Irritações

isabel-leal-rsh-2011-230Isabel Leal, psicóloga, CARAS

“Irritamo-nos. Uns muito e muitas vezes e outros só de vez em quando, de forma relativamente discreta. Por vezes até os mais pacíficos e controlados se irritam de forma exuberante e há alguns que vivem em estado de permanente irritação.

Irritamo-nos, dizemos nós, porque vamos tendo muito bons motivos para tal: ele é o trânsito que é sempre caótico e os outros condutores que são distraídos, aselhas ou mal-educados; ele é a nossa equipa favorita que é sempre prejudicada pelos árbitros, ou pelos sorteios ou pelos jornalistas ou pelos dirigentes; ele é a politica que não é séria, que dá abrigo a corriptos, a protetorados de amigos, que não resolve os reais problemas que é suposto resolver; ele é as empresas dos vários serviços básicos que nos dão música em horas infinitas de espera telefónica para tentarmos resolver problemas que não arranjamos; ele é os funcionários, nossos, dos outros, públicos, privados e mistos, que são simpáticos e ineficazes, que são profissionais e lentos, que não são profissionais e são irritantemente descontraídos e encantadores. Ele é o tempo, as esperas, a incivilidade,os imprevistos que não se controla, as pessoas, a ignorância ostentada, as múltiplas disfuncionalidades do dia-a-dia.

Existem sempre razões que podemos invocar para justificar as nossas irritações, mas o facto é que diferentes sujeitos colocados perante os mesmos estímulos reagem de forma muito diferente, o que quer dizer que há um fator individual que joga um papel definitivo nesta coisa da irritação. Ou seja, se irritarmo-nos faz parte do leque de respostas emocionais que todos experimentamos, a variabilidade da frequência e da intensidade com que o fazemos dizem-nos que a irritabilidade não é unicamente função da situação. A irritabilidade é uma característica pessoal que, nalguns casos, convive com reais perturbações de humor em quadros a que chamamos distímicos e, em muitos outros, é apenas um deficiente controlo emocional que pode e deve ser corrigido. Nem que seja porque viver irritado é penoso, cansativo e irritante, até para o próprio.”

foge da ira