O meu coração

Reflexão para o mês de julho de 2025

“Dar-vos-ei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei um coração de carne.” (do Livro do Profeta Ezequiel)

Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara

No nosso Musical “Jesus é Vida”, a primeira parte do espetáculo acontecia em contexto de grupo de jovens que, desafiados pela professora de História para apresentarem um trabalho sobre uma figura histórica, decidiram escolher falar sobre Jesus. Uma das personagens de seu nome Susana – interpretada pela… Susana! – começa por manifestar muitas dúvidas relativamente àquela escolha feita pelo seu grupo. Num diálogo com outra personagem de seu nome Ana – interpretada por mim… Ana! -, a Susana vai descobrindo que as dúvidas que sentia não tinham a ver com o trabalho que lhes tinha sido proposto, mas sim com a sua própria perspetiva em relação à vida e principalmente com a dificuldade que ela sentia em viver o que os amigos viviam, em acreditar como eles acreditavam, em assumir a verdade que o grupo assumia. Durante a conversa, a minha personagem ia mostrando à Susana que o que a impossibilitava de viver plena e genuinamente aquilo em que dizia acreditar era o simples facto de não se deixar envolver nas atividades do grupo, de não se entregar à vida, de não se deixar encantar pela beleza.

Ao recordar por estes dias este momento do Musical, veio-me à memória a passagem do profeta Ezequiel sobre o coração novo que Deus nos promete. “Dai-vos-ei um coração novo” é uma promessa que toca no mais profundo da nossa identidade. Estas palavras não são apenas poesia ou consolo. São a promessa concreta de uma modificação interior, de um caminho que nos é oferecido, de uma possibilidade de renovação. E por que razão há urgência nesta transformação?

Vivemos tempos de fragmentação, entre o que se deseja ser e o que de facto se é. Vivemos tempos de cansaço. Não tanto um cansaço físico, mas acima de tudo existencial. Há uma fadiga que persiste e que não se cura com descanso, uma espécie de saturação interior que se vai instalando, silenciosa, mas constante. A pressa com que se vive, a desilusão com que nos confrontamos, o peso das notícias que nos chegam a toda a hora, o ruído permanente da desinformação… tudo isto e tanto mais contribuiu para que o nosso coração, esse centro vivo da nossa identidade, vá perdendo a sua sensibilidade. Vamos endurecendo por dentro, vamos erguendo defesas, vamos fechando o nosso olhar. Ao longo da vida, todos nós corremos o risco de permitir que o nosso coração endureça e nos faça viver à defensiva. Tornamo-nos mais racionais, mais pragmáticos, mas simultaneamente mais frios, menos compassivos, menos atentos aos outros. Dentro de nós hospeda-se um coração de pedra. Este coração de pedra é uma metáfora real da nossa condição: um coração que deixou de bater ao ritmo de Deus e passou a viver em função do medo, do orgulho, do egoísmo.

E é precisamente quando este coração de pedra se instala em nós que Deus intervém, não com acusações, mas sempre com uma promessa, não com imposições, mas sempre com uma proposta. Deus não exige que eu me corrija, que me torne melhor sozinho. Ele próprio se oferece, dizendo: “Dar-vos-ei um coração novo”. Não é um remendo. Não é uma versão moralizada. Não é uma mudança superficial. É um coração novo, uma proposta radical e interior. Um coração de carne é um coração vivo, vibrante, capaz de escutar a voz de Deus, de se deixar encantar pela beleza da vida, pela força do Amor. Um coração com sede de justiça, de verdade, de comunhão.

Deus sabe que, por nós mesmos, não conseguimos regenerar o que em nós se quebrou. Por isso, propõe-se Ele próprio realizar essa obra em nós. E é este o coração da mensagem cristã: não estamos sozinhos. Fomos criados para vivermos em aliança com Deus, numa relação de pertença mútua. Quando permitimos que Ele transforme o nosso coração, assumimo-nos filhos de um Pai que nos ama. E pertencer a Deus é encontrar a nossa identidade mais profunda. É saber que temos um lugar nosso, um propósito a cumprir.

Esta promessa que Deus nos faz toca o grande dilema humano: como amar num mundo ferido pela dor? Como manter a doçura quando tudo nos convida ao endurecimento? Como permanecer sensível sem sofrermos com a indiferença? Deus responde-nos com a oferta de um coração novo. Não um coração perfeito, mas um coração que se abre, que se dispõe a que Deus nele habite e o transforme. O verdadeiro milagre não é um coração perfeito, é um coração capaz de mudar, disponível, aberto. Ao prometer-nos um coração novo, Deus convida-nos a recomeçar de dentro para fora. A confiar que é sempre possível sentir de novo, amar de novo, viver com leveza. É um convite à reconciliação com a nossa própria humanidade. E esta promessa não se esgota no passado. Ela é um apelo para o presente. A dureza dos nossos dias, o individualismo e a indiferença exigem homens e mulheres de coração novo. O caminho mais fácil é sempre o do endurecimento. Mas Deus continua a oferecer-nos, todos os dias, este dom magnífico: um coração capaz de recomeçar, de amar, de perdoar, de se entregar.

P.S. No Musical, a personagem Susana acabou por ser dos elementos mais empenhados do seu grupo na realização do trabalho para a escola. Ela foi-se deixando transformar por este coração que Deus lhe ofereceu. E digo “foi-se deixando” precisamente porque este é um trabalho contínuo, de avanços e recuos, de erros e acertos. A Susana continuou com medos e dúvidas, mas assumiu vivê-los com confiança e com a certeza de que Deus habitava no seu novo coração. E, sobretudo, foi escolhendo cuidar deste seu coração em comunidade…

55 anos de TI, Jorge


Conhecendo-te, sei que não querias confusão nem alarido. Se cá estivesses, provavelmente até fugirias da tua própria festa. Preferias sempre celebrar a vida dos que te rodeavam e colocá-los no centro, dar-lhes toda a importância. Mas, hoje somos nós quem te celebramos. Não com uma festa, mas com presença. A tua, que continua viva em cada um de nós.

Celebramos essa mistura só tua — de seriedade e leveza, de fé convicta e timidez desarmante, de sensibilidade pura e calma inquieta.

Celebramos o teu dom de escutar por inteiro. E quando falavas, era para dizer o que era preciso, sem rodeios. Tinhas aquela coragem serena que nos desmontava com uma simples pergunta ou com um silêncio cheio de sentido.

Celebramos a tua teimosia. Teimosia no bem, no acreditar nas pessoas, mesmo quando elas já tinham desistido de si próprias.

Celebramos o teu riso de corpo inteiro, naquele som solto, inesperado, contagiante, salvador.

Celebramos o teu jeito raro de entrar numa sala e ajustar o mundo dois milímetros para melhor, só com o modo como pousavas o casaco, como compunhas as almofadas, como abrias as janelas.

Celebramos a tua vida vivida em verbos contínuos – ir, fazer, pensar, cantar, subir, abraçar, rezar, amar.

Celebramos as sementes que lançaste e que agora florescem em gestos nossos, em escolhas feitas, em dons postos ao descoberto.

Celebramos aquele teu olhar que via sempre mais do que queríamos mostrar. E bastava um “hmm” teu para repensarmos a nossa vida inteira.

Celebramos a tua inteireza espelhada em anos de entrega, de cuidado, de correção com amor, sem medos, sem meias medidas e com uma frontalidade transformadora.

Celebramos a tua vida toda feita no tempo do agora. Nunca foste de “quando tiver tempo”. Tu tinhas. E davas. Sem condições.

Hoje celebramos o teu nascimento e tudo aquilo que tu fizeste nascer dentro de nós. Por isso, este dia também é nosso. E se hoje, por acaso, as lágrimas aparecerem, lembra-te que elas são só a outra face da alegria de termos tido alguém como tu nas nossas vidas…

Obrigado, Jorge – por nos teres sido tanto. E por tudo o que ainda nos és.
A tua vida foi e é o nosso maior presente!

Ana

Um caminho em comunidade

Com imensa alegria e, sobretudo, com o coração cheio de gratidão, preparamo-nos, em comunidade, para fazer uma festa! Amanhã, os nossos treze formandos do quarto grupo da Formação Cristã de Adultos receberão o Sacramento da Confirmação. Destes treze, dois deles serão também batizados e um receberá também o sacramento da Eucaristia. De outubro de 2024 a junho de 2025, às sextas-feiras, das 21h30 às 23h, este grupo fez o seu percurso na descoberta de um Deus que é sempre Amor e presença em cada um de nós, construindo assim o início de uma fé adulta, pensada, concreta, vivida em ações, participada no quotidiano e celebrada em comunidade. Ao longo dos 25 encontros, procuramos dar a conhecer o que significa, nos dias de hoje e no contexto social, ser-se cristão comprometido, esclarecido, com um propósito de vida consciente e com a experiência sempre fundamental da dimensão comunitária.

Por isso, amanhã faremos festa! Celebraremos o percurso cristão da Anair, do Arthur, do Caio, da Carina, do Douglas, da Inês, da Joana, da Márcia, do Pedro, da Roseane, da Serafina, do Sérgio e da Tânia. Agradecemos todas as escolhas que eles fizeram desde o momento em que se decidiram inscrever nesta formação até ao dia de amanhã que marcará, não o fim de uma etapa, mas o início de uma vida mais comprometida e partilhada na Igreja que somos todos nós. Destacamos a disponibilidade, a humildade, a persistência, a motivação e o carinho que estes formandos sempre nos transmitiram em todos os encontros. E somos infinitamente gratas pela possibilidade que nos deram a nós de partilhar com eles a nossa vida enquanto elementos de uma comunidade orante e pensante.

Desejamos que cada um destes nossos queridos formandos continue a sua descoberta e construção como cristãos que são. E, sobretudo, que caminhem em confiança e na confiança deste Deus que está sempre connosco. Eu, a Beatriz e a Sofia, como comunidade e irmandade que somos e onde somos, estaremos sempre onde vocês nos encontraram pela primeira vez – a abrir-vos as portas de uma Igreja que é para todos, todos, todos. Sempre!

Ana

A vida em abundância

Reflexão para o mês de junho de 2025

“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (do Evangelho segundo São João)

Texto de Ana Luísa Marafona, Comunidade Estrada Clara

Há dias, no nosso encontro mensal “Estradas Partilhadas”, começamos a ver “After life”, uma série profundamente filosófica e ao mesmo tempo tão próxima da vida real, repleta de dizeres marcadamente espirituais. Num dos episódios da série, encontramos esta afirmação maravilhosa proferida por uma das personagens: “A felicidade é maravilhosa. É tão maravilhosa que não importa se é nossa ou não”. Ao escutá-la, lembrei-me também de uma das mais famosas frases de Jesus: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. De facto, estas duas frases, quando lidas com atenção do espírito, revelam uma única verdade mística: a verdadeira felicidade e a verdadeira vida não são posse, são presença. São estados de partilha, não de acumulação. São escolhas comuns e não individuais.

A mensagem de Jesus aponta-nos uma vida vivida em abundância, não em termos materiais, mas numa dimensão espiritual, de amor, propósito, sentido e comunhão com o outro. Ele propõe-nos uma existência transbordante de graça, onde o bem e a felicidade não são escassos nem reservados, mas disponíveis a todos que se abrem ao Amor. A verdadeira abundância é aquela que se partilha. É a alegria que se multiplica, é a felicidade que cresce ao ser vivida em comunidade. Por isso, o bem que acontece no outro não nos diminui nunca; pelo contrário, engrandece-nos, acrescenta-nos porque participamos do milagre maior do amor que habita no meio de nós.

A vida em abundância que Jesus nos promete não é medida em posses, em méritos e nem sequer em momentos felizes individuais. A vida em abundância é aquela que, ao ser vivida verdadeira e generosamente, já não se distingue entre o “eu” e o “tu”, mas reconhece-se unicamente no “nós”. Jesus não nos oferece uma promessa de abundância individualista, mas sim de uma realidade onde a felicidade dos outros não é uma ameaça, mas uma extensão da nossa própria essência, pois tudo o que é verdadeiro e bom em qualquer ser humano pertence ao Corpo vivo que somos todos em Deus.

Assumir a felicidade dos outros como contentamento nosso implica um compromisso grande com a vida e um entendimento gigante não só do que é isto que nos acontece antes da morte física, mas também uma compreensão maior do que é saber viver e, como nos diz Jesus, viver em abundância, em plenitude. Esta visão convida a uma superação do ego, onde a felicidade do próximo deixa de ser um espelho daquilo que nos falta, e passa a ser uma manifestação da presença de Deus no mundo. Alegremo-nos, pois, quando outros são felizes, pois estamos a testemunhar essa vida abundante que Cristo veio oferecer. No fundo, amar a felicidade onde quer que ela esteja é já um sinal de que estamos a viver com o coração moldado por esse Amor maior que Jesus veio ensinar. Quando a felicidade de alguém nos toca, mesmo sem ser “nossa”, é a abundância prometida que se revela, silenciosamente, dentro de nós.

Isto desafia o pensamento utilitarista e egocêntrico que impera na sociedade moderna. Mas, se conseguirmos alegrar-nos com a felicidade dos outros, libertamo-nos das amarras da inveja, do ressentimento e da competição. Esta abertura à alegria alheia é uma forma de transcendência – um passo em direção a um amor mais universal. Na prática, isto pode manifestar-se em pequenos momentos: sorrir ao ver uma criança a brincar, emocionar-se com a conquista de um amigo ou sentir paz ao saber que alguém encontrou o seu caminho. A felicidade partilhada, mesmo quando não é nossa, tem o poder de iluminar também o nosso espírito.

Aceitar esta ideia é também um ato de humildade. É reconhecer que não somos o centro do mundo, mas parte de algo maior, onde o bem-estar coletivo importa tanto como o individual. Ao celebrarmos a felicidade dos outros, multiplicamos a luz no mundo – e isso é, por si só, uma forma única de sermos felizes. Ver a felicidade no outro — e deixar que ela nos preencha sem que seja “nossa” — é um sinal de maturidade espiritual profunda. É participar da abundância de Deus, não com as mãos que agarram, mas com o coração que contempla e se alegra. E quando conseguimos olhar para a felicidade de alguém e sentir gratidão — mesmo que estejamos, pessoalmente, em dor — aí tocamos o mistério da cruz e da ressurreição. Amar o bem, mesmo fora de nós, é já um ato redentor. É deixar que a vida abundante de Cristo se manifeste não apenas em nós, mas através de nós.

Muito mais do que procurarmos a nossa felicidade, a vida em abundância é a felicidade que a felicidade dos outros nos traz. É um maravilhamento constante com a beleza, um espanto infinito com a simplicidade que nos sustenta. Esta noção de felicidade trabalha-se, constrói-se, molda-se. Trabalha-se no dia-a-dia da vida. Constrói-se no empenho e na dedicação com que entrelaço os meus propósitos. Molda-se na relação que tenho com os outros e com o Outro. Por isso, procuremos espaços onde possamos exercitar estes desejos. Onde possamos descobrir aquela que é a nossa melhor versão. Onde quem caminha connosco exija, com amor e confiança, o melhor de nós próprios. Peçamos a Deus esta graça de sabermos procurar esta felicidade salvadora. Sejamos gratos quando nos é dada a oportunidade de vivê-la. Confiemos no Espírito Santo para que ele nos faça caminhar nesta estrada de coração aberto e de olhos cheios daquela luz que não se apaga. E não tenhamos medo de escolher, sempre e para sempre, esta vida em abundância.

Esta é a hora do Amor!


Hoje, testemunhamos, com gratidão, a solene inauguração do pontificado de Leão XIV. A celebração, marcada pela imposição do Pálio e do Anel do Pescador, colocou no centro a continuidade apostólica e o compromisso pastoral do novo Papa. Este início é uma semente lançada em terra fértil: não é uma meta gloriosa, mas a humilde oferta da sua vida em serviço contínuo

Leão XIV apresentou-se ao mundo não como soberano, mas como servo. Ele não levantou a sua voz para se afirmar – elevou antes o Evangelho, com a firmeza serena de quem sabe que a autoridade verdadeira nasce exclusivamente do Amor. “Esta é a hora do Amor!”, anunciou o Papa. E quem caminha na estrada da fé sabe bem que o Amor é sempre a hora de Deus.

“Esta é a hora do Amor!” Porque quem vive em Igreja sabe o quanto esta hora é necessária. Todos nós ansiamos por uma Igreja que atualize verdadeiramente o Evangelho, uma Igreja sempre orante e pensante, uma Igreja entregue ao serviço do mundo, desafiada a viver a coerência e a descartar o comodismo e as respostas fáceis.

“Olhem para Cristo e aproximem-se d’Ele.”, propôs-nos hoje o nosso Papa, lembrando-nos que o centro da nossa existência não está em estratégias humanas, mas sim em Cristo vivo, pobre, crucificado e ressuscitado.

“No único Cristo, somos um.” É este o lema episcopal escolhido por Leão XIV. Estas palavras são direção, oração e interpelação. Direção para um mundo confundido pelo egoísmo e pelo poder. Oração no apelo à unidade, à misericórdia, ao encontro. Interpelação para cada cristão assumir a responsabilidade das suas escolhas e fazer das suas vidas um evangelho vivido em cada gesto.

Hoje, no momento em que recebeu o anel do Pescador, foi evidente a emoção do Papa. Uma emoção carregada de gratidão, de responsabilidade, de alegria, de serviço. Quem caminha nesta estrada da fé, sabe que ela está repleta de desafios a que só a confiança em Deus e a esperança cristã sabem dar resposta. Que o Espírito conduza o nosso novo Papa como vento suave, e que a Igreja, sob a sua guia, saiba escutar mais, abraçar mais, amar mais. Pois é no Amor que tudo começa. E é no Amor que tudo se cumpre. E a hora é esta!

Ana

08.maio.2025 – Um Papa escolhido e um terço rezado num dia que é história

Quando no final do mês de abril, ao ser feita a distribuição da orientação da recitação do terço pelos grupos da nossa paróquia, estávamos longe de imaginar que, neste dia em que a Igreja recebe um novo Papa, estaríamos com o coração cheio de alegria e gratidão.

Hoje, sentimos que a nossa oração se entrelaçou com a história. São momentos em que experimentamos aquela alegria diferente que só a esperança cristã traz ao coração. Partilhamos aqui o texto com que iniciámos a recitação do terço de hoje:

“Hoje reunimo-nos em oração num momento de grande alegria e esperança para toda a Igreja: o anúncio do nosso novo Papa. Paz, diálogo, fazer pontes, união, todos… foram as palavras mais repetidas pelo novo sucessor de Pedro. Precisamente no dia em que somos convidados a meditar os mistérios luminosos, iniciemos esta recitação do terço com as palavras proferidas, há momentos, por Leão XIV: “Sem medo, unidos, de mãos dadas com Deus e entre nós, sigamos em frente, somos discípulos de Cristo, Aquele que nos precede. O mundo precisa da sua luz.” O nosso novo Papa invocou também a presença de Maria e numa iniciativa inédita em termos protocolares, ouviu-se “Avé-Maria” naquela praça e, acreditamos também, um pouco por todo o mundo. Como cristãos que somos, sabemos que nada do que vemos, ouvimos e vivemos acontece por mero acaso… Com o coração cheio de esperança, unimo-nos hoje, em oração, pedindo a Maria que acompanhe o Santo Padre na sua missão. Que a sua liderança seja um farol de fé, unidade e caridade para todo o mundo. Rezemos juntos.”

Papa Leão XIV, seguimos juntos nesta Estrada Clara 🌻✨

O lugar onde Deus escolhe

Estamos a horas do início de um novo Conclave. Na capela Sistina, onde a arte toca o mistério, o Céu há-de inclinar-se sobre a Terra. Portas fechadas mas corações abertos. O mundo católico, junto com tantos outros que observam a Igreja com expectativa ou desconfiança, aguardará…

Como Igreja, somos convidados, nestes dias, a viver em comunhão orante. A não olhar de fora, como se fosse um mero espetáculo, mas a contemplar com o coração voltado para Deus. Estamos num ponto de viragem. O próximo Papa herdará uma Igreja em caminho entre tradição e renovação, entre estruturas que resistem e comunidades que avançam, entre a lógica do poder e a lógica do serviço. Por isso, peçamos, em oração, que o Espírito Santo não seja abafado por cálculos geopolíticos ou jogos de influência clerical. Que os cardeais não escolham com medo – medo do mundo, da mudança, das leis. Que não elejam um gestor da estabilidade ou um restaurador da ordem. Que saibam reconhecer o tempo de Deus e responder-lhe com ousadia e confiança.

Como leiga comprometida, rezo por um Papa que saiba acolher todos os batizados. Que confie nas pequenas comunidades, nas mulheres, nos jovens. Que dialogue com as outras confissões, com a ciência, com quem não crê. Que não tema as perguntas nem se esconda nas respostas automáticas. Que diga “não” ao clericalismo e “sim” ao Reino. Que promova uma fé onde há espaço para se ser adulto. Que conduza o seu rebanho pelo caminho do mistério pascal. Que não tenha medo de tocar as feridas do mundo, de abraçar a diferença, de anunciar Cristo com alegria e com a arte.

Por tudo isto, rezo. Não com passividade, mas sempre com esperança ativa. O Conclave é deles, mas o futuro é nosso – de todos os batizados, de todos os homens e mulheres de boa vontade que esperam, de dentro ou de fora, uma Igreja que se mantenha fiel ao Evangelho, ao primeiro Amor. Nestes momentos, confio – e rezo – para que o Espírito conduza esta eleição. Vem, Espírito Santo. Ilumina não só as consciências dos cardeais, mas a coragem de toda a Igreja. Que o novo Pedro seja aquele que Tu já preparaste, aquele com os pés no chão e o coração sempre em Ti.

Ana

Dia da Mãe 2025

Hoje é Dia da Mãe, aquela que foi, desde o nosso início, a nossa primeira casa, o nosso primeiro abrigo, a nossa primeira fortaleza de amor.

Hoje é dia de agradecer a vida das nossas mães nas nossas vidas. As suas escolhas e as suas dúvidas. As suas alegrias e as suas dores. Os seus abraços e as suas exigências. As suas entregas e as suas dificuldades.

Hoje é dia de celebrar a nossa história de amor vivida com as nossas mães em cada dia que nos foi e que nos continua a ser dado para sempre, mesmo quando a separação física se impõe. Somos quem somos porque as nossas mães construíram os nossos alicerces, cuidaram das nossas raízes, fazendo sempre o melhor que os seus corações lhes diziam para fazer por nós, tendo como único guião o do amor imenso por nós. Sempre.

Neste mês de maio, a Igreja lembra diariamente a figura de Maria. Uma mãe como tantas outras mães. Com dúvidas cobertas de amor. Com medos vencidos pela coragem. Com sofrimentos apaziguados com confiança. A maior lição que as mães e os filhos podem aprender de Maria é a do amor que acontece apesar de tudo o que acontece e quando tudo acontece.

Mãe. A palavra maior que canta amor. A palavra que anuncia beijos e abraços apertadinhos. A palavra que faz bater com intensidade o amor que trazemos no coração. A palavra que é um hino ao infinito.

Feliz Dia da Mãe a todos os que são filhos e mães, porque este dia só pode existir porque existe a maior de todas as relações – a do Amor!

Ana

Obrigada, querido Papa Francisco…

Porque soubeste trazer para uma Igreja, tantas vezes adormecida, um caminho novo que nos pede para voltarmos às origens e para saborearmos a simplicidade de uma vida dedicada ao(s) Outro(s).

Porque nos mostraste, em cada dia, a urgência de sermos cristãos de Ressurreição, pessoas em crescimento, em construção de uma fé adulta e sempre alicerçada na esperança.

Porque, como tu próprio afirmaste, te foram “buscar ao fim do mundo” para teres sido tu, ao longo do teu tempo, a mostrar-nos um mundo novo.

Porque viveste o maior dos mandamentos cristãos – o do Amor. Aquele Amor que salva, que acolhe, que acompanha, que nos leva pela mão, que nos faz ser filhos de um Deus Maior.

Porque foste sempre presente, interpelante, apaziguador, atento, perspicaz, orante e pensante.

Porque foste incómodo para quem vive uma fé instalada, confortável e cheia de respostas prontas.

Porque foste um Papa demasiado “moderno” para quem se amarra aos tradicionalismos ocos e desprovidos de sentido e que impedem o olhar para a essencialidade de cada ser humano.

Porque, à semelhança de Maria, soubeste dizer o teu “sim” mesmo não sabendo nada, mas apenas confiando e esperando.

Porque foste construtor de diálogos improváveis, de pontes que são união, de estradas que são autênticas viagens de Emaús.

Porque destruístes preconceitos, julgamentos severos, ideias mesquinhas que só limitam o desenvolvimento integral da Humanidade.

Porque foste um Papa de sorrisos e de afetos, de abraços amigos e de bênçãos calorosas, essas marcas indeléveis de cada cristão.

Porque viveste sem aparato, sem vaidades, sem presunções a contrastar com uma sociedade que parece só viver a partir da exuberância e do exagero.

Porque foste um Papa feliz. “Estou feliz porque me sinto feliz. Deus faz-me feliz.”, disseste numa entrevista recente.

Obrigada, Papa Francisco!

Que privilegiados somos por podermos viver contigo neste mesmo espaço temporal. Mas, acima de tudo, por amarmos e sermos amados pelo mesmo Deus e por nos teres mostrado que em irmandade seremos sempre muito, mas mesmo muito mais felizes!

A tua Luz brilha sempre connosco!

Ana

“Eu desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco.”

21.abril.2025

Querido Papa Francisco,

Habituamo-nos a chamar-te assim porque te soubeste fazer próximo, porque nos mostraste o que é ser abraço em forma humana, porque oferecias sorrisos para enfrentar a frieza que tantas vezes domina este mundo estranho.

Escrevo-te hoje quando acordei com a notícia da tua partida. Agora que já deves saber que escrever ajuda-me a ver a vida e tudo o que nela acontece, terei muito para te dizer ao longo destes dias…

Eis que hoje o mundo parou por um instante. E no meu peito também tudo parou, como se o ar ficasse mais pesado e o tempo mais lento. E mesmo sabendo que o céu hoje te recebe com toda a alegria que mereces, aqui na terra há um silêncio que nos atravessa. Este silêncio que impera, é mais forte do que a agitação natural do dia-a-dia. Mas também este silêncio cria espaço e disponibilidade para ouvir o coração e a razão. Penso no dia de ontem e no que acontece hoje. Tantos sinais da presença deste nosso Deus! Ele só quis o teu regresso à Sua Casa depois de celebrarmos juntos, em família cristã, esse dia maior que foi a Páscoa. Estiveste connosco e abençoaste o mundo! Que belo dia, o de ontem! Festa, luzes, palavras de vida maior, cânticos, palmas, pandeiretas e tantos instrumentos musicais, vozes de júbilo… Tenho a certeza que Ele também estava a ganhar tempo para te preparar uma grande festa como só tu és merecedor. Claro que até o próprio Deus precisava de se inspirar no que de maravilhoso nós os cristãos vivemos ontem!

Hoje, queria dizer-te, antes de mais, obrigada. Obrigada por teres sido Papa com os pés na terra e o coração no Evangelho. Obrigada por nos mostrares que o amor de Deus tem mãos calejadas e que a fé pode cheirar a pão quente, a lágrimas enxutas, a abraço de mãe. Obrigada pela tua voz tantas vezes incómoda para quem não conjuga o verbo amar. Obrigada pela tua vida, verdadeiro hino à misericórdia, à graça, à presença de Deus entre nós. Obrigada por sonhares e edificares uma Igreja pobre para os pobres e aberta como os braços de Jesus na cruz que a todos nos abraça neste momento de dor.

Obrigada!

Um abraço amigo da Ana e da minha irmandade 🌻