José Tolentino Mendonça, O pequeno caminho das grandes perguntas, Quetzal Editores
Esperar não é uma perda de tempo
Damos por nós hipermodernos, polivalentes, aparelhados de tecnologia como uma central ambulante, multifuncionais mas sempre mais dependentes, perfeccionistas mas sempre insatisfeitos, vivendo as coisas sem poder refletir sobre elas, próximos da atividade extenuante e, no fundo, distantes da criação. Não temos tempo a perder. E, contudo, precisaríamos talvez de dizer a nós próprios, e uns aos outros, que esperar não é necessariamente uma perda de tempo. Muitas vezes é o contrário. É reconhecer o tempo necessário para ser; é tomar o tempo para si, como lugar de maturação, como história reencontrada; é perceber o tempo não apenas como enquadramento, mas como formulação em si mesma significativa.
Quem não aceitar, por exemplo, a impossibilidade de satisfação imediata de um desejo dificilmente saberá o que é um desejo (ou, pelo menos, o que é um grande desejo). Quem não esperar pelas sementes que lançar jamais provará a alegria de vê-las acenderem-se sobre a terra como milagre que nos resgata.