I Semana da Páscoa

Domingo de Páscoa

Tu não morreste. Tu não morrerás!

Há um sepulcro que está vazio. Há um crucificado que ressuscitou. Há um homem que saiu da fatalidade da história, nasce e morre. Há um homem que nos diz que a vida pode ser outra coisa. E é isso que nós estamos a tentar compreender. E, no fundo, o nosso caminho cristão não é outra coisa do que tentar decifrar o mistério, tentar compreender o que é isto, o que é isto para mim, o que significa isto para a minha própria vida.

O mistério da Ressurreição é um mistério que nós temos que tatear dentro do amor. Só se entende dentro do amor. Porque amar é dizer ao outro: tu não morrerás. É este amor, a consciência filial de Jesus, o amor do Pai, esta fidelidade que leva Deus a dizer a Jesus: Tu não morrerás. E é aquilo que leva Deus a dizer a cada um de nós: tu não morrerás. É dentro do amor, é dentro do pacto que é o amor, este amor garantido pelo próprio Deus, que nós entendemos também o significado profundo da Ressurreição.

Sintamos que é isso que Jesus revela a cada um de nós. Esta voz de Deus que diz ao nosso coração: tu não morreste, tu não morrerás. O desânimo, o cansaço, a fatalidade, a desesperança, a desistência, isso não pode triunfar no teu coração. Tu não morreste. Tu não morrerás. Essa é a garantia que Deus nos  dá. Esse levantamento. Essa recusa de um destino de morte.

Queridos Irmãos, celebrar a palavra do Senhor é, por isso, o maior dos compromissos. O nosso comprometimento é, no amor, entender tudo. Descobrir tudo. Perceber tudo. Dentro da lógica do amor. É isso que nós celebramos em Cristo pascal. Tu não morreste, tu não morrerás.

In Homilia do Cardeal José Tolentino Mendonça no Domingo de Páscoa (2014)

Segunda-feira

Esperança para o mundo

Acreditar em Cristo, acreditar na sua presença, mesmo se é uma presença invisível; acreditar que, através do Espírito Santo, Ele age no mundo e habita nos nossos corações é o risco a que a festa da Páscoa nos convida. Então, a ressurreição de Cristo dá um sentido novo à nossa vida e desperta também uma esperança para o mundo.

Esta esperança é extremamente criadora. Sem ela, o desânimo torna-se uma verdadeira tentação para muitos de nós. Ela protege-nos da resignação perante o futuro incerto do mundo e até de toda a criação.

Jesus Cristo,

Tu venceste a morte e, pelo Espírito Santo, estás misteriosamente presente junto de cada um de nós. Tu proteges-nos do desânimo e enche-nos de esperança. Assim, ousemos dizer através da nossa vida: “Cristo ressuscitou!”.

Irmão Alois de Taizé in “Ousar acreditar – a celebração da fé em Taizé”

Terça-feira

Envolvimento

A mensagem da Ressurreição exige de nós muito mais do que o nosso assentimento intelectual, pois, quando é forçado a olhar para o abismo desse mistério, o nosso intelecto sente naturalmente vertigens. Exige de nós um envolvimento ainda mais profundo, algo muito mais fundamental – a nossa aceitação existencial desse acontecimento -, com essa grande verdade de fé.

Acreditar na Ressurreição de Cristo significa outra coisa, muito mais do que a simples aceitação de determinada teoria ou do que assumir como verdade que isso aconteceu realmente. A nossa fé na Ressurreição é confirmada pelo nosso envolvimento nesse acontecimento, pela nossa ressurreição conjunta. Segundo Paulo, nós já fomos ressuscitados com Cristo e, como Cristo ressuscitou dos mortos, também nós vivemos agora uma vida nova.

Tomáš Halík in “Paciência com Deus”

Quarta-feira

Deus só pode amar

Hoje, mais do que nunca, intensifica-se o chamamento a que abramos caminhos de confiança, mesmo nos momentos mais negros da humanidade. Será que nos apercebemos desse chamamento?

Há quem, pelo dom de si mesmo, testemunhe que o ser humano não está condenado ao desespero. A sua perseverança permite-lhes olhar para o futuro com profunda confiança. Não conseguimos vislumbrar através deles, até nas situações mais conturbadas do mundo, sinais de inegável esperança?

Estão atentos à insondável dor dos inocentes. E sabem que nem as desgraças, nem a injustiça da pobreza vêm de Deus. Deus só pode amar. Deus olha para cada ser humano com ternura infinita e profunda compaixão.

A nossa confiança em Deus torna-se percetível quando se exprime através do simples dom de nós mesmos aos outros: antes de mais, é quando é vivida que a fé se torna credível e se comunica.

Irmão Roger de Taizé in “Não pressentes a felicidade?”

Quinta-feira

Se cada cristão fosse outro Cristo

A mensagem cristã assegura que Cristo está em nós e com isso é necessário fazer outro mundo que nada tem a ver com este que estamos a viver. Na estrutura deste mundo, quem acha possível amar os inimigos, dar a outra face quando foi esbofeteado, pensar ser como as aves do céu e os lírios do campo, a olhar para a vida com um olhar inocente e tudo mais que Cristo nos propõe? Não me parece que haja uma quantidade significativa de pessoas que estejam dispostas a esta proposta de despojamento. Mas as palavras de Cristo permanecerão à espera de quem as quiser seguir.

Seguir as palavras de Cristo é meter Cristo em nós e, se não sabemos onde está Deus, Cristo ensina-nos que pode estar dentro de nós. No meio das coisas do mundo seria bom, para nós e para o mundo, se cada cristão fosse outro Cristo.

Ter Cristo em nós, sempre acordado, é uma presença vital que nos qualifica a vida e, mesmo aqueles que não acreditam na divindade de Cristo, devem sentir e saber que uma vida feita à sua imitação nos dá mais luz.

António Alçada Baptista in “A cor dos dias – Memórias e Peregrinações”

Sexta-feira

A nossa criação não terminou

Bendita seja a germinação oculta e empolgante do Espírito, pela qual nos fazes renascer.

Bendito seja o fôlego novo que em cada dia, de forma misteriosa, insuflas em nós, recordando-nos que a nossa criação não está terminada.

Bendita seja a tua fidelidade à nossa história e o modo desassombrado como exortas o nosso coração a não se abandonar às visões inúteis da incerteza, do pessimismo, do cansaço.

Bendita seja a tua palavra que estimula e inspira perenemente os nossos recomeços, porque desse modo nos relanças em vista daquela festa, unânime e fraterna, que o quotidiano é chamado a construir.

Bendito sejas, Deus do nosso ontem, cuja passagem, porém, entrevemos em tantos sinais do tempo presente, limiar dessa revelação maior onde tu serás tudo em todos.

José Tolentino Mendonça in “Rezar de olhos abertos”

Sábado

Deus é maior

Nesta noite de Páscoa, conquistamos um direito fundamental, que não nos será tirado: o direito à esperança. É uma esperança nova, viva, que vem de Deus. Não é mero otimismo, não é uma palmadinha nas costas nem um encorajamento de circunstância, com o aflorar dum sorriso. Não. É um dom do Céu, que não podíamos obter por nós mesmos. Tudo correrá bem: repetimos com tenacidade nestas semanas, agarrando-nos à beleza da nossa humanidade e fazendo subir do coração palavras de encorajamento. Mas, à medida que os dias passam e os medos crescem, até a esperança mais audaz pode desvanecer. A esperança de Jesus é diferente. Coloca no coração a certeza de que Deus sabe transformar tudo em bem, pois até do túmulo faz sair a vida.

O túmulo é o lugar donde, quem entra, não sai. Mas Jesus saiu para nós, ressuscitou para nós, para trazer vida onde havia morte, para começar uma história nova no ponto onde fora colocada uma pedra em cima. Ele, que derrubou a pedra da entrada do túmulo, pode remover as rochas que fecham o coração. Por isso, não cedamos à resignação, não coloquemos uma pedra sobre a esperança. Podemos e devemos esperar, porque Deus é fiel. Não nos deixou sozinhos, visitou-nos: veio a cada uma das nossas situações, no sofrimento, na angústia, na morte. A sua luz iluminou a obscuridade do sepulcro: hoje quer alcançar os cantos mais escuros da vida. Minha irmã, meu irmão, ainda que no coração tenhas sepultado a esperança, não desistas! Deus é maior. A escuridão e a morte não têm a última palavra. Coragem! Com Deus, nada está perdido.

In Homilia do Papa Francisco na Vigília Pascal (abril de 2020)