tornam verdadeiramente VIDA quando são vividas com os outros num caminho que é feito e construído para nos levar ao Outro que é Tudo com TODOS em nós. Foi isto que vivemos em Lisboa. E quão maravilhosa foi esta nossa partilha em comunidade! Com tempo e disponibilidade para estar, sentir, rir, conversar, observar. Com atenção e dedicação para sermos mais pessoas e possibilitar a este pequeno grupo a riqueza que é a vida que nós temos e escolhemos em nossa casa, a vida em comunidade.

Obrigada! “Com quem estão? Estão comigo.” Sempre!

Ana

A vi(d)a tem a forma da Arte

Viagens pela JMJ, Lisboa 2023

A Via-sacra da JMJ.


Tanto para guardar no coração e trazer para a vida, inteira e única. Começo pela beleza da arte vivida naquele palco e assumida por cada um que assistiu àquela celebração. Quando a Via-sacra começou, já nós havíamos iniciado o nosso caminho de regresso a casa (por questões pastorais, não pudemos ficar o resto dos dias em Lisboa). Foi uma experiência diferente, esta a de ouvir a celebração através do rádio e, assim, imaginando o que estaria a acontecer naquele espaço onde poucas horas antes tínhamos estado. Depois, em casa, vendo na televisão, confirmamos que aquilo que imagináramos ser maravilhoso, era realmente grandioso e impactante.

Nesta Via-Sacra, nada houve que brilhasse por si só. Tudo foi um só porque todos, com todos e por todos, souberam ser luz, presença, comunidade, ação, movimento, entrega. O coro e a orquestra uniram magistralmente todos os momentos, numa suavidade constante e coerente. E aquele doce cântico de Taizé a fazer de forma tão sentida e marcada a passagem das estações. Os magníficos bailarinos do Ensemble 23 foram o tudo em corpo e em alma: irmandade, alegria e dor, caminho, dúvidas e certezas, emoção e, acima de tudo, testemunho. Um testemunho de tudo aquilo que é vivido por cada um de nós, nas nossas circunstâncias, no nosso quotidiano simultaneamente diferente e comum. Toda a encenação da sensibilidade de @matildetrocado foi arte de vida, comunicação de luz, busca sentida de um futuro comum. Os delicados desenhos do pe @nunosj foram caminhos de autenticidade transformadora, impactantes no momento certo, poderosos na mensagem a anunciar, genuínos memoriais daquela vida que não tem fim. Os textos do pe Nuno Tovar de Lemos foram todas as nossas palavras, anseios, perguntas, raízes. E o silêncio. Sempre o silêncio. O silêncio avassalador e, ao mesmo tempo, tão sereno que aquele sem fim de peregrinos foi capaz de fazer porque soube sentir toda a beleza, a harmonia, a conversão. Esta Via-sacra não foi uma mera lembrança emotiva da condenação e morte de Jesus. Esta Via-sacra foi a arte a servir-se da vida toda e toda a vida em forma de arte.

Falar de Alegria

Viagens pela JMJ, Lisboa 2023

Aos pouquinhos, como se estivesse a regressar de uma outra dimensão, vou começando a rever as fotografias que tiramos, vou recolhendo testemunhos dos que viveram esta experiência das JMJ, vou ouvindo em loop a avassaladora “Viagem” do @tiagobettencourt , vou lendo os discursos impactantes do Papa, vou assistindo, em emoção intensa, às gravações das diferentes cerimónias na televisão e anotando todos os detalhes. E assim nestes dias pós-jornadas vou serenando o espírito, fazendo o silêncio necessário para discernir o que é importante, guardando as emoções no sítio certo e da forma correta, ouvindo o que o coração me traz para encontrar as palavras luminosas que possam exprimir, com fidelidade e generosidade, o que estes dias das pré-jornadas e das Jornadas nos ofereceram.

Enquanto estava neste quase recolhimento espiritual, alguém partilhou comigo esta poderosa fotografia e a sua história, que mais não é do que a concretização perfeita do que o Papa Francisco havia dito uns dias antes. Estamos TODOS! E só é possível estarmos TODOS quando TODOS estão. Esta imagem é fortíssima! Comoveu-me profundamente não só a força destes braços amigos que suportam e elevam o jovem Lourenço, mas sobretudo a alegria genuína e gigante deste jovem, um sinal forte da vida e da eternidade que todos nós carregamos. A tal alegria que não é fútil nem acaba quando tem as suas raízes bem alicerçadas no Amor. A alegria que nos traz o Amor destes amigos que nos erguem para lá dos nossos limites e que nos fazem do tamanho do Universo.

Esta ideia da alegria e da necessidade de viver a alegria como tão bem reforçou o nosso Papa trouxe-me à memória um texto do nosso querido Vergílio Ferreira que uma vez utilizamos nuns exercícios de dramatização numa das atividades com os nossos grupos de adolescentes:

“Não te queixes.
Os outros têm já tanto de quê.
Não fales de coisas tristes.
Os outros têm já tanto que chegue.
Não fales em solidão. Todos os outros estão tão sós.
Fala de alegria, da força, de tudo o que nos instaure em imortalidade.
Assenta de uma vez que o homem é imortal.”

Viva a Alegria, aquela que só Ele nos pode dar!

Ana

📷@luisarpinho