Integrado na JMJ aconteceu o chamado “Festival da Juventude” constituído por eventos nas áreas da Música, Cinema, Teatro, Dança, Conferências, eventos estes formativos, numa partilha de vivência cristã com os peregrinos de todo o mundo. Destaco aqui duas atividades nas quais participamos e que foram da responsabilidade dos Jesuítas.
Na 4.ª feira, assistimos à conferência “Today’s FAQ’s about Faith and Church” dinamizada pelo sacerdote jesuíta James Martin. Numa igreja repleta de pessoas desejosas de o ouvir, o sacerdote jesuíta foi elencando as questões mais comuns sobre a fé e sobre a Igreja, sobre a importância de trabalharmos as nossas crenças e sobre o papel da comunidade na construção da identidade cristã. O sacerdote terminou a palestra com as seguintes palavras: “Lembrem-se que o convite mais eficaz à crença, à fé, à religião, ao cristianismo, à Igreja Católica e até à oração não é a resposta a uma pergunta, mas a uma pessoa: Jesus Cristo. E a maneira que funciona hoje é fazer com que as pessoas vejam Jesus Cristo em cada um de vós! A vossa própria vida é um instrumento de evangelização.” Sigam o trabalho deste padre jesuíta que tem tido um papel central na construção de pontes de relação.
Na 5.ª feira, na belíssima casa cultural Brotéria, tivemos a oportunidade de assistir ao workshop “Escuta-te em corpo”, orientado pelo padre Paulo Duarte. Durante uma hora, fomos trabalhando a noção de sermos também um corpo, dando especial enlevo à respiração, seguindo as orientações do padre Paulo, ativando em cada um de nós a consciência do presente, a gratidão do aqui e do agora, a perceção das emoções que nos habitam e nos moldam. Conheçam o pe Paulo Duarte que tem feito um trabalho muito fecundo dedicado a esta noção do corpo que somos. Em muitas publicações e outros encontros, este sacerdote jesuíta tem sublinhado que o ser humano é muito mais do que o intelecto e a fé é algo que também se sente a partir do corpo que somos e que, por isso, precisa tanto de ser escutado.
As JMJs são também este espaço de aprendizagem, de observação, de cultura, de pensamento. Que bom é poder assim viver esta Igreja que somos!
O ano de 2023 é sinónimo de Jornadas Mundiais da Juventude. E ser sinónimo de juventude é olhar a vida com alento, com alegria, com ação. A Igreja põe sempre toda a esperança nos jovens e naquilo que eles podem ser. Quem lida com eles e, sobretudo, quem faz parte do seu percurso de educação e formação cristãs, sabe o quão exigente e desafiador é este mesmo caminho. Os tempos vão mudando, as atividades vão-se modificando, outras escolhas vão-se fazendo. O trabalho com jovens, em Igreja, deve ser sempre cuidado, acolhido, amado. Tendo durante muitos anos trabalhado com esta faixa etária, a Comunidade Estrada Clara congratula-se com o facto de ver que os jovens, com os seus sonhos, vontades e percursos, querem, com a sua vida, fazer da vida da Igreja uma Vida Maior. Por isso, foi com muito gosto que participamos no encontro “Colorir a Fé”, a convite das animadoras dos grupos de adolescentes e jovens da nossa paróquia (Matriz). O objetivo deste encontro foi o de sensibilizar os adolescentes e jovens dos grupos para a ligação umbilical existente entre a música e a dimensão religiosa e a forma como ambas se complementam. O encontro foi dividido em “workshops” sobre a relação entre a música e a vivência cristã. Os participantes puderam experimentar instrumentos musicais e praticar o canto e também analisaram e exploraram a ligação entre música e letra em várias canções. A Comunidade Estrada Clara orientou o workshop “Música e Espiritualidade” onde proporcionamos aos adolescentes e jovens um momento de meditação através do silêncio interior de cada um em harmonização com uma música que ouviram, tendo depois partilhado as sensações sentidas. Todos concluíram que a música é um suporte único para a oração, seja ela individual ou comunitária. Através da música que ouvimos em silêncio ou através dos cânticos que entoamos, a nossa oração torna-se mais vivida, mais bela, mais presente. E assim a nossa vida interior vai crescendo. E assim nós vamos vivendo Deus. Um agradecimento carinhoso às animadoras da nossa paróquia e o oferecimento da nossa disponibilidade para continuar a colaborar nestes encontros que são sempre caminho para o desenvolvimento integral de cada cristão.
Workshoop de Trabalhos Manuais sugerido por Beatriz Cruz
Tenho uma amiga que organizou, o ano passado, pela primeira vez, um festival de lavores, a “Lavorada”, onde se apresentaram diversas artes manuais e se conversou sobre o seu papel na nossa vida. Falou-se de bordado, de tricot, de crochet, enfim, daquelas artes que alguns de nós aprenderam com os seus pais ou avós, e outros estão agora a descobrir em tutoriais da internet ou em workshops que se multiplicam.
Este ano ela repetiu a experiência. O ano passado não consegui ir, mas este ano fui. Inscrevi-me no workshop “Iniciação ao tricot”. Não sei nada de tricot… Nunca sonhei fazer tricot…. Fui eu, e uma série de pessoas também decididas a desvendar universos desconhecidos. O ambiente era familiar, e reinava um misto de entusiasmo, boa disposição, curiosidade e muita alegria. Depois de alguma luta com as agulhas, lá fomos acertando na posição das mãos e nos pontos, e o tempo passou rapidamente, entre risos, dúvidas e esclarecimentos, repetições e entusiasmo ao ver surgir alguma coisa que se assemelhava a um trabalho de tricot. Penso que os que estavam naquele espaço tão bonito que é o jardim da Biblioteca Rocha Peixoto, aproveitaram cada momento desse dia maravilhoso. O entusiasmo pela arte aprendida manteve-se ao longo do dia, e não foram poucos os que continuaram a obra começada, mesmo depois de terminado o workshop.
Já passaram uns dias e dou por mim a revisitar esses momentos. É engraçado como uma coisa tão simples, que necessita apenas de duas agulhas, um novelo, e um pouco de paciência, possa ter tanto impacto na minha vida. E esse impacto vai desde uma acrescida autoconfiança, uma alegria serena que me acompanha ainda hoje, uma vontade de aprofundar a arte iniciada, e uma profunda gratidão pela oportunidade que me foi concedida de participar num projeto tão bonito. E ensinou-me a não rejeitar à partida novos desafios. A ultrapassar medos, inseguranças, comodismo e preguiça. Tantos desculpas para ficar parada…
Ao longo dos últimos anos tenho comprovado a importância das artes manuais. Sendo uma pessoa ansiosa, descobri que me acalmavam. A cadência dos movimentos repetidos trazia-me serenidade, paz e lucidez. Descobri, também, que me ensinavam a ser paciente, uma vez que estes projetos, quando bem escolhidos, demoram tempo. Por vezes muito tempo. Mas uma vez terminados, a satisfação que obtemos não se compara a nenhuma outra. Aprendemos a adiar a satisfação, porque vale a pena. Aprendemos a projetar-nos no futuro, porque os resultados demoram a aparecer, e isso ensina-nos a esperança. E ajuda-nos a criar ligações no nosso cérebro, a despertar neurónios, a mantê-lo ativo, inquisidor, enfim, a adiar a degenerescência mental. Isto está largamente documentado e não é difícil comprová-lo.
Vale a pena experimentar coisas novas ou dar uma nova oportunidade a experiências antigas que não correram muito bem. Não devemos ser rígidos nas certezas que guardamos. Lembro-me de, em pequena, não me terem entusiasmado as tentativas da minha mãe para me ensinar a bordar. Pode-se dizer que fui ativamente “do contra”. Em relação ao crochet consegui, inclusive, arrancar a cabeça a uma agulha nas minhas tentativas de aprendizagem. E recordo uma barra em ponto de cruz que as Irmãs me tentaram ensinar no Colégio e que trouxe de lá inacabada. Enfim, tinha a certeza de que esse tipo de trabalhos não era para mim. Descobri-me, nos últimos anos, com uma postura diferente. Mas isso apenas de deveu a ter dado uma nova oportunidade aos trabalhos manuais. A ter aceitado desconstruir memórias antigas. A ter reavaliado e reorientado as minhas ideias e os meus sentimentos. A não ter dado espaço à rigidez, às ideias feitas. A ter moderado a minha teimosia. Para isto tive a ajuda de amigos mais teimosos do que eu. E mais clarividentes.
Acho interessante a curiosidade atual pelos trabalhos manuais. A criatividade na atualização de artes tão antigas. E acho interessante como essa curiosidade acompanha uma crescente curiosidade espiritual. Há uma sede de Deus que se revela na procura de Yoga, de retiros espirituais, na meditação, na procura de locais onde se alcance o bem-estar físico e/ou espiritual, na procura do belo. E este Deus pode ser encontrado também através dos trabalhos manuais.
O Homem é por natureza insatisfeito. Procura o Absoluto. Procura Deus, mesmo não tendo noção disso, e encontra-O sendo co-criador, criador com Deus. Toda a arte manual é uma criação, e o Homem realiza-se na criação, por mais simples que seja. E os trabalhos manuais são uma forma muito simples de sermos criadores, com todo o bem que isso nos traz, a nível físico, mental e espiritual. No ato de criação encontramos Deus, mesmo quando não temos consciência disso. Tornamo-nos mais próximos de Deus pois criamos com Ele. E o lugar do Homem é com Deus, em Deus, pois é Deus que ele procura.