Pe. José Tolentino Mendonça, Domingo de Pentecostes, 24 maio 2015
(…) A palavra “espírito”, que o grego traduz por “anemos “, que quer dizer ânimo, como nós utilizamos, mas que quer dizer “vento, sopro”, no hebraico diz-se “néfes”, e néfes é a vida. E o que é a vida? A vida é este sopro vital sem o qual nós não podemos viver. Ora, o sopro vital não é apenas o oxigénio de que nós precisamos para existir neste instante. O sopro vital é este Sopro de Deus de que cada um de nós é objeto para poder ser e ser plenitude. E, por isso, é tão importante tomar consciência da presença do Espírito Santo nas nossas vidas, rezar ao Espírito Santo, pedir que Ele venha, pedir que Ele nos ilumine, pedir a Sua interceção, pedir que Ele permaneça connosco, pedir que Ele nos encha de todos os Seus dons. Porque o Espírito é uno e é múltiplo. O Espírito é fantasioso, é criativo. O Espírito, sendo apenas um só, Ele está em todos de uma maneira única, de uma forma diferente. Ele distribui os carismas, Ele distribui os talentos, as qualidades, as potencialidades, a originalidade do próprio ser. É o Espírito o defensor ao mesmo tempo da unidade e da originalidade. Cada um de nós é um cristão original no Espírito Santo, e traz para a comunidade um dom que é único. Por isso precisamos tomar consciência e pedir ao Espírito Santo que nos renove, que nos recrie.
Aquela expressão que muitas vezes usamos do “desalmado”, ou então do “desanimado”, quer dizer isso muitas vezes, que é o modo como nós vivemos: vivemos sem alma, vivemos sem ânimo. Isso é efetivo, é real nas nossas vidas. Ora, o entusiasmo, o Deus que nos faz dançar, que nos faz ser, que nos enche, que nos dá o fulgor, a intensidade, que nos faz brilhar, é o Espírito. É o Espírito. E, por isso, precisamos acolher o Espírito Santo nas nossas vidas. Uma Igreja conformista, uma Igreja parada, de onde não nasce nada, uma Igreja que vive a satisfazer os mínimos é uma Igreja sem Espírito Santo. É uma Igreja que deixa o Espírito Santo como um estranho, à porta. É o Espírito Santo que acorda em nós a paixão, a vontade, a criatividade para exprimir em novas linguagens, em novas gramáticas o coração da nossa fé.
Em Itália há um mosteiro, o mosteiro de Bose (já tenho falado dele de vez em quando), que é uma comunidade monástica jovem. Eles têm uma parede da qual eu me lembro muitas vezes. Numa parede têm o que eles chamam os nossos pneumatóforos. Pneumatóforo quer dizer condutor do Espírito Santo, aqueles que nos trouxeram o Espírito. Então, os pneumatóforos são os visitantes proféticos que passaram pela comunidade como hóspedes e a desafiaram, a inspiraram a ser. De facto, nós precisamos de nos inspirarmos uns aos outros. Precisamos de ser luz, de desafiar. Quantas vezes nós achamos que ser cristãos é ser condescendentes uns com os outros. É dar palmadinhas nas costas e dizer: “Deixa lá. Afinal, podia ser pior.” Claro que podia ser pior, mas também podia ser muito melhor. Nesse sentido, há um dever de inspirar a vida uns dos outros, de sermos pneumatóforos, de levarmos o Espírito, de abrir horizontes, de apontar estrelas, de levantar os olhos mais longe, de dizer: “Tu és capaz. Tu consegues, no Espírito Santo.” E é assim que nós, irmãos, acordamos e percebemos que o Pentecostes não foi um acontecimento do passado, mas é um acontecimento de presente.
Nós precisamos do Espírito Santo, precisamos que Ele venha, precisamos de contagiarmo-nos uns aos outros com o fogo do Espírito Santo. E se encontramos um irmão/uma irmã mais desanimada, mais cansada, o que nós temos a fazer é de lhe passar o Espírito Santo. Na Igreja das origens os cristãos viviam a impor as mãos uns aos outros. Esse impor as mãos era essa passagem efetiva do Espírito Santo. Ora, com um abraço, com uma palavra, com uma presença, nós também impomos as mãos, nós o que fazemos é passar vida de um coração para o outro.
Queridos irmãos, sejamos bons condutores de vida, desta vida espiritual. Porque sem o Espírito Santo nós somos só o pó, nós somos só a terra, nós somos só o barro, nós somos só isto que se vê daqui, e isto que morre aqui, todos os dias, a todas as horas. É o Espírito que nos torna maiores, é o Espírito que nos projeta. O Espírito Santo é a alavanca da Igreja e é a alavanca da história. O Espírito Santo é o mestre, é o mapa, é o oceano, é a viagem. Por isso, acolhamos o Espírito Santo, neste dia para as nossas vidas, para este momento preciso que cada um de nós está a viver, e que há de ser um momento de traduzir o Espírito Santo de uma forma pessoal e nova nas nossas existências.