II Semana da Páscoa

II Domingo de Páscoa

Juntos, ouvimos o inacreditável!

Na Páscoa, somos convidados para uma passagem que parece estar para além de toda a razão humana: da angústia à esperança. Foi uma mulher a primeira a experimentar esta passagem na manhã de Páscoa: Maria de Magdala, que motivou os discípulos de Jesus a vivê-la… e também a nós, no seguimento deles. Ainda não amanheceu. No entanto, Maria já está em movimento. Enquanto ainda está escuro, lá fora e no seu coração, ela sente, talvez confusa, que deve regressar para junto daquele que, um dia, mudou a sua vida. Como primeira testemunha da pedra deslocada para longe da entrada do túmulo, ela corre até Simão Pedro e ao outro discípulo para lhes contar o que viu. Eles, por sua vez, correm para constatar que o que ela disse é verdade, mas depois regressam às suas casas. E Maria, ainda segundo o Evangelho de João, permanece naquele jardim onde o Ressuscitado virá em breve ao seu encontro.

Deixemo-nos tocar também nós pela alegria da ressurreição! Sozinhos não podemos acreditar, é inimaginável. Mas juntos podemos ouvir o inacreditável, que Maria e depois os apóstolos anunciaram no dia de Páscoa: Cristo está vivo! Esta notícia impressionante da manhã da Páscoa é inseparável do que a precedeu: Jesus Cristo desceu às profundezas do sofrimento a fim de abrir um caminho a toda a humanidade para Deus, seu Pai.

Irmão Alois na celebração do Domingo de Páscoa em Taizé (abril de 2021)

Segunda-feira

Jesus

Jesus. Neste nome nos revemos, nele nos desafiamos, nele nos sonhamos. E nele nos amamos. Na história de Jesus, está a nossa vida e a nossa história. Nele olhamos tantas vezes a nossa própria história. Seja na história da vida de Jesus, seja nas histórias que Ele conta. Sim: a vida de Jesus é uma história com final feliz. Dizer Jesus Cristo não é antes de mais enunciar dogmas, mas sim contar uma história, uma experiência, a de um amor que nos atingiu. O amor, portanto. O Deus de Jesus, o nosso Deus, não é alguém que não se conhece, atirado para um céu da transcendência humana, revelado apenas pelas intuições de profetas, mensageiros ou mestres espirituais – importantes, sem dúvida, mas imperfeitas, incompletas. Essa e a primeira originalidade: o Deus de Jesus despiu-se da sua transcendência, revelou-se numa pessoa concreta e fez da humanidade o seu poder, a sua ciência, a sua presença. A originalidade de Jesus e do seu Deus está contida num pedido: “Amai-vos uns aos outros”. Habituados que estamos a ver Deus proclamado com dogmas, verdades absolutas ou, até, utilizado para anátemas de exclusão, somos levados a esquecer que o Deus de Jesus nos pede, apenas, a perfeição da relação humana. A amizade, o amor, a benignidade, a ternura, a compaixão, são, afinal, os nomes para os dogmas deste Deus tão transcendentemente humano.

Jesus é o reflexo da misericórdia de Deus. Nos encontros – com a mulher pecadora, com o cego, com Maria Madalena depois da ressurreição, com os dois discípulos de Emaús -, Jesus revela o seu grande sonho da inclusão de todos. Nas nossas vidas, cometemos muitas vezes o pecado de não saber concretizar esse sonho de Jesus, esse sonho de incluir a todos. Desde os mais próximos aqueles que para nós são o estrangeiro – os que não gostamos tanto, aqueles que marginalizamos por uma razão ou por outra, aqueles que não pensam como nós, os que não fazem ao nosso jeito.. . Descobrir na humanidade das outras pessoas a possibilidade da minha humanidade é o desafio extraordinário a que somos chamados. Por vezes, esse apelo está nos silêncios, está nos gestos, está nos olhares – como terá sido belo o olhar de Jesus para todas as pessoas que o olharam!

António Marujo in “Viragem”

Terça-feira

A felicidade está em dar-se a si mesmo

Se conseguíssemos compreender que se pode ser feliz, mesmo nas horas de escuridão…

Para que a vida seja bela, não é fundamental ter-se capacidades extraordinárias ou grandes facilidades. A felicidade está no dom de si mesmo. O que torna uma vida feliz é a busca da simplicidade: a do coração e a da nossa vida. Quando a simplicidade está intimamente associada à bondade do coração, o homem pode criar um espaço de esperança à sua volta.

Quem avança de começo em começo, constrói uma vida de felicidade. Dia após dia, e até mesmo de noite, iremos à fonte: lá, no fundo, cintila uma água viva.

Irmão Roger de Taizé in “Não pressentes a felicidade?”

Quarta-feira

Um cristão é um buscador

A fé cristã foi, desde os seus começos, uma fé no testemunho de outros. Os discípulos acreditaram em Jesus, no qual reconheceram e ao qual proclamaram Testemunha Fiel. As mulheres acreditaram que o túmulo não era o lugar daquele que estava vivo. Os Apóstolos, depois de certa relutância, acreditaram nas mulheres. E assim começou o caminho dessa proposta de vida que foi conquistando o mundo, proposta assente apenas na palavra de alguns frágeis seres humanos.

A fé cristã, desde o início, é, portanto, uma fé de testemunhas. E ser cristão hoje implica ter uma esperança estranha que se revela justamente quando parece que não há futuro e uma liberdade que culmina na doação da vida. O cristão ama tanto a vida – porque se encontra em profundidade com Aquele que diz que é o caminho, a verdade e a vida – que está disposto a morrer por aquilo em que acredita. E é esta confiança corajosa e alegre que dá sentido ao seu testemunho.

Tudo isto supõe uma fé em Deus que é mistério e é Espírito de criatividade neste universo. Um Deus em quem, por isso, a fé nunca é permanente, definitiva, mas continuamente procurada. Ser cristão é ser um buscador.

Maria Clara Bingemer in “Viver como crentes no mundo em mudança”

Quinta-feira

Uma outra vida

A Ressurreição, a fé na Ressurreição tem de ser o motor de transformação das nossas vidas. Há um antes e um depois da Páscoa. A Páscoa é o limiar de uma Humanidade nova que eu começo a viver em mim, na minha história, na minha vida. Porque Ele ressuscitou, a nossa vida tem de ser uma vida outra, tem de ser uma vida que transporta no seu cerne esta verdade. E que faz de nós, como dizia Pedro e como dizia Jesus, discípulos: faz de nós testemunhas desta verdade.

Com a Páscoa a nossa vida passa a valer mais. Porque nós trazemos na nossa carne, impresso na nossa carne, o relato de uma verdade capaz de mudar e salvar o mundo. Trazemos impresso no nosso coração e na nossa carne, não só a verdade da Cruz, mas a verdade do túmulo vazio, a verdade da manhã de Páscoa. Esta verdade que custa dizer, porque é tão grande, é tão maior do que tudo aquilo que até aqui sabíamos.

Na Páscoa começa uma ciência nova, uma sabedoria nova, uma filosofia nova, uma política nova, uma economia nova, uma religião nova, uma vida familiar nova, uma vida de amor nova. Na Páscoa começa uma Humanidade nova. E nós não podemos não ver, nós não podemos não viver a partir desta verdade, que  fica agora bem presente, bem nítida na nossa história.

É esta responsabilidade que nos é pedida: a responsabilidade de fazermos este caminho interior de aceitarmos o problema, de aceitarmos que seja o Espírito a abrir-nos o entendimento e aceitarmos viver este tempo num regime espiritual intenso. Para que o próprio Deus nos ajude a compreender o que é que Ele quis dizer, o que é que Ele nos quis dizer com a Ressurreição do Seu filho. E depois, nós próprios sermos um povo de testemunho, um povo que é capaz de levar esta boa notícia, esta boa-nova, esta palavra que transforma a vida. Há um túmulo que ficou vazio, porque há um homem que ressuscitou. E a partir desta notícia nós redesenharmos, nós recriarmos, nós reinventarmos a nossa relação com o mundo.

Também a nós acontece andarmos enganados. Atuamos na fé como se Deus estivesse mumificado num passado ou numa determinada representação e esquecemo-nos de que Ele não é um Deus de mortos, mas de vivos. Deus acompanha a nossa vida em cada estação: não é o Deus de ontem, mas sim o de hoje, do agora, que estivermos concretamente a viver.

Não entendemos nada da Ressurreição se a perspetivarmos simplesmente como uma continuação do que já conhecemos, em vez de nos abrirmos à surpresa de Deus. A Ressurreição é uma ação de Deus que expressa a novidade de que Ele é capaz. Temos, sim, de confiar na capacidade que Deus tem de renovar todas as coisas.

José Tolentino Mendonça in “Homilia no III Domingo da Páscoa”

Sexta-feira

A fé na Ressurreição

A fé na Ressurreição e a disponibilidade dos cristãos para darem testemunho da presença e da vitalidade de Cristo recebem a sua força do acontecimento da Ressurreição. A realidade da Ressurreição obriga-me a rever a minha compreensão da realidade e atravessa o horizonte do mundo da minha experiência, penetrando nas profundezas do mistério insondável. A minha própria vida adquire assim uma nova profundidade e um novo significado.

Vã e sem sentido seria a nossa fé na Ressurreição se não passasse de uma opinião ou de uma convicção e não tivesse qualquer influência sobre as nossas vidas, se também nós não tivéssemos sido ressuscitados para uma vida nova. A nossa fé na ressurreição de Jesus é a condição da nossa salvação. Esta fé significa deixar que este acontecimento da Ressurreição de Cristo entre na nossa vida inteira como um poder transformador.

Tomáš Halík in “Paciência com Deus”

Sábado

“Não tenhas medo!”

Celebrar a Páscoa significa voltar a crer que Deus irrompe sem cessar nas nossas vicissitudes, desafiando todos os nossos determinismos uniformizadores e paralisantes. Celebrar a Páscoa significa deixar que Jesus vença aquela atitude negativista que tantas vezes nos cerca procurando sepultar qualquer tipo de esperança.

A pedra do sepulcro desempenhou o seu papel, as mulheres fizeram a sua parte, agora o convite é dirigido mais uma vez a ti e a mim: convite a quebrar os hábitos rotineiros, renovar a nossa vida, as nossas escolhas e a nossa existência; convite que nos é dirigido na situação em que nos encontramos, naquilo que fazemos e somos; com a «quota de poder» que temos. Queremos participar neste anúncio de vida ou ficaremos mudos perante os acontecimentos?

Não está aqui, ressuscitou! E espera por ti na Galileia, convida-te a voltar ao tempo e lugar do primeiro amor, para te dizer: «Não tenhas medo, segue-Me».

In Homilia do Papa Francisco na Vigília Pascal (abril de 2018)