Nem só de pão vive o homem

índiceManuela Ferreira Leite, Expresso

O recente êxito do futebol português no Campeonato Europeu reuniu um generalizado e consensual sentimento de genuína alegria e orgulho, dificilmente repetível a propósito de qualquer outro sucesso nacional talvez por este desporto ser provavelmente o maior fenómeno mundial de arrastamento de massas. Mas a intensidade da explosão das manifestações ocorridas também se justifica pelas nossas características. Nós temos uma imensa dificuldade em acreditar em nós próprios e nas nossas capacidades e raramente confiamos naqueles que ainda não foram  reconhecidos por terceiros, o que acontece em variados domínios. Qualquer sucesso é sempre uma surpresa, não uma certeza; é um milagre, não o resultado de um árduo trabalho. Assim, os festejos funcionam como uma catarse nacional, libertadora de receios e inseguranças acumuladas que minam a nossa autoestima.

Aprendamos a lição para nos habituarmos a valorizar os talentos e a estimulá-los desde o princípio, porque pior do que nos enganarmos na nossa percepção é desperdiçarmos valores porque não os descobrimos a tempo.

E, já agora, o que mais me incomoda é que nesta cultura do “útil” que nos rodeia, já se comece a ouvir falar do valor económico desta alegria, não sei se mensurável pelos litros de cerveja ou pelo número de comprimidos contra a rouquidão. Deixem-nos festejar sem preço.