Reflexão para o mês de dezembro
“Espera no Senhor. Sê forte e corajoso e espera no Senhor.” (Salmo 27)
Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara
A história da fotografia que acompanha este texto é muito simples. Colónia, Alemanha. JMJ 2005. Em agosto, num dia particularmente quente com temperaturas invulgares para aquela cidade. Durante mais de cinco horas, estivemos na praça em frente à majestosa catedral de Colónia à espera que o Papa Bento XVI chegasse para saudar os peregrinos. As expectativas eram grandes. As horas iam passando, o calor aumentando, as conversas fluíam, os risos intensificavam-se. Estávamos ativamente à espera. Numa espera comunitária, sem pressas nem ansiedades porque sabíamos que o Papa estava a chegar. Quem já fez a experiência de participar numas JMJ sabe que uma das atividades previstas é mesmo esta… estar à espera do Papa! Percorrem-se lugares, escolhem-se os melhores sítios, combinam-se estratégias. Tudo para, simplesmente, ver o Papa. Para quem está de fora deste tipo de eventos religiosos, isto pode parecer algo “estranho” e uma perda de tempo, mas para nós cristãos esta espera é sempre significativa. Esperamos aquele que para nós é o representante de Jesus no meio de nós.
Ao deparar-me de novo com esta fotografia que representa a nossa espera, veio-me à ideia este conceito de espera cristã, conceito este que marca de forma evidente este período que hoje iniciamos – o Advento. O tempo do Advento é, por excelência, o tempo da espera. É o tempo privilegiado da preparação, do cuidado, da atenção. É o tempo do silêncio que fecunda, do olhar que procura a beleza, da paciência que se torna ação. Nestes dias que antecedem o Natal, a função do cristão é essa mesma – a de adventar.
Adventar. Adventar é esperar o que se anuncia, aguardar, com fé e esperança, o que está para vir e ver. Somos pessoas em advento, em preparação, em caminho. A nossa vida é uma espera contínua, daquilo que há de vir, do que há de acontecer, do que viveremos na Terra que nos está prometida para toda a Eternidade.
Muitas vezes, associamos esta espera a algo que nos é difícil de suportar, um vazio que se instala, uma ausência que corrói. Mas o tempo do Advento que nos é dado viver ressignifica esta noção de espera. É este o papel de Deus nas nossas vidas. Dar um novo significado à nossa história, ao que nos acontece. Dar uma nova possibilidade de caminho às nossas inquietações e incompreensões.
Adventar é esperar. E esperar não é passividade, não é impaciência, não é ansiedade. Esperar em Deus é dispormos do tempo propício para a profundidade, para abandonar a superficialidade, o imediato que tantas vezes nos faz viver de forma incompleta. Há uma dinâmica própria na espera cristã que não se enquadra nas dinâmicas deste mundo. Por isso, o esperar de um cristão é, muitas vezes, mal entendido e aceite. Esta espera cristã só é plenamente compreendida na disponibilidade interior e na confiança. Esta espera enche-se da riqueza maior que é Deus que vem até nós. Aquele que nos ama, ele próprio já nos espera. E sabermo-nos esperados por ele dá-nos a paz de que precisamos. Por isso, esta espera cristã fortalece-nos, torna-nos mais comprometidos com a vida que nos vai acontecendo, estimula a nossa criatividade, promove a nossa empatia, alarga-nos horizontes, liberta-nos do peso do que é concreto.
Neste Advento que hoje iniciamos, desafiemo-nos a aprender a esperar mais e melhor. Esperar implica confiança. No que nos espera. Nos que amamos. No desconhecido. No inesperado. No que não controlamos. Mas saber que há um Deus que nos espera é saber que essa espera vem de Deus. A nossa vida faz-se de esperas. A nossa vida está cheia de “adventos”. Precisamos do exercício da espera, escolhendo boicotar a ideologia da pressa, da inquietação, do utilitarismo.
Adventar não é passividade nem desistência. É ação, procura, entendimento. Esperamos na alegria e na vigilância. Esperamos com abertura e disponibilidade.
Na palavra “esperança” encontramos a palavra “espera”. E isto não é um mero acaso linguístico. Quem espera, tem de esperar com esperança. Porque esperar é sempre desejar o que está para vir. Esperar confirma a nossa esperança. Quem espera, alcança porque se deixa acreditar. Num futuro maior, numa alegria multiplicada, num fruto nascido de uma semente planta. Exercitamos a esperança quando escolhemos esperar e, assim, passamos a olhar o presente e o futuro com outra certeza no meio das incertezas.
Advento. Há uma festa que estamos todos a preparar. Uma festa a ser vivida já na antecipação de um nascimento feliz. Diz a sabedoria popular que o melhor da festa é esperar por ela. Pois é este o caminho que nós cristãos somos convidados a percorrer. Adventar. Saber esperar. Saber preparar aquela festa que nasce em mim com o nascimento d’Aquele que faz ser Luz. Adventar. Que saibamos conjugar este verbo nas ações dos nossos dias. Que nos assumamos como cristãos de advento, comprometidos com o caminho, empáticos com os irmãos, anunciadores de esperança.