pe. Tomás Halík, O meu Deus é um Deus ferido
A nossa fé na ressurreição de Cristo baseia-se no depoimento e na atestação das testemunhas, em cuja fileira somos inseridos e convidados, mediante a fé e pela própria graça; tratou-se e trata-se, aqui, não de “testemunhas” oculares (não houve tais testemunhas para o evento da ressurreição), mas dos que estiveram prontos a testemunhar, com a sua vida, que Jesus não pertence apenas ao passado, e que também nós podemos relacionar-nos com Ele como nosso futuro, e que, em cada momento atual, podemos mostrar que também para nós, em nós e por meio de nós, Ele está presente no mundo e está vivo.
No entanto, possuímos este dom somente em “vasos de barro” – também a nossa fé permanece, ao mesmo tempo, como um acto humano, nosso, uma fé peregrina que, durante a nossa peregrinação neste mundo e neste corpo, nunca de todo se pode libertar da penumbra da dúvida, nunca se pode esquivar inteiramente às limitações da nossa razão, da nossa linguagem, da nossa experiência e das nossas representações.
Também o mais ardente amor e anseio deve, neste mundo, tal como o peito de Maria Madalena, ser advertido de que, pelo toque, não se arranca totalmente o véu do mistério para o guardar como objeto de posse. Assim como da claridade e do fulgor do monte Tabor o caminho imediatamente declinava e descia para o vale do quotidiano, até à treva do Getsémani, assim também o encontro com o Ressuscitado, mesmo se ele enche de alegria, não se pode “fixar” e alojar no remanso precioso e inestimável das certezas, entre as convicções firmes e as estimativas deste mundo. Ela é uma certeza de outra qualidade, mais profunda e, ao mesmo tempo, mais subtil e admirável, comparável com uma luz que se deve guardar e proteger num caminho ventoso para que não se apague; nem sequer se pode reter Jesus ressuscitado com a proposta de aqui fazermos “três tendas”. Ele está sempre a caminho, vai para o Pai, é o caminho para Ele – e quer que também nós não fiquemos entorpecidos, mas o acompanhemos e avancemos.