escrito por Marisa Varela, S. Tomé e Príncipe, 7.julho.2016
Ao longo destes meses tenho vindo a compreender o mistério e graça da vida comunitária. Sinto que é uma experiência contínua, desafiante e surpreendente. Nem sempre é fácil, nem sempre é difícil. Existem os maus momentos, momentos em que alguém se irrita, alguém discute, alguém fica triste e chora. Mas também existem bons momentos.
Momentos em que enchemos a casa com enormes gargalhadas, dançamos, contamos piadas e fazemos palhaçadas. Momentos em que planeamos (detalhadamente) e vivemos com imenso gosto uma festa de aniversário de alguém da comunidade, tornando esse dia especial e inesquecível para todos. E existem ainda os momentos em que conversamos, rezamos e partilhamos preocupações, alegrias e tristezas.
Viver em comunidade exige esforço. Implica trocar “meu” por “nosso”. Implica trocar “eu” por “nós”. Implica ainda aceitar o outro tal como ele é, e não como eu gostaria que fosse. Através da vivência comunitária tornamo-nos cúmplices e desenvolvemos um espírito de entreajuda. Quando nos apercebemos já nos alegramos com a alegria do outro e choramos as tristezas com o outro.
Nesta missão faço comunidade com seis pessoas: Carina, Carlota, Francisco, Lília, Marta e Sara. Cada um com a sua personalidade e história de vida que marcam as diferenças entre nós. Para uns é essencial garantir um bom stock de lixívia, enquanto outros preferem bagunça à arrumação, existem os dependentes de café e chocolate e ainda os mais “esquisitos” com a comida. Uns são mais críticos, outros mais pacientes. Por vezes brincamos com todas estas diferenças, noutras vezes agradecemos a diversidade e aprendizagens que estas trazem para a nossa comunidade, e noutros momentos julgamos as crenças, ideias e personalidade do outro.
Nesses momentos, em que as questões que nos diferenciam parecem querer afastar-nos…está lá Ele. Constantemente faz-se sentir presente na nossa comunidade, para nos lembrar sempre, de que as nossas diferenças funcionam melhor juntas que separadas, e que juntos até um carro atolado na lama conseguimos tirar.