Irmão Alois, Valência, terça-feira, 29 de Dezembro de 2015
Ontem à noite, contei-vos como vivi o Natal na Síria. Antes de ir para a Síria, estive no Líbano. O Líbano está inundado de refugiados; quase dois milhões de refugiados para quatro milhões de habitantes.
No Vale de Bekaa, visitámos acampamentos improvisados. Tal como na Síria, fiquei impressionado com a preocupação que todos têm pelas crianças. Num dos acampamentos, os próprios refugiados improvisaram escolas, mesmo para os mais pequenos. Várias vezes ouvi dizer que a educação das crianças era para eles uma prioridade.
Outra prioridade para eles é a de viver em conjunto com a sua diversidade. O Líbano envia-nos esta mensagem: é possível que as diferentes religiões vivam em conjunto. Este país é baseado neste respeito mútuo. Mesmo depois de provações que chegaram até à guerra civil, os Libaneses regressaram sempre a este ideal. Rezemos com eles para que possam continuar.
Hoje, foi proposto a todos que se confiassem à misericórdia de Deus, que permanecerá para sempre uma fonte a jorrar. Ao consagrarmos o próximo ano à procura de modos de viver a misericórdia, juntando-nos assim ao ano da misericórdia lançado pelo Papa Francisco, gostaríamos de descobrir que a Igreja é antes de mais uma comunidade de amor e de perdão. Amanhã, irão aprofundar isto.
Claro, as nossas comunidades, as nossas paróquias, os nossos grupos estão muitas vezes longe de ser o que sonhamos. Mas o Espírito Santo está presente na Igreja e faz-nos avançar sobre o caminho do perdão.
A misericórdia e a compaixão são valores do Evangelho que podem ser resposta para os acontecimentos das nossas sociedades. A misericórdia e a compaixão são capazes de desarmar a espiral de violência entre os seres humanos. Muitos cristãos de todo o mundo dão as suas vidas pela reconciliação e a paz. Na história dos cristãos, muitos mártires apelaram ao amor e ao perdão.
Perdoar é uma palavra que não vem sempre aos nossos lábios. Há mesmo situações em que não somos capazes de perdoar. Mas pelo menos podemos confiar a Cristo aqueles que fazem o mal e dizer, como quando ele estava na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
Para que a Igreja se torne cada vez mais uma comunidade de amor e de reconciliação, nós, cristãos, somos pressionados a encontrar uma resposta para esta pergunta: como mostrar que a unidade é possível, no respeito pelo pluralismo?
Será que sabemos que, como cristãos, temos um dom específico para preparar caminhos da paz e confiança através da terra? Nós somos o Corpo de Cristo e uma comunhão entre os que seguem a Cristo pode tornar-se um sinal credível da reconciliação no meio dos homens.