Arquivo mensal: Julho 2020

Solidão

Expresso | António Coimbra de Matos: “Não é fácil amar, mas é bom ...

António Coimbra de Matos, Vária. Existo porque fui amado, Climepsi Editores

Há dois tipos de solidão que é necessário bem discriminar: 1. a solidão objectiva, real e concreta, quando não estamos acompanhados externamente por alguém (o chamado objecto externo); e 2. a solidão subjectiva, interna, quando o espaço interior, psíquico, está vazio de pessoas significativas (os designados objectos internos)

A primeira caracteriza o desamparo ou depressão anaclítica; a segunda, o desânimo ou depressão introjectiva. Ao primeiro sujeito chamamos abandonado; ao segundo, abandónico. No primeiro caso há uma perda do objecto (pessoa significativa); no segundo, uma perda do amor do objecto.

Estar só externamente é triste, aborrecido e perigoso; mas estar só internamente, afectivamente – sem amor – é destruidor da auto-estima, inferiorizante. A solidão interna é muito mais gravosa.

Acresce que, no desenvolvimento e na vida, adquirimos, ou é bom que o consigamos, uma certa capacidade de estarmos sós objectivamente; porém, estarmos sós subjectivamente não seria uma capacidade mas uma anomalia.

Não é bom, todavia, estarmos concretamente sós, sendo, não obstante, bom termos capacidade de estarmos sós – não só porque é necessário para a autonomia, como também nos dá a possibilidade de escolhermos melhor o(s) parceiro(s).

Logo, solidão externa quanto baste; solidão interna o mínimo possível.

Estar realmente só por algum tempo pode ser uma benção; estar afectivamente só é um terrível infortúnio.