“Our boys”

Clara Ferreira Alves na E, revista do Expresso

(…) A culpa é nossa. A desunião e a incapacidade de atacar enleiam as mulheres em Portugal. Não se trata de sermos discriminadas, trata-se de consentirmos em ser discriminadas e concordarmos com a discriminação. No fundo, achamos que não somos capazes, não seremos capazes, não merecemos ser capazes. Consentimos em desaparecer. Sou contra as quotas e a favor do mérito. Nunca consegui nada com base na DSC_4407 (1024x681) (2)quota e não acredito que as mulheres precisem de quotas. Agustina, Sophia, Maria Barroso e Natália Correia nunca precisaram de quotas. As mulheres precisam de autoconfiança e tempo livre, precisam de uma vida intelectual, que a maternidade, a de pendência financeira e a vida doméstica não autorizam. Em Portugal, tem havido um claro retrocesso em matéria de direitos das mulheres e da participação das mulheres na vida pública. No meio dominado por homens como é a política, o acesso está condicionado e representa-se como uma intimidação. As mulheres têm instintivamente medo da ascensão porque sabem que implica um cortejo de insultos e ofensas físicas e morais propagadas por mulheres que odeiam mulheres e por homens que não respeitam as mulheres. As correntes sociais e os seus entusiastas emocionais respiram este ar venenoso. As mulheres são a maioria da população universitária e minoria no poder político, económico, financeiro e social. E não vejo por aí uma mulher política disposta a mudar o estado das coisas.