No início deste mês, um professor de psicologia da Universidade de Princeton (EUA) publicou na conta do Twitter o seu ‘currículo de fracassos’. Joannes Haushofer fê-lo com um objetivo claro: “A maior parte das coisas que tento fazer não vingam, mas esses fracassos costumam ser invisíveis – ao contrário dos sucessos”, explicava o professor. “Percebi que isso dava por vezes a impressão de que a maioria das coisas me corre bem. Mas a verdade é que o mundo é imprevisível, as candidaturas dependem da sorte, e os comités de seleção têm dias maus”, escreveu. O professor de psicologia inspirou-se num artigo divulgado na revista “Nature”, em 2010, da neurobióloga Melanie Stefan, da Universidade de Edimburgo, na Escócia. Ela escrevia na altura: “Há que reparar que o seu currículo de fracassos será seis vezes maior do que o seu currículo normal.” Mas apesar de isso ser “totalmente deprimente à primeira vista, pode ser que inspire um colega seu a esquecer a rejeição ou insucesso, e a começar de novo”.
O tema pode parecer corriqueiro, mas a verdade é que saber enfrentar o erro e aprender a lidar com ele é parte essencial no caminho do sucesso. Os erros escondem oportunidades de crescimento que podem revelar-se essenciais. O psicólogo Paulo Gomes argumenta que ‘os fracassos’ são inevitáveis, mas que “isso é geralmente uma coisa boa!”, “O desenvolvimento raramente acontece em linha reta”, lembra, e a “forma de encarar o erro pode e deve ser trabalhada desde muito cedo”. Cita uma investigação divulgada em abril deste ano na “Psychological Science”, que dá conta que “a crença que as crianças têm sobre se a inteligência é fixa ou maleável é determinada pela visão dos pais sobre o fracasso – e não sobre a inteligência”. Quer isto dizer que há pais que olham para o fracasso como algo intrinsecamente negativo, enquanto outros se focam mais nos resultados e no processo de aprendizagem. “Esse tipo de mentalidade fixa estabelece-nos limites: passamos a evitar as dificuldades e os erros, e fracassos são encarados como catástrofes”, alerta Paulo Gomes. “Ao contrário, tendo uma adequada mentalidade face aos fracassos, podemos ver os erros como oportunidades de aprendizagem, e perceber que são inevitáveis no caminho do sucesso. “É importante, assim, que nos foquemos no processo – e não no resultado final. E “que se falhe muito e muitas vezes, afirma o psicólogo. “Se isso não acontecer, é porque provavelmente, não estamos a tentar a sério, não estamos a correr riscos e a testar os nossos limites.”
Não há ‘homem de sucesso’ que não tenha recebido nove negativas por cada dez iniciativas. O segredo está em ‘aguentar’ até à décima tentativa sem perder o sorriso. Faz parte da vida cair e tornar a levantar. Além disso, lembra Charles Dickens, “cada fracasso ensina ao Homem que tem algo a aprender”. Aprendamos pois, sem medo.
